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06/Jul/2023

Brasil: efeitos da pandemia sobre jovens e crianças

Graças aos céus o vírus poupou, em geral, as crianças e adolescentes. Passados os momentos iniciais de incerteza, ficou evidente que os riscos da Covid-19 eram proporcionais à idade. Mas, o que era um ativo sanitário acabou se provando um passivo social. O fechamento das escolas é o maior exemplo. No pânico inicial, essa era uma precaução indisputável. Ao longo do tempo, contudo, quando já estava evidente a baixa vulnerabilidade dos jovens, acabou se mostrando uma opção cômoda, e irracional, para os gestores públicos, enquanto concentravam esforços nos serviços de saúde e na recuperação econômica. Mas, as consequências, como diz o vulgo, vêm depois. A interrupção prejudicou não só a aprendizagem, mas o acesso à alimentação e ao lazer. O impacto foi maior para os mais pobres, que encontram na escola o principal espaço para essas atividades. Mas, o fechamento das escolas é só o exemplo mais palpável de uma negligência generalizada para com essa faixa da população, que, se não for sanada, resultará em prejuízos de longo prazo.

O fenômeno foi global. É o que constata um relatório que apresenta o primeiro estágio do grupo de pesquisa PANEX-Youth, formado por um consórcio de universidades que se dedicará por dois anos (2022-2024) a avaliar o impacto da pandemia sobre os jovens. No Brasil, o efeito do fechamento das escolas foi mais grave, por quatro motivos. Primeiro, porque antes da pandemia as taxas de aprendizagem e evasão já eram cronicamente ruins, e a conjuntura econômica prejudicava a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Essas condições foram agravadas, em segundo lugar, pela anomia do governo Jair Bolsonaro nas políticas educacionais. Terceiro, já na pandemia, o negacionismo de Bolsonaro perturbou medidas que garantiriam um retorno mais rápido e seguro à normalidade, notavelmente a vacinação. Por fim, a pandemia agravou a defasagem das escolas no uso de novas tecnologias, prejudicando especialmente os mais pobres, dependentes de um ensino público mal preparado e carentes de dispositivos digitais para prosseguir sua educação a distância.

Somem-se a isso as dificuldades experimentadas por suas famílias, como o desemprego e a fome. Para ilustrar o tamanho da negligência, enquanto na França (que, como outros países europeus, adotou confinamentos muito mais duros do que no Brasil), as escolas ficaram totalmente fechadas por 7 semanas e parcialmente por 5, no Brasil ficaram, respectivamente, por 38 e 41 semanas. A interrupção aqui foi uma das mais longas do mundo e a nenhum outro segmento foram impostas tantas e tão longas restrições. Em geral, os lockdowns impactaram significativamente a condução de exames e avaliações. Os cursos técnicos foram especialmente prejudicados, por causa das dificuldades de comunicar habilidades práticas online. As desigualdades digitais aumentaram. Em todos esses âmbitos já havia defasagens no Brasil antes da pandemia, e ela só as agravou, mais uma vez, com danos desproporcionais aos mais pobres. Baseados em suas avaliações preliminares, os pesquisadores concluem com 5 recomendações para, a um tempo, sanar as sequelas dessa pandemia e criar resiliência para as próximas:

1) manter as crianças e jovens no centro das políticas de prevenção; 2) priorizar a atenção às vozes ocultas e experiências dos jovens, especialmente os mais pobres; 3) reconhecer que as escolas desempenham um papel crucial como núcleos de cuidados e cidadania; 4) reconhecer a importância da brincadeira e do lazer como direitos fundamentais dos jovens; e 5) respostas mais estruturadas e sistêmicas às múltiplas dimensões do risco nas políticas nacionais, com base em uma avaliação rigorosa do que funcionou e do que falhou na pandemia. São recomendações gerais e em certa medida óbvias, que, por isso, pareceriam, a um primeiro olhar, dispensáveis. Mas não são. Primeiro, porque, em geral, a negligência com os jovens mostra que não estar no grupo de risco pode ser um risco. Segundo, porque, especificamente no caso do Brasil, essa negligência foi maior e exigirá maiores esforços para repará-la. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.