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19/Jul/2023

Entrevista: Luiz Gustavo Braz Lage - Banco do Brasil

Na vice-presidência de Agronegócios do Banco do Brasil há pouco mais de dois meses, o administrador e funcionário de carreira do Banco do Brasil Luiz Gustavo Braz Lage retorna à casa onde trabalhou 36 anos, até 2017, em um momento de disputa acirrada no mercado de crédito rural. Cooperativas de crédito e bancos privados continuam aumentando equipes e, em alguns casos, presença física no interior do País. Neste ano, um número recorde de instituições financeiras, 21 de 25 solicitantes, recebeu aval do Ministério da Fazenda para conceder crédito rural com taxas de juros equalizadas pelo Tesouro. Diante da maior concorrência, Braz Lage afirma ter respeito por concorrentes, mas defende que quem sabe fazer crédito agrícola é o Banco do Brasil. Na estratégia do banco, fortalecer o relacionamento com produtores por meio de correspondentes bancários e agências é parte fundamental. Mais de 60% do crédito do Pronaf é feito por correspondentes. A cada ano, o banco abre mais parcerias nesta linha.

Em sua primeira entrevista após ser nomeado para o cargo, Braz Lage, que desde 2021 era diretor da Cooperforte (Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo de Funcionários de Instituições Financeiras Públicas Federais), aborda também diversos reflexos de mudanças em regras do crédito rural para o Plano Safra 2023/2024, como a elevação dos porcentuais de depósito à vista (de 25% para 30%), poupança rural (59% para 65%) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA, de 35% para 50%) que deverão ser destinados a crédito rural, as chamadas exigibilidades; planos do BB sobre captações externas para financiar o agronegócio; novos produtos; atuação no Nordeste e outros temas. Até o dia 13 de julho, o Banco do Brasil havia desembolsado R$ 3,2 bilhões em financiamentos por linhas do Plano Safra, valor 5% maior do que no mesmo período da safra passada. Em número de operações, o incremento foi de 50%, para 13 mil transações. Assim como já dito pela presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, Braz Lage reforça que não há grandes mudanças de rota. As ações vão no sentido de fortalecer o protagonismo histórico do Banco do Brasil como grande apoiador do agronegócio. Segue a entrevista:

O Banco do Brasil recebeu do Ministério da Fazenda autorização para operar cerca de R$ 35 bilhões em crédito com taxas de juros equalizadas pelo Tesouro, o que representa cerca de 25% do total. No começo da safra 2022/23, o banco havia sido autorizado a operar em torno de R$ 41,5 bilhões. Tinham pedido mais do que foi recebido?

Luiz Gustavo Braz Lage: Nós havíamos solicitado um pouco mais do que na safra anterior (2022/2023), mas, com a entrada de novas instituições, é natural que a cada ano haja uma maior competição pelos recursos. É natural e importante. A competição no mercado financeiro traz benefícios para toda a cadeia, não vemos como ameaça. Mas, se formos olhar o que aconteceu na última safra, saímos com R$ 41 bilhões na largada e lá na frente, em abril, somamos de R$ 12 bilhões a R$ 13 bilhões que outras instituições não vinham liberando. Fechamos 2022/2023 com cerca de R$ 54 bilhões com taxas equalizadas. Algumas instituições financeiras têm boca grande para pedir uma quantia maior, mas sabemos que muitas não vão conseguir operar. Até por isso o governo criou uma nova dinâmica, de a cada trimestre analisar o que foi executado (de crédito com taxa equalizada) daquilo que estava previsto para as instituições aplicarem em 90 dias. O que não for, retornará para nova distribuição entre os agentes. Com essa dinâmica, esses recursos podem voltar mais rápido (do que no ciclo 2022/2023). Além disso, o governo aumentou os porcentuais de exigibilidades (porcentuais de depósito à vista, poupança e LCA que devem ser aplicados em crédito rural), o que irrigará mais recursos para aplicação em crédito rural. O Banco do Brasil tem a estratégia de fazer captações de recursos por meio de DIR (depósito interbancário, tomado de bancos que não conseguem cumprir as exigibilidades). Então é provável que o BB termine a safra 2023/24 com mais crédito equalizado do que em 2022/2023.

O governo federal elevou para a safra 2023/24 as exigibilidades de depósito à vista, poupança e LCA para crédito rural e também as subexigibilidades (distribuição dos recursos voltados ao agro, com parcela maior em 2023/24 para pequenos e médios agricultores). Sabe-se que algumas instituições financeiras têm dificuldade de cumprir os porcentuais da agricultura familiar, pelo custo da operação e maior dificuldade de acesso a esse público. Com esse cenário, há uma tendência de o mercado de depósitos interbancários (DIR) aumentar e o peso do DIR crescer na carteira do BB?

Luiz Gustavo Braz Lage: Sim, há. Como as novas regras irrigam o sistema (financeiro) com mais recurso (para o agronegócio), é natural que, como um líder na atuação do agro, haja um aumento (do DIR contratado pelo Banco do Brasil). Na safra 2022/2023 captamos R$ 2,9 bilhões em DIR. Na atual safra (2023/2024) já foram captados em torno de R$ 2 bilhões e seguimos avaliando oportunidades no mercado para ampliar as captações. Talvez haja um incremento razoável em 2023/2024, em função do próprio crescimento do Plano Safra que anunciamos (de R$ 240 bilhões, 27% acima dos cerca de R$ 188 bilhões desembolsados). Pode ser da mesma magnitude, ou um pouco mais, mas é natural (que ocorra aumento de DIR).

As cooperativas de crédito vêm avançando em áreas de atuação do Banco do Brasil, com atuação focada em pequenos e médios produtores, que são o perfil também dos clientes atendidos pelo BB. Como o banco tem se posicionado diante deste movimento?

Luiz Gustavo Braz Lage: O primeiro ponto a destacar é o papel importante das cooperativas de crédito para o desenvolvimento regional. Elas estão no direcionamento estratégico do Banco Central, as vemos como concorrentes de respeito. Ao longo do tempo elas vêm tendo uma atuação comercial forte, isso é notório, então que há sobreposição, há, assim como com outros agentes financeiros. Mas o diferencial vai ser a agilidade, a eficiência e o relacionamento com o cliente. O fator crucial é que quem sabe fazer crédito agrícola é o Banco do Brasil. Conhecemos o campo e está na nossa estratégia justamente reforçar esse relacionamento valendo-se dos parceiros, como os correspondentes bancários (empresas de assistência técnica, cooperativas e revendas de máquinas agrícolas) distribuídos pelo País. Mais de 60% do Pronaf (programa focado em agricultores familiares) é feito por correspondentes. Também atuamos com agilidade na contratação de crédito pelo celular.

O BB está aumentando o número de correspondentes bancários na safra 2023/2024?

Luiz Gustavo Braz Lage: Nossa estratégia é o reforço do time de correspondentes bancários. A cada ano temos feito mais parcerias neste sentido. Na safra 2022/2023 foram originadas operações em 4.995 parceiros agro, quantidade 22,7% superior à da safra anterior. Para a safra 2023/2024, a expectativa é o reforço da atuação por meio dos parceiros agro, mantendo o crescimento da ordem de dois dígitos. Também temos buscado especialização, padronização, eficiência do processo de atendimento, tanto dos correspondentes como das agências. Hoje temos quase 4 mil agências e mais de 4 mil correspondentes, sem falar da rede de especialistas, de 260 pessoas, que é um time bastante diferenciado, de agrônomos, zootecnistas, veterinários que apoiam os produtores. Estamos em mais de 5 mil municípios. Além disso, acreditamos muito na pegada digital. Os bancos estão investindo muito nisso, inclusive para facilitar a vida dos nossos clientes.

Além de fortalecer a rede de correspondentes bancários, o BB também está aumentando outras equipes comerciais com foco em agronegócio?

Luiz Gustavo Braz Lage: O banco vem ampliando a especialização no atendimento e no relacionamento com os clientes do setor. Em junho de 2022 tínhamos 1.067 carteiras agro que atendiam 285 mil clientes. Cada carteira agro possui, ao menos, um gerente e um assistente especialmente treinados para atender com todas as soluções específicas do agronegócio. O BB tem se ajustado internamente, remanejando gerentes antes dedicados a outros segmentos para deixá-los focados em agronegócio. Atualmente temos 1.123 carteiras (5,2% a mais) especializadas agro que atendem mais de 308 mil clientes, 23 mil clientes ou 8,1% a mais. É preciso destacar também que o BB conta com o apoio digital nas contratações de crédito por canais como seu aplicativo e que temos buscado soluções inovadoras. Por exemplo, estudamos participar de barter. Tem concorrentes atuando nesse mercado, há apetite para essa operação, mas logicamente não são transações massificadas, e sim mais estruturadas. Geralmente nossa cultura é fazer uma operação piloto aqui, um parceiro ali, somos sempre mineirinhos para estruturar uma coisa nova. Uma ideia seria o produtor entregar o produto agrícola a um parceiro do banco e esse parceiro liquidar a operação via BB. Ainda vamos amadurecer ideia e colocar na rua.

No Plano Safra 2023/2024, há um esforço do governo de aumentar a destinação de crédito rural para a Região Nordeste. Há previsão de aumento de correspondentes bancários na região? E de recursos?

Luiz Gustavo Braz Lage: Nas Regiões Norte e Nordeste foram 1.130 parceiros agro originando operações na safra 2022/23, 23,2% a mais do que o registrado em 2021/2022. Quanto a recursos, em 2022/2023 foram desembolsados R$ 30 bilhões nas regiões Norte e Nordeste, volume 26% superior ao liberado na safra anterior. Para o ciclo 2023/2024, a expectativa é de que o Banco do Brasil supere o volume da safra anterior. Não faltarão recursos para atender à demanda.

O aumento das exigibilidades e subexigibilidades no Plano Safra 2023/24 traz alguma dificuldade extra para cumprimento das novas regras? (O Conselho Monetário Nacional aprovou não só elevações de porcentuais de depósito, poupança e LCA que vão para crédito rural, como alterações na distribuição desse dinheiro. Pela nova regra, a parcela dos depósitos à vista alocada para crédito rural que deverá ir para a agricultura familiar, chamada de subexigibilidade, passa de 25% para 30%. Do restante, 45% serão voltados a médios produtores e 25% para demais produtores. No caso das LCAs, de cujas captações 50% obrigatoriamente precisará ir para o agro, ante 35% antes, metade do valor terá de financiar CPRs e outra metade, crédito rural livre do Manual do Crédito Rural. Era 70% e 30% antes, respectivamente)

Luiz Gustavo Braz Lage: O banco vai cumprir as exigibilidades e subexigibilidades de forma padrão. No caso da LCA, temos operações com bons volumes de CPR e crédito rural. Como isso já está no nosso dia a dia, não haverá dificuldade de cumprimento da exigibilidade e também da subexigibilidade. Imagino que bancos sem essa capacidade tenham uma dificuldade maior, mas para nós, não. Já fazemos crédito livre conforme o MCR, essa questão está pacificada para nós. No caso das CPRs, fizemos R$ 20,1 bilhões em 2022/2023 em títulos do agro e a previsão é aumentar 14% em 2023/2024, para R$ 23 bilhões, sendo mais de 90% disso CPR. Não cresce mais porque a CPR é um complemento na oferta de crédito do BB. Mas se houver demanda, vamos avançar mais.

No fim do ano passado o Banco do Brasil, ainda na gestão anterior, contou à nossa reportagem que o Broto, plataforma digital de conteúdo e marketplace de produtos agrícolas, começaria a ser monetizado. Essa etapa do projeto avançou?

Luiz Gustavo Braz Lage: O Broto tem um plano de negócios e está seguindo as etapas do processo. Estamos na fase de monetizar, temos avançado bastante em convênios com fornecedores, mas ele ainda é um broto. Vamos entrar na fase de monetizar mais no segundo semestre, é para quando está previsto esse processo. Em março (fim do primeiro trimestre de 2023), nós contabilizamos R$ 3,3 bilhões em negócios realizados pela plataforma (122% acima do valor de 12 meses atrás), 2,2 milhões de acessos (alta de 249% em 12 meses), 8,1 mil produtos anunciados (+290%) e 1,5 mil vendedores (+270%).

No lançamento do Plano Safra 2022/2023, a gestão anterior do Banco do Brasil deu grande ênfase ao plano de ampliar captações de recursos externos para financiar o agro. O banco continua buscando aumentar essas captações?

Luiz Gustavo Braz Lage: Sim, a estratégia continua. Há ações em andamento. Por ora não podemos adiantar quais. Mas uma das nossas estratégias é buscar fontes alternativas de recursos. Fiagros podem ser uma opção, estamos desenhando algo nesse sentido. O próprio DIR é uma alternativa, convênios com bancos lá fora. A ideia é que as captações externas cresçam ano a ano.

Fonte: Broadcast Agro.