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27/Jul/2023

Selic: mercado dividido sobre magnitude do corte

Anunciada a uma semana do aguardado início do ciclo de afrouxamento monetário, a melhora na classificação do risco de crédito do Brasil pela Fitch reforçou apostas no mercado de corte de 0,5% da Selic. Não há, porém, consenso, porque os apelos por parcimônia na comunicação do Banco Central (BC) mantêm a possibilidade de um movimento mais conservador, com redução dos juros de referência em apenas 0,25% na próxima quarta-feira (02/08). Apesar disso, a perspectiva de um câmbio mais comportado, dado o atestado de que o Brasil se tornou um país menos arriscado a credores, ajudou a reforçar as expectativas por maior agressividade do Banco Central, que já vinham ganhando força após a deflação mostrada pelos índices de preços ao consumidor desde o mês passado. Também colocou uma dúvida em quem prevê maior cautela da autoridade monetária. No Goldman Sachs, por exemplo, o corte de 0,25% ainda é a previsão oficial.

Mas, o Goldman Sachs entende que a decisão da Fitch tem potencial de abrir margem a um Banco Central menos conservador já em agosto se atingir os preços dos ativos financeiros, e a depender da reação do mercado à decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos). Se o câmbio apreciar, o prêmio de risco diminuir e a combinação de outros fatores, inclusive da decisão bastante importante do Fed, fizer preço, se melhorar as expectativas de inflação, pode ser que o Banco Central até se anime a começar esse ciclo de corte com 0,50%. Na equipe econômica do governo, como não podia ser diferente, a notícia foi comemorada. Para o Tesouro Nacional, a elevação do rating vai ajudar na redução da curva de juros e no trabalho do Banco Central. Cada passo é um avanço, é um legado, mudar um grau vai reduzir nossa curva de juros, vai apoiar o Banco Central, vai apoiar a ancoragem das expectativas e vai atrair capital externo para o Brasil. O objetivo é recuperar o grau de investimento até 2026.

A G5 Partners assinalou que a mudança de rating, combinada à desaceleração da inflação subjacente observada no IPCA-15 de julho, aumenta a chance de a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) terminar com a Selic a 13,25%. Atualmente, a taxa está em 13,75% ao ano. No entanto, foi mantida a projeção de um corte mais brando, de 0,25%, devido às últimas comunicações do Banco Central, que deu uma indicação de que quer começar em ritmo mais parcimonioso, e há um dissenso, uma ala do Copom que nem queria começar a cortar os juros em agosto. Na avaliação do Grupo Laatus, a decisão da Fitch, após a mudança na perspectiva do rating do Brasil pela S&P Global, tende a aumentar ainda mais a pressão política sobre o Copom. A elevação do rating reforçou a expectativa de redução de 0,5% na Selic em agosto.

Vários motivos levaram ao upgrade, como a melhora na trajetória da dívida, a política monetária prudente e o crescimento econômico resiliente. É mais um elemento que se soma aos outros que estão na mesa do Banco Central para a reunião do Copom na semana que vem. A opinião, no entanto, não é unânime. Para a Oriz Partners, com o grau de investimento distante, a mudança de rating não deve alterar radicalmente o cenário de apetite do investidor estrangeiro por ativos brasileiros no segundo semestre. Da mesma forma, o aumento da nota não deve ter consequências sobre a decisão do Copom na quarta-feira (02/08), para a qual espera corte inicial de 25 pontos-base. A mudança no grau de investimento não tem nenhuma consequência direta do ponto de vista da convergência da inflação para a meta. Numa linha de pensamento parecida, a ASA Investments demonstrou ceticismo sobre a capacidade do Brasil de retomar até 2026, quando termina o atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o selo de bom pagador conferido pelas agências de rating.

Chama a atenção a Fitch ter melhorado o rating soberano com base em reformas ainda não aprovadas. A referência é ao arcabouço fiscal, que voltou para a Câmara, e à reforma tributária, que está no Senado. Isso significa que a agência já "gastou" as duas reformas no upgrade deste quarta-feira (26/07), de modo que novas elevações da nota devem depender de novas reformas. Só que não existem propostas de reforma do Executivo com a relevância dessas duas. Sendo assim, e considerando a incerteza de geração de superávit nas contas primárias na magnitude e prazo prometidos pela equipe econômica (1% do Produto Interno Bruto até 2026), não há razão para otimismo quanto a uma sequência rápida de revisões para cima das notas conferidas ao Brasil pelas agências de rating. Na avaliação da Truxt Investimentos, a mudança do rating em si é pouco relevante para definir o tamanho da queda de juros em agosto, mas reflete uma combinação de dados que já estava presente para que o Copom possa iniciar o ciclo com um corte de 0,50%.

Dentre os fatores, pode-se citar a inflação com queda disseminada, o que permite um ciclo de queda de juros significativo, e a sinalização de política fiscal não tão expansionista como se temia no início do governo Lula. Para a Tendências Consultoria, a decisão da Fitch não deve ter influência sobre a decisão do Copom, que deve continuar focado na dinâmica inflacionária interna e nos dados de atividade, para entender melhor a situação do hiato do produto. Em virtude da cautela e da comunicação mantida até o momento, um corte inicial de 0,25% é mais provável, embora os últimos dados autorizem o início em 0,50%. Talvez o Banco Central queira ter uma maior confiança nessa melhora do quadro inflacionário, deixando a aceleração do ritmo para setembro. A mudança de rating tem mais relevância quando é para grau de investimento, com aumento do número de estrangeiros que passam a poder investir no País, com efeito importante sobre o câmbio.

No Copom, a decisão deve ser dividida, em virtude das opiniões diferentes sobre o processo de desinflação, mas a maioria deve optar por corte de 0,25%. A reação modesta do mercado à decisão da agência de classificação de risco indica que a importância dada pelo Copom ao fato não deve ser grande. Contudo, o efeito sobre os ativos brasileiros pode ter sido limitado pela cautela pré-Fed e pelos dados piores do que o esperado do setor externo em junho. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que será difícil a Selic fechar 2023 abaixo dos dois dígitos, mas espera uma redução mínima do atual patamar de 13,75% ao ano para 12%. O governo já estudou de tudo para derrubar os juros e que ao menos 70% do mercado precifica uma queda de 0,5% na Selic na próxima reunião do Copom. O País precisaria de 8 reuniões do Copom para promover 8 reduções de 0,5% da Selic para chegar na taxa de juros do México.

A inflação dos últimos 12 meses está abaixo de 3,2%, mesmo com a reoneração dos combustíveis. A projeção para 2023 é inferior a 5%. O ministro também lembrou que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que inflação de 2022 foi baixa devido a desoneração de combustíveis e que a reoneração não impactou o indicador. O problema da inflação em queda e Selic estacionada em 13,75% foi a escalada da taxa real de juros. Para o ministro, o espaço de queda de juros vai ajudar o fiscal. Já a melhoria do aspecto fiscal, influenciará novas reduções dos juros. Haddad rechaçou que a indicação de Gabriel Galípolo e Ailton Aquino para a diretoria do Banco Central tivesse como objetivo a formação de uma “bancada” do Copom. Ele fez uma comparação e disse que assim como o governo melhorou a relação com o Judiciário e Legislativo, também almeja o mesmo com o Banco Central. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.