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11/Jul/2023

Envelhecimento muda perfil do mercado de trabalho

Um movimento silencioso e contínuo tem transformado a realidade do mercado de trabalho no País. Nos últimos anos, a idade média da população ocupada subiu e agora se aproxima cada vez mais dos 40 anos, de acordo com um levantamento realizado pela consultoria LCA. Esse envelhecimento dos trabalhadores deve se intensificar nos próximos anos, diante de um cenário de lento aumento da população. Os dados recentes do Censo mostram que a taxa média de crescimento populacional já é a menor desde o primeiro levantamento feito no País, em 1872. O resultado é também um número menor de jovens entrando no mercado de trabalho comparado a anos anteriores. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), esse fenômeno é uma boa notícia para o jovem (que terá menos concorrência), mas péssima para a economia. A economia brasileira já passou pelo bônus demográfico, conseguiu avançar nos anos de escolaridade, mas não viu a população subir nos rankings internacionais que medem a qualidade do ensino.

Agora, sem poder contar com mais mão de obra disponível para ingressar no mercado, o crescimento do País ficou ainda mais dependente do aumento da produtividade, que está ligado justamente à melhoria nos níveis de educação. Além de ter de conviver com menos jovens entrando no mercado, há ainda a migração para fora do País, acentuada sobretudo por causa da demanda por profissionais de tecnologia. No primeiro trimestre deste ano (último dado disponível), a idade média da população ocupada chegou a 39,3 anos. Desde que a LCA começou a pesquisa, em 2012, esse número só foi maior em junho de 2020, quando o levantamento precisou ser alterado por causa da pandemia de Covid-19. O estudo da LCA foi realizado com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), apurada pelo IBGE. A tendência é a população ocupada continuar envelhecendo, seguindo um pouco essa questão da população geral. Outro fator que eleva a média de idade no mercado de trabalho está relacionado às novas visões e propósitos da população, avalia a 99Hunters.

Enquanto a nova geração tem entrado mais tarde no mercado de trabalho por questões pessoais e de carreira, profissionais maduros optam por ficar mais tempo na atividade. O envelhecimento do País e, consequentemente, do mercado de trabalho abrem desafios tanto para o setor público quanto para o privado. A expectativa é de que a população em idade ativa diminua já a partir da primeira metade da próxima década, antecipando um movimento que estava previsto só para o final dos anos 2030. O progressivo envelhecimento do mercado de trabalho no País tem efeitos diversos na economia e no setor corporativo e, segundo especialistas, vai exigir medidas imediatas para que se adaptem a essa nova realidade. Não acompanhar esse movimento poderá cristalizar as baixas taxas de produtividade do Brasil diante do resto do mundo. Hoje, o País ocupa a 61ª posição de um total de 64 nações, segundo ranking do Institute for Management Development (IMD). É algo com que o País precisa se preocupar imediatamente. Para o mercado corporativo, um dos desafios é conseguir criar um ambiente adequado que consiga abrigar quatro gerações diferentes de trabalhadores.

Ao mesmo tempo em que essa situação traz diversidade de ideias, essencial para o crescimento dos negócios, o choque de idades tem exigido que as empresas adotem estratégias e soluções para apaziguar o embate de culturas tão diferentes. Hoje, quem tem 60 anos ou 70 anos é saudável. E quer trabalhar, porque entende que o trabalho é uma fonte de saúde física, emocional e social. Mas, do outro lado, você tem algumas empresas que não perceberam essa mudança demográfica, e estão muito condicionadas a programas de estágio e trainee, afirma a Sanofi Brasil. Atualmente, o percentual de trabalhadores da Sanofi com mais de 50 anos é de 16%; no País, são 3,2 mil funcionários. Até o fim do ano, a expectativa é aumentar essa representação para 20%. Para chegar lá, a companhia criou um banco de talentos para profissionais com mais de 50 anos e, no início do processo de seleção, passou a omitir a idade dos candidatos. Assim, a empresa conseguiu aumentar a taxa de sucesso dos candidatos com mais de 50 anos eliminando qualquer possível viés do início.

Mais do que lidar com o quadro irreversível de que a mão de obra brasileira vai envelhecer, abrir espaço para profissionais com idade superior a 50 anos passou a fazer parte da estratégia das companhias para que possam se enquadrar na agenda ESG (ambiental, social e governança), um dos quesitos mais importantes hoje no mundo dos negócios. Nos últimos anos, empresas de diferentes setores criaram programas de contratação destinados a profissionais mais velhos. Em 2016, por exemplo, a PepsiCo lançou o Golden Years, com o objetivo de encontrar trabalhadores com idade acima de 50 anos. Desde então, já foram contratadas 400 pessoas. A tendência é de crescimento: só em 2022, houve um aumento de quase 11% nas contratações dessa faixa etária, afirma a PepsiCo Brasil. O Banco BMG apostou nos mais velhos para buscar “empatia” com seu principal público: o aposentado que utiliza o crédito consignado. A companhia optou por abrir um programa para contratar profissionais com mais de 50 para fechar essa lacuna e melhorar a qualidade do seu atendimento. O banco percebeu que uma parte das pessoas mais jovens, normalmente no primeiro emprego, não tinha a empatia necessária para atender o cliente da forma correta.

Assim, uma melhora substancial na qualidade do atendimento do BMG. O banco tem 1,4 mil funcionários e, desse total, 9% têm mais de 50 anos, outros 35 trabalhadores integram o grupo que atua no call center. São pessoas que sabem que é difícil voltar para o mercado de trabalho. Elas têm um comprometimento grande com a empresa. A conexão que essa geração cria com a empresa é mais forte. Nas startups, segundo a 99Hunters, a diversificação geracional tem trazido bons resultados. Normalmente, elas unem a experiência e equilíbrio dos profissionais maduros com o maior nível de energia dos jovens. Isso traz benefícios para toda a companhia. Mas, não conseguir o equilíbrio entre esses dois mundos pode resultar em prejuízos relevantes para as empresas. Um estudo feito pelas consultorias ASTD Workforce Development e Aspectum mostra que uma a cada três pessoas desperdiçam 5 horas ou mais por semana em conflitos com colegas de diferentes gerações. Isso significa uma perda de 12% na produtividade do trabalho. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.