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27/Jun/2023

Brasil: indicadores econômicos e rating de agências

A mudança na perspectiva do rating do Brasil pela S&P, de estável para positiva, reacendeu o debate quanto à possibilidade de o Brasil recuperar o grau de investimento, perdido em 2015. Se a distância do País na escala das notas mostra que esse caminho pode ser longo, o cenário traçado pelas três principais agências de classificação de risco do mundo indica que a estrada à frente também é esburacada. O Brasil figura entre os lanternas em diferentes indicadores econômicos quando comparado a pares com o mesmo rating, 'BB-' e 'Ba2', apesar da melhora nas projeções para a economia doméstica em 2023. Em termos de endividamento, o País só perde para a Jordânia em um grupo de 17 nações, todas no chamado 'grau especulativo', considerando as estimativas de S&P, Fitch Ratings e Moody's. Sob a ótica de crescimento econômico, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve se expandir mais este ano, mas, ainda assim, em um ritmo que supera somente o estimado para o trio formado por Macedônia do Norte, Sérvia e África do Sul.

A política monetária restritiva continuará a representar um obstáculo ao crescimento, mas isso deve diminuir (com atraso) depois que as taxas de juros forem cortadas no fim de 2023, avaliou a Fitch Ratings ao comentar sua visão para o Brasil, mencionando ainda sinais de fraqueza da demanda doméstica. A agência melhorou a sua estimativa para o crescimento do PIB brasileiro em 2023, de 0,7% para 2,3%, na esteira de bancos e organismos internacionais, após o resultado acima do esperado no primeiro trimestre, com o impulso do agronegócio. Antes, a S&P, embora mais conservadora, já tinha capitaneado tal movimento entre as classificadoras, ao ter elevado sua projeção de uma alta 0,7% para 1,7% neste ano. Foi, aliás, a expansão maior que o esperado da economia brasileira no primeiro trimestre, associada à redução das incertezas políticas em meio à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto ao futuro do País, em especial sob a ótica fiscal, que fez a S&P melhorar a perspectiva para a nota do Brasil, na semana passada. Apesar disso, a agência vê a economia local crescendo a uma média de 2% ao ano até 2026, patamar abaixo dos pares com mesmo nível de desenvolvimento econômico.

Além disso, a S&P mostrou mais ceticismo com a situação fiscal do Brasil. Apesar de mencionar o novo arcabouço ao justificar a melhora na visão do rating, piorou sua projeção à frente. A agência espera que a proporção da dívida frente ao PIB brasileiro suba a 77,1% neste ano, de 76,64% antes. Os dados oficiais já apontam piora no ano. A dívida pública brasileira representou 73,2% do PIB do Brasil em abril, contra 73,0% em março. No ano passado, era de 72,9%. A Moody's, que mantém a nota do Brasil dois degraus abaixo do grau de investimento, enquanto as outras indicam três níveis aquém, está ainda mais cética e projeta o indicador em 78%, enquanto a Fitch estima 75,6%. Só a Jordânia está em situação pior. O Brasil ainda tem um trabalho a ser feito, tem de mostrar que realmente vai conseguir melhorar os indicadores fiscais, disse a S&P. O avanço da aprovação do arcabouço fiscal no Congresso ainda não foi visto pelas agências de classificação de risco como um sinal de melhoria da situação fiscal.

No dia 21 de junho, os senadores aprovaram o texto-base do projeto, que estabelece as regras que vão substituir o teto de gastos. Menos rigoroso, o arcabouço agora volta para ser votado na Câmara, após mudanças no Senado, o que é esperado somente para julho. A visão das agências de rating, assim como de parte do mercado, é de que as novas regras fiscais brasileiras traçam metas "ambiciosas" e que dependem de uma receita forte. A S&P, por exemplo, está descrente quanto à capacidade do governo brasileiro de cumpri-las e vê o Brasil no vermelho até o último ano do governo Lula. O time do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu zerar o déficit em 2024 e entregar um superávit primário de 1% do PIB até 2026. Para a Fitch, o novo arcabouço fiscal não ancorou totalmente as expectativas, mas dissipou as "preocupações sobre grandes derrapagens". No geral, as três classificadoras veem o Brasil no vermelho em 2023, após dois anos com as contas no azul, com situação que só é melhor do que a de países como Costa do Marfim, Macedônia do Norte, Uzbequistão, Bangladesh e Sérvia.

A S&P, aliás, suavizou sua projeção, que passou de um déficit de 2,2% para 1,2%, mas alerta que pode voltar sua perspectiva sobre o País, para "estável", em dois anos caso a estrutura final seja inadequada e sua implementação ruim, o que limitaria ainda mais o crescimento brasileiro. A mais cética é a Moody's, que prevê um déficit primário de 1,4% para o Brasil neste ano. É preciso um histórico de implementação das novas regras para dizer se esta estrutura está funcionando e a proposta do arcabouço não fornece uma trajetória de queda da dívida, mas de estabilidade, disse a Moody's. Em termos do custo da dívida brasileira, o País também está na berlinda frente a seus pares com o mesmo rating. Só não é pior que África do Sul, República Dominicana e Bangladesh. Por outro lado, perde para países como Honduras, Jordânia e Vietnã. Novamente, a Moody's é a mais pessimista e vê o custo da dívida do País a 20,9% em 2023. Apesar disso, a expectativa é de que o Brasil esteja entre os primeiros países a cortar os juros neste ano, inclusive em relação à América Latina, o que é esperado para ocorrer entre os meses de agosto e setembro próximos.

A Fitch vê as taxas caindo para 12,25% ao fim deste ano e alcançando o patamar de 9,00% no término de 2024. Esse deve ser o nível de juros no Brasil também em 2025. Como pano de fundo para o início do corte nas taxas, a estabilidade e queda das expectativas para a inflação no Brasil. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses foi a 3,94% em maio, ante 4,18% até abril, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As três agências veem, contudo, a inflação no País subindo para mais de 5% ao fim deste ano, em meio ao fim dos efeitos de corte de impostos nos combustíveis no ano passado. Esse número é acima da meta perseguida pelo Banco Central em 2023, de 3,25%, com limite de 4,75%. A inflação é o indicador que o Brasil está mais bem posicionado, considerando a visão das classificadoras internacionais. Ainda assim, o custo de vida dos brasileiros só é melhor do que aqueles que vivem em países como Costa do Marfim, Costa Rica, Jordânia, Seychelles, Geórgia, Trindade e Tobago e Vietnã, considerando um grupo de 17 países.

Para além do comportamento da inflação, as agências de risco monitoram os futuros passos da política monetária no Brasil também com olhos nos ruídos políticos, com o governo Lula, além de empresários, cobrando uma tesoura mais cedo e mais rápida nas taxas. Outro tema sob vigilância é o debate sobre uma possível mudança na meta de inflação. A vontade do governo de modificar o regime de metas de inflação agora parece mais centrada no horizonte de convergência à meta do que na própria meta, e isso deve ficar mais claro na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), afirmou a Fitch. O CMN se reúne no dia 29 de junho para discutir a meta de inflação para 2024. A mudança da perspectiva da S&P para o rating do Brasil acendeu a lanterna para movimentos futuros de suas rivais. Segundo a Moody's, o cenário da agência para o País é consistente com a perspectiva estável de sua nota. Indo além, para retomar o grau de investimento, o Brasil teria de superar as próprias projeções da S&P. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.