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29/Jun/2023

Cartão de crédito: governo preocupado com juros

Diante da alta da inadimplência, o Ministério da Fazenda vai lançar medidas para reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito, mas não pensa em tabelar as taxas cobradas ou em acabar com o parcelado sem juros, prática largamente usada no comércio brasileiro. Os juros do rotativo do cartão de crédito entraram no radar da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do Banco Central na esteira da pressão que parte dos consumidores e parlamentares tem feito sobre o assunto, além de integrantes do governo. Há uma pressão legítima da sociedade sobre o patamar atual dos juros do rotativo, que encostou em 450% ao ano em abril, o último dado disponível, ante 13,75% da Selic (a taxa básica de juros). Como resultado, a inadimplência no cartão de crédito rotativo e no parcelado atingiu o pico, e se mantém em níveis recordes nos últimos meses. Em março e abril deste ano, quase um terço (31,5%) do saldo de R$ 135,6 bilhões de crédito nessas duas modalidades estava inadimplente.

É a maior taxa da série histórica mensal, iniciada em março de 2011. O cálculo foi feito pela Serasa Experian, empresa especializada em informações financeiras. O risco de tabelamento dos juros é a maior preocupação hoje do mercado de cartões. Não há uma medida “mágica” para resolver o problema, porque o mercado de cartões é complexo, com muitas tarifas que são cobradas tanto dos usuários quanto dos lojistas. Ao negar a possibilidade de tabelamento, a portabilidade da dívida e uma comunicação mais clara nas faturas sobre o peso dos juros estão entre as medidas em estudo pelo governo. Sem paralelo em outros países do mundo, o parcelado sem juros virou um costume no Brasil e é considerado, por alguns atores da cadeia de cartões, uma das razões para as taxas exorbitantes do rotativo. Tanto que uma das alternativas apresentadas por executivos do sistema bancário ao governo seria justamente usar a chamada tarifa de intercâmbio, paga pelos lojistas aos bancos emissores de cartões, para desestimular ou limitar as parcelas no cartão. O impacto no comércio, porém, poderia ser significativo.

Outra opção seria acabar de vez com o rotativo. Na avaliação de especialistas, vários fatores combinados contribuíram para a aceleração da inadimplência no cartão de crédito. Para a Boanerges & Cia, consultoria especializada em serviços financeiros, a ressaca que houve por conta da pandemia e da alta da taxa básica de juros (Selic) como motivos que levaram ao aumento da inadimplência. Não foi tanto a deterioração do emprego, mas da renda corroída pela inflação. A Serasa Experian considera que o principal fator para o aumento da inadimplência foi a disparada da inflação. Quando a inflação acumulada em 12 meses em setembro de 2021 passou de 10%, e permaneceu nesse patamar até setembro de 2022, o estrago foi brutal na renda familiar. O total de inadimplentes, não apenas no cartão, saiu de 62 milhões, em setembro de 2021, para 71 milhões em maio deste ano. Esse número foi puxado principalmente por bancos e cartões.

Outro fator que turbinou o crédito no cartão e, consequentemente, levou à alta da inadimplência foi o aumento da liquidez de recursos com a expansão dos benefícios sociais por causa da pandemia, observa a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs). Como houve um empoçamento da liquidez, o sistema como um todo ficou muito menos rigoroso na concessão. De acordo com as regras do Banco Central, tudo o que não é pago no vencimento vai para o rotativo. Após um mês, esse montante tem de ser parcelado (como crédito pessoal). No rotativo, o calote bateu em março deste ano em 52,12%, é o patamar mais elevado da série, que começou em março de 2011. Em abril deste ano, a inadimplência recuou um pouco, para 51,75%, apontam os dados do Banco central. Ao sair do rotativo, após 30 dias, os valores vão para outra conta, cuja inadimplência estava em 8,65% em abril. Nesse caso, é o maior resultado mensal desde setembro de 2012 (8,67%), e está mais de dois pontos acima do de abril de 2022 (6,3%). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.