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21/Jul/2023

EUA: lei climática favorece empresas estrangeiras

A lei dos Estados Unidos para o clima, aprovada em 2022, desencadeou uma onda de subsídios governamentais para incentivar o país a construir indústrias de energia limpa. As maiores beneficiárias até o momento são empresas estrangeiras. A também chamada de Lei de Redução da Inflação (IRA) impulsionou quase US$ 110 bilhões em projetos de energia limpa nos Estados Unidos desde que foi aprovada, há quase um ano. Empresas com sede no exterior, principalmente na Coreia do Sul, Japão e China, estão envolvidas em projetos que respondem por mais de 60% desses investimentos. Quinze dos vinte maiores investimentos, quase todos em fábricas de baterias, envolvem empresas estrangeiras. Estas indústrias estrangeiras poderão reivindicar bilhões de dólares em créditos fiscais, o que as posiciona entre as maiores vencedoras da lei climática. Os créditos normalmente estão atrelados ao volume de produção, premiando os maiores investidores.

A japonesa Panasonic, uma das poucas empresas a estimar abertamente o impacto da lei, pode ganhar mais de US$ 2 bilhões em créditos fiscais por ano com base na capacidade das fábricas de baterias já em operação ou em construção nos estados de Nevada e Kansas. A empresa, que fornece baterias para a fabricante de carros elétricos Tesla, avalia a construção de uma terceira fábrica nos Estados Unidos. A lei do clima destina-se a construir cadeias de produção domésticas para indústrias de energia verde, mas a realidade é que a tecnologia para construir baterias e equipamentos de energia renovável está no exterior. Os incentivos levam as empresas a investirem nos Estados Unidos, muitas vezes em conjunto com companhias locais. Para o banco de investimento Jefferies, isto é uma prova do fato de que a economia ainda é globalizada. Não se pode simplesmente estabelecer fronteiras e dizer: 'Tem que ser feito nos Estados Unidos por empresas norte-americanas'.

O WSJ analisou cerca de 210 projetos de energia limpa e iniciativas de empresas estimuladas pela lei, incluindo alguns acompanhados pelos grupos industriais American Clean Power e E2 (Environmental Entrepreneurs); comunicados de empresas, governos estaduais e municipais, além de reportagens publicadas na imprensa. Desses, cerca de 140 informaram valores de investimento que totalizam cerca de US$ 110 bilhões. Os projetos foram classificados como empreendimentos totalmente norte-americanos ou estrangeiros, se as empresas estrangeiras estivessem contribuindo com investimentos ou tecnologia significativas. Instalações de energia renovável e projetos já em andamento antes da aprovação da lei não foram incluídos. Analistas estimam que a lei do clima pode destravar cerca de US$ 3 trilhões em investimentos em energia limpa na próxima década. Empresas norte-americanas também vêm investindo pesadamente, a exemplo da Tesla, a fabricante de painéis solares First Solar e a produtora de hidrogênio Air Products and Chemicals.

Cadeias completas de fornecimento domésticas para baterias ou painéis solares ainda estão a anos de distância, porque as empresas estrangeiras dominam quase todas as etapas do processo, desde matérias-primas até peças sofisticadas. Grandes investimentos por parte de empresas estrangeiras sempre foram bem-vindos pelas comunidades dos Estados Unidos, que se beneficiam há décadas com empregos criados por montadoras estrangeiras, entre outras. No entanto, investimentos de empresas chinesas alimentam uma reação à medida que aumentam as tensões entre os dois países. Pelo menos 10 dos projetos que representam quase US$ 8 bilhões em investimentos incluídos na análise do WSJ envolvem empresas com sede na China ou com laços significativos com o país por meio de operações próprias ou grandes investidores. Alguns deles enfrentam resistência, como é o caso de dois projetos em Michigan: uma fábrica de baterias de US$ 3,5 bilhões em construção pela Ford, com tecnologia e expertise da chinesa CATL; e uma fábrica de componentes de bateria de US$ 2,4 bilhões da chinesa Gotion.

A Ford mantém 100% da propriedade da fábrica de baterias, em parte para contornar a questão dos recursos públicos para a CATL, segundo uma fonte com conhecimento do negócio. A Ford está licenciando o know-how e os serviços de fabricação de baterias da CATL. Mas, os críticos da China argumentam que os pagamentos da Ford à CATL significam que a empresa chinesa obtém benefícios indiretos do apoio do governo dos Estados Unidos. O que se vê é um conflito de política externa com política climática e política comercial. Os Estados Unidos terão que decidir como país o que importa mais: a inimizade com a China ou o desejo de descarbonizar rapidamente. A Microvast, startup que planejava construir uma fábrica de componentes para baterias de mais de US$ 500 milhões em Kentucky, foi apontada como potencial beneficiária de US$ 200 milhões do Departamento de Energia no ano passado. Posteriormente, o departamento recusou o pedido.

A medida recebeu críticas dos republicanos sobre os vínculos da empresa com a China, que incluem uma subsidiária chinesa que responde por mais de 60% de sua receita. O Departamento de Energia não informou a razão pela qual decidiu negar a concessão. O departamento leva vários fatores em consideração ao avaliar projetos, incluindo riscos tecnológicos e o potencial de influência estrangeira. A Microvast, com sede em Stafford, Texas, se diz uma empresa dos Estados Unidos e que o CEO, Yang Wu, é cidadão norte-americano. Mais recentemente, a empresa descartou planos para a fábrica de Kentucky. O Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos afirmou que é preciso ter certeza de que os dólares dos contribuintes não estão sendo canalizados para os chineses. A Microvast está comprometida com os objetivos de investir nos Estados Unidos por meio de outras unidades.

A questão deve atingir o ápice das discussões quando o Departamento do Tesouro concluir as regras para créditos fiscais de carros elétricos. O departamento propôs que os carros que usam materiais de bateria produzidos por uma "entidade estrangeira preocupante", como uma empresa chinesa, não se qualifiquem para receber créditos fiscais a partir de 2025. Espera-se que o Tesouro use um padrão flexível para que alguns carros se qualifiquem, podendo gerar críticas por parte de políticos que elaboraram a lei climática. O senador democrata da Virgínia Ocidental, Joe Manchin, argumentou que critérios mais brandos vão contra a intenção da Lei de Redução da Inflação. O Tesouro monitora as mudanças nos mercados e nas cadeias de fornecimento, ao mesmo tempo em que cria regras para promover os objetivos da lei. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.