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08/Aug/2023

Investimentos estrangeiros crescendo no Brasil

A melhora do cenário para a economia brasileira e o avanço das reformas em Brasília estimularam empresários e investidores estrangeiros a buscarem oportunidades de aquisição de empresas no Brasil. Só nas últimas quatro semanas, negócios bilionários foram destravados com compradores do exterior. A norte-americana Visa comprou a Pismo; a Ferrara Candy Company, de Chicago, arrematou a Dori Alimentos; a porto-riquenha Evertec, listada na Bolsa de Nova York, comprou a Sinqia; e a Vale conseguiu atrair árabes e norte-americanos para vender parte de sua unidade de metais básicos, em um negócio de US$ 3,4 bilhões. Muitos destes investidores estão desembarcando no Brasil pela primeira vez. Os Estados Unidos, com 72 negócios, e o Reino Unido, com 26 transações, são os países que mais investiram no Brasil em 2023 até agora, de acordo com dados da consultoria Transactional Track Record (TTR).

A Ferrara, principal empresa de balas e gomas nos Estados Unidos, está animada para entrar no mercado brasileiro em rápido crescimento. Segundo o escritório de advocacia norte-americano Hughes Hubbard & Reed LLP, investidores estrangeiros estão entrando no Brasil pela primeira vez. É uma mudança, pois isso acontecia há bastante tempo. É o início de um novo ciclo de interesse dos estrangeiros pelo País, especialmente pelos Estados Unidos. A melhora dos negócios, porém, foi mais para o final do primeiro semestre, quando as reformas começaram a andar, as agências de rating reconheceram os avanços e a inflação começou a ceder, possibilitando a primeira queda de juros no País em ritmo até mais forte que muitos economistas esperavam. Os dados semestrais, no entanto, ainda mostram queda das fusões e aquisições (M&As) no período, envolvendo brasileiros e estrangeiros. O número de aquisições de empresas brasileiras por norte-americanas teve uma queda de 45% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2022, segundo a TTR.

Banqueiros em Wall Street também relataram melhora no ritmo de negócios nas últimas semanas. Segundo o Citi, há um forte volume de negócios em potencial devido à demanda reprimida e novas operações começando a surgir na área de M&As. O Citi alertou para a complexidade de se fazer negócios no Brasil, mas ressaltou as oportunidades à frente. O potencial brasileiro segue atraindo os gigantes de Wall Street. Depois de muita especulação sobre a sua vinda para o Brasil, na semana passada, o banco de investimento norte-americano Jefferies anunciou a chegada ao País como parte da estratégia de expansão global. Com US$ 54 bilhões em ativos, o grupo abriu um escritório em São Paulo. Segundo o escritório TozziniFreire, o ambiente de economia mais fraca em países como Estados Unidos estimulou empresários locais a buscarem por negócios no exterior, e o Brasil despontou como um dos preferidos. No segundo trimestre, entraram projetos novos de M&A, ao contrário do começo de 2023, quando muito dos negócios foram de projetos que estavam engavetados desde as eleições.

As operações de M&A que o escritório ajudou a estruturar cresceram 4% no segundo trimestre e 54% das operações no primeiro semestre envolveram estrangeiros, como europeus e norte-americanos. O Itaú BBA percebeu a melhora do apetite do estrangeiro pelo Brasil. Há um maior otimismo nos Estados Unidos com a economia brasileira do que entre os investidores domésticos. Anteriormente, o clima era de mais incerteza, em meio a vários ruídos políticos, pressão do governo para o Banco Central cortar juros e discussão de retrocessos, como declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação a reverter a privatização da Eletrobras e o marco do saneamento. A Hughes Hubbard & Reed LLP continua vendo também o movimento contrário, ou seja, de empresas brasileiras se movimentando para fazer aquisições nos Estados Unidos. Dados TTR mostra que, no primeiro semestre, as empresas brasileiras escolheram os Estados Unidos como principal destino de investimento, com 15 transações e um total de R$ 1,2 bilhão. De fato, a diminuição dos ruídos políticos no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um ambiente macroeconômico mais favorável aumentaram o interesse do investidor estrangeiro pelo Brasil.

Gigantes internacionais como Pimco, BlackRock, UBS e Citi têm adotado uma postura otimista com o País, o que ajuda na atração de fluxo externo. Mas, para que, de fato, o estrangeiro volte a ter uma presença mais parruda no Brasil, as reformas têm de andar. O início do corte de juros pelo Banco Central também deve ajudar a impulsionar os ativos domésticos e, em especial, as ações. A participação do Brasil no índice de ações MSCI Emerging Markets (MSCI EM), um dos principais referenciais internacionais para investidores, voltou a crescer depois da queda no início do ano e que impactou o peso das Américas. Na versão mais recente do índice, foi a 5,54%, contra 5,00% na anterior. Apesar da melhora, a participação do Brasil ainda está longe dos tempos áureos. Em meados de 2010, o Brasil chegou a ter uma fatia de 17% do MSCI EM, quando o País ainda estava classificado como grau de investimento e era visto como um dos queridinhos dos investidores globais entre os mercados emergentes.

Com gestores internacionais 'overweight' (com visão acima das expectativas) para Brasil e o momento ainda positivo das commodities, os ativos domésticos têm vivenciado um rali neste ano. O Ibovespa subiu 3,27% em julho e acumula alta de cerca de 11% em 2023, perto dos 122 mil pontos. O dólar à vista fechou o mês com queda de 1,25%, mas, em 2023, as perdas passam de 10%. Depois de sofrerem por comentários negativos sobre inflação e a agenda fiscal do governo, o impressionante desempenho superior dos preços dos ativos brasileiros está correlacionado à queda do prêmio de risco fiscal no Brasil, diz a Pimco. O Credit Default Swap (CDS) de 5 anos do Brasil, termômetro do risco-País, foi a 162 pontos, o nível mais baixo desde junho de 2021, quando estava em 160 pontos. O indicador tem apresentado melhora nos últimos meses em meio ao avanço de reformas no governo Lula, como a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária, que já passou pelo crivo da Câmara dos Deputados.

O mais recente impulso para a melhora na percepção do risco-País foi a elevação do rating do Brasil, de 'BB-' para 'BB' pela Fitch. Antes, a rival S&P já havia melhorado a perspectiva para a nota do País, de estável para positiva. O movimento das maiores agências de classificação de risco, que foi seguido por menores como Austin Rating e DBRS Morningstar, trouxe de volta a expectativa de o Brasil poder vislumbrar novamente o grau de investimento. Para gestores e economistas internacionais, o caminho à frente é desafiador. É uma estrada longa ainda até obter o grau de investimento e vai requerer reformas macroeconômicas e microeconômicas, um marco regulatório que incentive o investimento e o aumento da produtividade. Para o Goldman Sachs, a reforma mais importante e que ainda não foi endereçada é a administrativa, para cortar gastos públicos. Além dos desafios domésticos, pesa ainda o contexto internacional em meio ao aperto monetário para controlar a inflação que subiu e se enraizou nas economias globais após a Covid-19.

A América Latina iniciou o movimento contrário, de relaxamento. Enquanto isso, os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa deixaram as portas abertas para novo aumento neste ano, a depender dos futuros dados de suas respectivas economias, mas não consideram cortes no curto prazo. Para o Citi, o maior desafio no Brasil provavelmente nem é o Brasil. É mais o fato de que os mercados financeiros globais permanecem muito apertados. Portanto, não há muito dinheiro circulando. Para se sobressair, os países emergentes, têm de apresentar uma história melhor do que a contada quando há maior liquidez global. Não só no Brasil, mas em qualquer mercado emergente, o investidor está procurando por estabilidade política, independência do banco central e a capacidade do governo entregar promessas. As ações brasileiras são um ponto de entrada bastante atraente visto que o mercado se recuperou, mas ainda está abaixo das médias históricas de longo prazo. Os estrangeiros têm demonstrado mais apetite que os investidores locais. Em julho, a Bolsa recebeu a entrada de cerca R$ 5,8 bilhões e no ano está positivo em R$ 22 bilhões.

Por sua vez, o Bank of America alerta que os fundos de ações locais amargaram saídas de R$ 400 milhões nas últimas quatro semanas, cifra que sobe para R$ 1,4 bilhão no acumulado do ano. Para o Western Asset, a visão do estrangeiro é positiva para emergentes. Esses países anteciparam o aumento de juros e conseguiram controlar a inflação e manter suas economias mesmo com o Fed subindo juros. Na visão da UBS Global Wealth Management (UBS GWM), braço de grandes fortunas do banco suíço, o corte de juros é essencial para saber se a fotografia atual do mercado acionário brasileiro pode ser sustentável à frente. A Pimco vê o Brasil com chances de ser uma "estrela em ascensão" nos mercados emergentes, mas diz que a implementação do novo arcabouço fiscal e a aprovação completa da reforma tributária são essenciais para os preços dos ativos brasileiros darem um passo além. É preciso a validação da agenda fiscal, a agenda do governo, especialmente em relação ao aumento de receita atendendo aos objetivos fiscais, para que os preços dos ativos brasileiros sejam validados. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.