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09/Aug/2023

Corredores bioceânicos favorecem o agronegócio

A melhoria da integração física na América do Sul incentivará o desenvolvimento de novas cadeias regionais de valor (exportação de insumos para o Chile e o Paraguai e a agregação de valor), facilitará o desenvolvimento de esquemas privados colaborativos e cooperativos (ganhos de escala, implementação de estratégias comerciais conjuntas, transferência de tecnologia e capacitação de profissionais) e incrementará o comércio intrarregional e internacional. O regionalismo, se promovido por políticas brasileiras, se fortalecerá ante a necessidade de assegurar acesso a uma produção de bens e agrícola. Dentro do contexto de fortalecimento da integração física regional, os corredores bioceânicos, que vêm sendo discutidos há anos, começam a se tornar realidade. Novos eixos de crescimento serão gerados e potencializarão a atividade produtiva.

Os corredores rompem com o isolamento de alguns territórios (Chaco), integram áreas povoadas, mas pouco exploradas comercialmente (Acre e Rondônia, norte do Chile) e revigoram espaços onde a atividade produtiva está apenas latente (Jujuy e Roraima). Os corredores bioceânicos também respondem à nova reconfiguração geoeconômica do Brasil, resultante do processo de desindustrialização e expansão do agronegócio para o interior do País. Como resultado, surgiram cidades com alto poder aquisitivo (Sinop e Sorriso) e cresceram as exportações totais e "per capita" dos denominados "Estados articuladores" (Acre, Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). Nos últimos 15 anos, o intercâmbio comercial do Brasil com a Ásia teve aumento considerável. Hoje, mais de 50% das exportações brasileiras têm como mercado os países asiáticos. Mais de 35% das exportações de produtos agrícolas são destinadas à China. O corredor bioceânico, quando completado, deverá reduzir os custos de transportes para a Ásia pela redução sensível do trajeto que deixaria de ser feito via canal do Panamá ou pelo sul do continente.

Diante da ascensão do continente asiático como novo polo econômico-comercial mundial, a construção de corredores bioceânicos na América do Sul é uma resposta para o deslocamento do eixo da economia mundial do Atlântico Norte para o Pacífico. A promoção dos corredores terrestres bioceânicos deve, portanto, ser vista como um objetivo estratégico. Não só se valorizam os estados articuladores, mas também fortalecem as relações com o Paraguai, Peru, Bolívia, Uruguai, Argentina, Chile, entre outros, e facilitam e aceleram a integração com a economia global. Exemplo concreto é o Corredor Bioceânico de Capricórnio ligando o Brasil (porto de Santos-Campo Grande-Porto Murtinho), Paraguai, Argentina e Portos do Norte do Chile (Iquique e Antofagasta), com a extensão de 2.250 Km. O Corredor estará utilizável com a conclusão das obras da Ponte Carmelo Peralta-Porto Murtinho, no primeiro trimestre de 2025, e o último trecho da Transchaco (220 Km) cujas obras deverão começar no segundo semestre de 2023.

Os governos brasileiro, paraguaio, argentino e chileno já reconhecem essa Rota Bioceânica (ou Corredor Bioceânico de Capricórnio) como uma realidade "tendo passado a instância de projeto", conforme Declaração de Salta, de abril passado. Falta agora concretizar a integração logística e aduaneira para que os produtos brasileiros possam alcançar o mercado asiático pela rota mais direta e rápida pelo Pacífico. Recentemente, a ANTT recebeu pedido de análise para a implantação de trecho ferroviário entre Ponta Porã e Porto Murtinho. Foram, igualmente, iniciados os trâmites para futura integração ferroviária entre Brasil-Bolívia (Corumbá). Os corredores rodoviários bioceânicos e o Porto de Martín Chico, no Uruguai, oferecem alternativas logísticas à tendência de concentração de carga nos portos do Atlântico (Santos e Paranaguá). Quais as vantagens do Corredor Bioceânico? Segundo trabalho produzido pelo ministro João Carlos Parkinson, chefe da Divisão de Integração e Infraestrutura, do Itamaraty, o impacto será amplo e diversificado:

- A Rota Bioceânica não oferecerá apenas uma alternativa mais eficiente e econômica para o transporte de cargas de Campo Grande. Irá promover o multiculturalismo, a internacionalização das empresas e o turismo regional e internacional;

- Representará mudança importante da logística nacional e inserção competitiva de Campo Grande/Mato Grosso do Sul na região e no mercado internacional e promoverá uma nova logística regional (multimodal e transnacional), que atrairá operadores logísticos estrangeiros com avançada tecnologia;

- A redução dos custos logísticos e dos tempos de viagem favorecerá a internacionalização das empresas, a formação de "trading companies" e, indiretamente, melhoram a gestão de estoques e, consequentemente, incentivam a implantação de armazéns e diminuem os custos de armazenagem. Hoje, o déficit de armazenagem chega a quase 100 milhões de toneladas por safra. No Estado de Mato Grosso do Sul, a capacidade de armazenagem da cadeia de frio é de 83.099 m³, situando-se muito abaixo de Goiás (1.391.852m³) e Mato Grosso (1.030.037m³);

- A Rota Bioceânica garantirá melhor acesso aos produtos asiáticos, o que incentivará a criação de um porto seco, de um parque tecnológico, de uma área industrial e do Terminal Intermodal de Campo Grande. Será possível importar insumos (trigo ou componentes eletrônicos) e produzir e distribuir produtos de maior valor agregado para o Centro-Oeste brasileiro e o mercado regional e internacional, com aumento da oferta de produtos comercializados, redução de preços e a geração de novos postos de trabalho;

- Produtos brasileiros, paraguaios, argentinos e chilenos serão exportados para Ásia, Costa Oeste das Américas, Peru, Colômbia e Equador, com maior eficiência e menor custo e tempo. Essa situação favorecerá a integração dos produtores e prestadores de serviços nas cadeias globais e regionais de valor;

- A Rota trará mais investimentos e receita tributária (hotéis, escritórios e fábricas), acelerará a digitalização e a melhoria dos sistemas logísticos, além de modernizar as comunicações (implantação das antenas para o 5G;

- O Corredor obrigará a ampliação da presença de bancos nacionais e estrangeiros, a construção de hotéis de cinco estrelas e a chegada de grupos varejistas internacionais. Vai internacionalizar o ensino universitário e técnico e difundir o estudo de idiomas estrangeiros, bem como modernizar os serviços locais (saúde, educação, apoio profissional ampliado). Campo Grande tende a se tornar importante centro multicultural e financeiro nacional.

- Induzem a abertura de terminais fluviais (5 terminais) e a internacionalização de Porto Murtinho (exportação de grãos e importação de fertilizantes) ou o desenvolvimento de terminais intermodais, zonas industriais e parques tecnológicos (Campo Grande);

- Incentivam a instalação de fibra ótica no interior do estado (empresa chilena Sonda em MS) e a melhoria dos indicadores de velocidade da banda larga (o Brasil apresenta velocidade média de 59,6 Mbps, enquanto a média mundial é 96,6 Mbps).

Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.