06/Jun/2023

Silvia Massruhá, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), tem como objetivo que a estatal desempenhe um papel na criação de métricas oficiais para avaliar a sustentabilidade da produção agropecuária no Brasil. A meta é desenvolver modelos e índices que possam validar cientificamente as práticas já adotadas no campo, ao mesmo tempo em que orientem os produtores rurais sobre como melhorar os aspectos ambientais, sociais e econômicos de suas atividades. A proposta visa reunir essas informações em uma plataforma de dados abrangente, que também possa servir como base para a formulação de políticas públicas pelo Ministério da Agricultura, assim como ocorre com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). A falta de ferramentas que comprovem as boas práticas abre espaço para críticas, tanto no País quanto no exterior, o que prejudica a imagem do setor produtivo nacional. O desafio nessa gestão são as métricas.

A Embrapa quer realmente ter métricas oficiais para apoiar o governo, mostrar que é sustentável nos três pilares e indicar para os produtores como é possível melhorar essa sustentabilidade. O Ministério da Agricultura vai colocar em consulta pública a proposta de criação do Programa Nacional de Cadeias Agropecuárias Descarbonizadas - Programa Carbono + Verde, que pretende avançar na definição desses parâmetros. O Brasil já evoluiu na adoção de práticas sustentáveis, mas que é preciso mensurar o impacto dessas ações. É importante medir para mostrar o que o produtor conseguiu melhorar em algum índice de sustentabilidade social, ambiental ou de redução de custos. O maior desafio é validar os dados cientificamente, já que o processo exige revisão internacional de outros pesquisadores, o que demanda tempo. Não adianta criar um modelo sem base científica. O sucesso da agropecuária brasileira ocorreu porque ela é baseada em ciência e tecnologia, tem sustentação e não pode ser contestada. Isso leva um tempo, e há urgência. Mas, já há pesquisas da Embrapa avançando para trabalhar nesses índices.

Doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Massruhá trabalhou com outros 200 pesquisadores no desenvolvimento do índice de sustentabilidade de uma fazenda pantaneira balizado em inteligência artificial. Ela diz que as ferramentas e tecnologias digitais podem e devem auxiliar nesse processo. A ideia é levantar todos os projetos de pesquisa em desenvolvimento na Embrapa e produtos já prontos que possam contribuir para a criação das métricas oficiais brasileiras. A estatal tem estudos desde a pegada de carbono na produção de soja e carnes até o monitoramento de uso e cobertura da terra a partir de imagens de satélites. A Embrapa pretende usar uma estratégia que já deu certo na relação da estatal como braço técnico do Ministério da Agricultura. A ideia é levar a lógica do Zarc para as práticas sustentáveis. O zoneamento, que reúne informações de solo, clima e cultivares para indicar as melhores condições de cultivo de determinadas culturas agrícolas em todo o País, nasceu de um projeto de pesquisa da empresa.

A medida baliza a contratação de crédito e seguro rural. Depois de ser terceirizado por um período, o Zarc é gerido por um comitê gestor. Há uma “plataforma colaborativa”, que recebe informações técnicas das unidades da Embrapa. Essas informações depois são validadas no campo e repassadas à Secretaria de Política Agrícola, que elabora as diretrizes para as safras. Quando se pensa na questão da sustentabilidade, existem dados e modelos que estão sendo gerados, não só na Embrapa. A ideia integrar tudo isso para fomentar as políticas públicas e mostrar que a agricultura é sustentável e em que pontos pode melhorar”, disse a presidente. Um dos usos possíveis para os índices é aproveitá-los na formulação do Plano Safra e nas diretrizes para a redução de juros do crédito atrelada à adoção das práticas sustentáveis. Esses índices têm que ser trabalhados para ajudar a fomentar políticas públicas. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.