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27/Jun/2023

Setor industrial articulando bancada no Congresso

Longe ficou o tempo em que os grandes nomes da indústria, desde a Avenida Paulista, no coração do Estado mais rico do País, pontificavam na vida nacional. Nas últimas quatro décadas em que o Produto Interno Bruto (PIB) passa por altos e baixos, o protagonismo da indústria tem se desintegrado e as perdas passaram a se refletir também no poder de influenciar nas políticas que atingem o setor diretamente. Empresários e políticos avaliam que a situação poderá mudar. Parlamentares, com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), resolveram organizar um grupo nos moldes da bem-sucedida Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O primeiro teste para a atuação conjunta do grupo que ganhou o nome de Frente Parlamentar Mista da Indústria e reúne, até agora, 290 deputados e senadores, já tem data para ocorrer: a discussão da reforma tributária. Se a frente influenciar e trabalhar em defesa da visão da indústria, em um projeto que consiga equalizar o peso dos impostos, simplificando e trabalhando por justiça social, certamente conquistará um importante espaço no Parlamento, acredita a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Até agora, o setor tem ficado a reboque de iniciativas isoladas e interesses individuais. É preciso acabar com a omissão e o setor industrial precisa ser relevante nas decisões do Congresso que se refletem nos negócios e na vida nacional. O coordenador da nova frente, deputado José Rocha (União Brasil-BA), reconhece que o desafio é “imenso”. Diferentemente do que ocorre com o agronegócio, o setor industrial carece de líderes fortes que defendam seus interesses. É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da CNI, por exemplo, disputam protagonismo. Não há união. A frente parlamentar é suprapartidária. Não é preciso perguntar muito para perceber que conciliar interesses, até mesmo ideologias e preferências políticas, exigirá muito ‘jogo de cintura’ de quem quiser chegar a um consenso. No Rio Grande do Sul, Estado eminentemente bolsonarista, a Federação das Indústrias local (Fiergs) acompanha a evolução das medidas econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar ou diminuir investimentos no setor.

Há muita incerteza econômica e a confiança está em baixa, neste começo de governo. A indústria do Estado deverá ser cautelosa e esperar um cenário com melhores condições para efetivar os investimentos. Pesquisa da Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da entidade aponta que, em 2022, a proporção de empresas que investiram cresceu pelo segundo ano consecutivo. Foram 2,5% acima do registrado em 2021 e 11,2% maiores do que em 2020. Entretanto, para 2023, o levantamento sinaliza um cenário desfavorável. Apenas 54% das empresas têm intenção de investir. A indústria do Rio Grande do Sul, sem uma sinalização de estabilidade, continuará esperando o desenrolar dos acontecimentos. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) afirma que o País vive uma conjuntura desfavorável para a indústria. O que conta ainda em favor do setor é o fato de ser um segmento muito importante da economia e, em qualquer nação desenvolvida, ele acaba sempre tendo relevância política. Não será fácil aglutinar os interesses do setor em uma frente, mas a iniciativa é positiva.

Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. A reforma trabalhista por exemplo. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia. O Brasil tem a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também. De acordo com estimativa apresentada pela CNI no Dia da Indústria, o Custo Brasil (que inclui os encargos trabalhistas) retira R$ 1,5 trilhão das empresas, o equivalente a 20,5% do PIB. A indústria de transformação está estagnada e há divergências. Para a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), à medida que a indústria de transformação não cresce, o setor perde reconhecimento e o consenso entre os representantes se torna muito difícil. O agronegócio que tem uma das mais poderosas frentes do Congresso. Eles não pensam todos iguais, mas debatem suas divergências, chegam a um acordo e levam essa posição adiante. Eles têm um Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura). Os nomes que a indústria tem brigam entre si até nas mesmas instituições.

No começo deste ano, a CNI precisou interferir numa disputa territorial em que o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf tentou organizar um levante entre os filiados para derrubar do cargo o presidente eleito, Josué Gomes da Silva. O episódio demonstra o grau de vaidade e intrigas envolvendo o setor industrial. E, pior, os industriais não são bem-vistos pela população. Outro ponto que difere é que o agro produz alimentos e consolidou uma imagem de que “alimenta o Brasil e o mundo”. A opinião pública acha que os industriais vivem de subsídios e que estão sempre chorando. Segundo o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o agro, desde 1973, trabalha com um plano estruturado e consolidado. O mesmo não acontece na indústria, que vem perdendo espaço no panorama nacional. O setor não precisa de Protec ou de campeãs. Necessita apenas de segurança jurídica e previsibilidade. Isso permitirá agregar valor à indústria. E são essas questões que precisam ser defendidas no Congresso. Uma frente parlamentar vai ajudar na mobilização e trabalhará melhor as questões mais importantes.

A indústria tem mais de 130 setores e é difícil fazê-los convergir. Por isso, a necessidade de uma bancada forte, que pense no País, e não no setor. Porque não é mais aceitável seguir vivendo em um País onde os únicos que ganham dinheiro são os bancos. Algo está muito errado. Um estudo do Observatório da Produtividade, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), consegue traçar as razões da perda do peso da indústria de transformação nacional. O documento mostra uma queda em torno de 1% ao ano na produtividade nos últimos 30 anos. No mesmo período, a produtividade na agropecuária aumentou em média 5,5% ao ano. O agro tem um plano estruturado, e é isso que vai agregar valor à indústria e ajudar a sair da crise. Criar incentivos para a indústria automobilística é um erro. O deputado José Rocha, por enquanto, diz que está tomando ‘pé do terreno onde vai pisar’. Mas, está convencido de que com o apoio da CNI e os dados negativos que vêm sendo colhidos pela indústria de transformação, há uma boa chance de união, deixando de ser um setor desarticulado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.