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26/Jun/2023

Bem-estar do agro vai se espalhar pela economia

Restrita às regiões do agronegócio, a sensação de bem-estar criada pelo crescimento da economia tende a começar a se espalhar pelo resto do País nos próximos meses. Provocado por um evento inesperado e que não se repetirá, a supersafra agrícola, que teve peso superior a 20% na alta do PIB, o movimento deve se refletir na popularidade do governo, caso não haja turbulências extras. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre meados de 2023 e 2025, haverá um processo de barateamento da cesta básica, que vai gerar uma percepção generalizada de melhoria no bem-estar. Ao contrário da indústria extrativa mineral, cuja geração de riqueza fica concentrada nas empresas, o agro multiplica os ganhos com toda economia, além de ter o efeito de derrubar o preço da comida: com a soja mais barata, caem os preços da ração e, por consequência, do leite, da carne e dos ovos.

As outras culturas também se multiplicam e beneficiam a situação no resto do País. Por enquanto, no entanto, a percepção de uma vida mais fácil está longe das grandes cidades. Segundo a Tendências Consultoria, apesar de estar em desaceleração, a inflação continua pesando no orçamento das famílias, principalmente das mais pobres. Em relação ao desemprego, o impacto é similar: mesmo em queda, continua afetando mais o trabalhador menos qualificado e de menor renda. Ainda são efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia. Se, no momento mais dramático das restrições à circulação, os bancos renegociaram dívidas para evitar a inadimplência, agora a conta chegou. Levantamento da Tendências, que inclui os parcelamentos do cartão de crédito na dívida das famílias, mostra que o comprometimento da renda está em um percentual bem mais alto do que no pré-pandemia. Ele supera os 28%, contra 24% do período pré-Covid.

Nas grandes cidades, o acesso a crédito é mais fácil e, portanto, o endividamento tende a ser maior. Por outro lado, há um fator inédito nesta crise: com a fintechização do setor financeiro dos últimos anos, hoje o devedor tem contas atrasadas com mais estabelecimentos. Em média, as pessoas inadimplentes estão em débito em 11 lugares diferentes, contra a média histórica de 3 locais, segundo a empresa especializada na recuperação de créditos vencidos MGC Holding. Isso acontece quando o devedor acumula faturas não pagas de cartões de crédito, empréstimos bancários, boletos de água, luz, internet, escola, plano de saúde, comércio, bem como bancos, cartões e empresas digitais. Nas regiões do agronegócio, a riqueza que nasce da terra criou uma realidade menos tensa. "É como se fossem dois Brasis", diz a MB Associados. Um do agro, que cresce com mais força e outro que tem peso maior da indústria e de serviços, e continua patinando.

O mais recente relatório de economia bancária do Banco Central, por exemplo, mostra que a inadimplência com operações de crédito das pessoas físicas passou de 2,9% para 3,9% no Brasil, entre 2020 e 2022. Mas, enquanto na Região Sudeste o indicador ficou em 4,1% no ano passado, na Região Centro-Oeste ele estava em 2,8%. Enquanto na maior parte do País a população está emparedada e com dificuldade de pagar as contas, com renda e emprego que não crescem, na Região Centro-Oeste a situação é oposta. Para os economistas, os efeitos benéficos do crescimento do agronegócio, somados a melhorias estruturais da economia, tendem a espalhar a sensação de bem-estar a partir de agora. Com a perspectiva de aprovação de marcos importantes, como o das garantias (que permitirá a redução do spread bancário) e a reforma tributária, bem como a tendência de quedas nos juros e de entrada de mais recursos provenientes do exterior. O Brasil deve fechar o ano com uma chave diferente da que começou, bem mais positiva.

Para a Tendências, a dinâmica do mercado de trabalho começa a melhorar, com resiliência maior na criação dos postos formais. A inflação das famílias, que rodava na casa dos 5% no pré-pandemia, deverá ficar em torno de 2,5%. Depois de anos de inflação muito forte, será um alívio. Outra mudança positiva é a massa de renda das famílias beneficiárias de programas sociais, atualmente no melhor patamar, que tem peso grande no consumo. Nem todos, porém, têm a mesma visão. Para o Insper, após o período de safra, a economia voltará à normalidade, ou seja, um cenário ruim, no qual o comércio e a indústria continuarão estagnados. Políticas públicas, como o subsídio à venda de carros populares e o Desenrola, que pretende reduzir o endividamento, terão efeitos marginais. São medidas paliativas, com o objetivo de curto prazo.

O setor produtivo tem investido menos do que o necessário para sustentar o processo de crescimento continuado e há necessidade de poupança que medidas de estímulo ao consumo destroem. Mesmo assim, a maioria dos especialistas diz que, com os movimentos mais recentes, a tendência de melhora no cenário pode ter efeito similar da popularidade do governo nos próximos meses. O pior momento, em relação à inflação, às restrições ao crédito e aos juros altos estão ficando para trás, o que deve se refletir em uma melhora da percepção do governo. A população de baixa renda e a classe média devem ficar mais felizes com o cenário e premiá-lo. Por ter sido um evento único e inesperado, a safra recorde foi um ‘golpe de sorte’ para a gestão Lula. Agora, é só saber fazer o jogo da política. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.