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03/Aug/2023

El Niño: perspectivas para o Brasil em 2023/2024

O El Niño é um fenômeno climático da atmosfera oceânica em larga escala ligado a um aquecimento periódico nas temperaturas da superfície do mar no Oceano Pacífico, influenciado por mudanças no fluxo das correntes de vento planetárias. Este fenômeno, também chamado tecnicamente de El Niño/Oscilação do Sul (ENSO), é monitorado desde o norte da Austrália até a costa do Equador na América do Sul e dividido em 4 setores. O Centro de Previsão Climática do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NOAA) cataloga o início de um episódio do El Niño quando a temperatura média da superfície do mar por 3 meses consecutivos aumenta 0,5°C na região denominada Niño 3.4 do Pacífico equatorial e o Super El Niño quando excede 1,5°C.

O El Niño atua reforçando o calor no verão e tornando o inverno menos rigoroso. O ar se torna mais seco e passa a circular para baixo, o que dificulta a formação de chuvas e está associado a maiores períodos de secas em regiões onde não são usuais. O fenômeno pode produzir secas extremas em algumas regiões e em outras ele apenas apresenta maiores temperaturas, ao mesmo tempo que podem ter chuvas torrenciais em algumas zonas. Ainda assim com todas essas variações climáticas, não é de todo certo que o El Niño seja um fenômeno ruim de forma geral. Na verdade, o que ele provoca é uma certa “bagunça climática” pelo fato que as variáveis climáticas de chuva, temperatura e radiação solar vão estar acima ou abaixo da média histórica em grande parte do globo.

Regiões que historicamente sofrem por falta de chuvas podem se beneficiar na próxima safra. O inverno tende a ser mais ameno. Os países da América do Sul são mais afetados pela região do El Niño 1+2, diferente da América do Norte. No caso do Brasil, por ser um país continental de grande extensão, terá diferentes alterações no clima ao longo de seu território, regiões tendem a se beneficiar e outras precisam se preparar melhor para as culturas a serem implantadas no segundo semestre de 2023. Cabe ressaltar que regiões de Cerrado brasileiro possuem condições diferentes.

Região Norte: redução das chuvas na região amazônica, favorecendo a formação de algumas estiagens cíclicas e intensificando a proliferação de queimadas.

Região Nordeste: no litoral, aumento da intensidade e frequência de chuvas, já no interior dos Estados se espera temperaturas acima da média na região semiárida.

Região Centro-Oeste: mudanças no padrão de chuvas, encurtando sua frequência. Maior risco de ocorrência de alternância entre chuvas fortes e veranicos prolongados. As primeiras chuvas na época do início da safra do verão (1ª safra 2023/2024) não devem ser suficientes para as plantações. No caso das chuvas fortes, é recomendável implementar ações que mitiguem a erosão dos solos e para reduzir os riscos dos veranicos podem ser utilizadas cultivares de ciclo intermediário. A temperatura vai aumentar acima da média, o que favorece as queimadas na região, sendo o maior risco para o andamento da qualidade da safra.

Região Sudeste: o regime de chuvas vai ter mudanças no padrão, reduzindo sua frequência e intensidade. Alta probabilidade de alternância entre chuvas fortes e veranicos mais prolongados que a média dos anos anteriores. Chuvas na época de início da safra de verão (1ª safra 2023/2024) não devem ser suficientes para garantir o início das plantações. Deve-se esperar uma sequência de várias chuvas fortes para dar início à plantação da safra.

Região Sul: aumento da frequência e intensificação de chuvas torrenciais, acima das médias históricas entre os meses de agosto e outubro. Maior probabilidade de problemas de erosão nos solos aráveis e aumento dos rios nas bacias hidrográficas, dar maior atenção a labores agrícolas que mitiguem os efeitos. A Região Sul vai experimentar excesso de umidade que atrapalha culturas de inverno como o trigo, aumentando a intensidade de doenças, colheita, início do plantio da safra de verão (1ª safra 2023/2024) e o bom andamento da qualidade das pastagens. Em agosto e setembro, existe a possibilidade de ter períodos curtos de frios mais intensos causados por massas de ar polar.

A ocorrência da variação climática já está admitida. Há expectativa dos especialistas é que tão forte será e que possa até mesmo se configurar em um Super El Niño. A confirmação do El Niño no segundo semestres de 2023 e primeiro de 2024 está com >95% de probabilidade de ocorrência. Segundo o NOAA, as chances dele se tornar um evento forte tipo Super El Niño são de 56%, enquanto ser um fenômeno moderado são de aproximadamente 84%. A estimativa é que seja um fenômeno curto com maior intensidade nos meses de agosto de 2023 a fevereiro de 2024. Para o milho, na média de produção da safra de verão (1ª safra 2023/2024), em termos gerais, vai ter bom desenvolvimento nas zonas do sul da Região Centro-Oeste e o norte da Região Sudeste. A probabilidade de ter uma super safra é reduzida.

Para a soja, se espera maiores efeitos por atravessar período em que a influência do El Niño é mais notória. O clima deve reduzir o potencial de produção dos cultivares no norte da Região Centro-Oeste e sul da Região Sudeste. Os Estados Unidos vão ter maiores problemas em relação ao Brasil nas safras de soja e milho 2023/2024. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os efeitos do El Niño podem reduzir a produção de 5% a 10%, mas alguns especialistas acreditam que pode ser ainda maior. Por outro lado, a Argentina conseguirá recuperar parte das perdas da atual quebra de safra que já está na ordem de 43%. Outros países como Paraguai podem se beneficiar.

O USDA aponta que a oferta global em 2023 pode superar a demanda, o que elevaria a relação estoque final/demanda total de 27,8% para 31,9%, a maior em cinco safras. Para mitigar os efeitos do El Niño, pode-se implementar estratégias de prevenção antes que eventos extremos possam acontecer nas regiões, como o correto preparo de solo com técnicas que evitem a erosão, manutenção dos canais de drenagem, assessoria nas variedades de ciclo intermediário, adaptadas nas regiões antes mencionadas, maior atenção no controle de doenças e distribuição parcelada da fertilização na medida do possível. Um correto planejamento dentro e fora da porteira sempre é bem-visto e o auxílio de profissionais na hora de encontrar o melhor momento para comprar e vender a produção e os insumos são vitais. Fonte: Agromove. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.