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14/Jul/2023

Brasil e os desafios para aumentar a produtividade

Entre os anos 50 e 80, a economia brasileira cresceu em média 6% ao ano, em linha com o Japão ou Coreia do Sul. Mas, desde os anos 90, o País ficou para trás. Na última década, amargou os últimos pelotões das economias emergentes, frequentemente abaixo do Oriente Médio e da África. Há duas maneiras de voltar a crescer: incorporando mais pessoas ao processo produtivo ou fazendo com que os trabalhadores gerem mais produtos por hora trabalhada. No primeiro caso, há margem para incorporar as mulheres. Mas, o Censo do IBGE mostra que o fim do bônus demográfico (quando a população economicamente ativa supera a de crianças e idosos) está mais próximo do que se imaginava. Resta aumentar a produtividade. Neste ponto, o Brasil está abaixo da média dos emergentes, incluindo vizinhos como Argentina e Chile, e precisa de três trabalhadores a mais para produzir o mesmo que um trabalhador dos Estados Unidos. Desde os anos 90, o único setor que apresentou crescimento robusto de produtividade foi a agropecuária.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), três fatores explicam a baixa produtividade no Brasil. Primeiro, o capital humano, ou seja, a escolaridade e a experiência da força de trabalho. Nas últimas décadas, aumentou o número de pessoas escolarizadas. Mas, a qualidade do ensino deixa a desejar. O Brasil não gasta pouco em educação, mas o desempenho no ensino fundamental e no médio (onde há altos índices de evasão) é ruim e há defasagem em áreas cruciais, como o ensino superior e, especialmente, o ensino técnico. Em relação a este último, a chance de revigoramento com a Reforma do Ensino Médio não tem recebido a devida atenção. Em segundo lugar, há o ambiente de negócios. Isso envolve um sistema tributário caótico e cheio de insegurança jurídica; infraestrutura cara e precária; e economia fechada, em que o Brasil exporta e importa pouco. A indústria habituou-se a subsídios, isenções e barreiras protecionistas, um modelo intensificado nas gestões petistas.

Para piorar, cerca de metade da força de trabalho está no mercado informal. Trabalhadores informais são menos produtivos, e as empresas que se mantêm pequenas para voar abaixo do radar tributário não conseguem ampliar sua produção, o que diminuiria seus custos. Além de tudo, a corrupção inibe o apetite dos investidores. Um sinal positivo tem sido o avanço da reforma tributária. Mas, os velhos vícios do setor produtivo ameaçam desidratá-la. O papel das empresas pode ser mais positivo se, em vez de brigarem pelo seu benefício individual ou setorial, elas brigarem por uma melhoria da economia como um todo. A competição com o mundo lá fora não deve ser na base da proteção. Tem de ser na base da tecnologia, dos investimentos em capital humano. Por fim, há o fator macroeconômico, principalmente a questão fiscal. Após a depredação do teto de gastos, o Congresso aprovou o novo arcabouço fiscal, mas também desidratado por exceções.

O fato é que o Brasil tem uma enorme dificuldade para encontrar solução que minimamente sinalize para a sociedade, empresários e trabalhadores que a dívida pública vai ficar estável ao longo do tempo em relação ao PIB. Não faltam oportunidades. Tensões geopolíticas levam países desenvolvidos do Ocidente a engendrar estratégias para aproximar suas cadeias de suprimento. Some-se a isso a transição energética: o Brasil tem reservas minerais cruciais, às quais se poderia agregar valor, se as multinacionais forem encorajadas a refinar esses recursos e produzir baterias, por exemplo, no País. Essas oportunidades podem ser um combustível para a retomada do crescimento. Mas, sem um motor moderno, isto é, uma agenda de produtividade que fortaleça o Estado de Direito, qualifique a educação, ventile o ambiente de negócios e promova a abertura comercial, o mais potente combustível é inútil. Não há notícia histórica de um país que enriqueceu depois de envelhecer. As oportunidades estão aí. Mas, o tempo está se esgotando. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.