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06/Jun/2023

Entrevista: Juliana Curi - Marcas e pautas ambientais

Discutir as pautas de impacto social e ambiental ainda é uma tarefa difícil no universo da publicidade, segundo a publicitária Juliana Curi. Trabalhando com marcas que apostam em ações de impacto socioambiental há cerca de dez anos, ela lançou na última semana o documentário Uyra - O retorno da Floresta, que debate, entre outros temas, os impactos à natureza. Ela comentou sobre os avanços no mercado e as dificuldades com as pautas ESG (social, ambiental e governança) no País. Segue a entrevista:

Em dez anos, o que mudou na percepção das marcas em relação aos temas social e ambiental?

Juliana Curi: Vivemos outro cenário. No começo, as marcas me procuravam por eu ser mulher, pelo meu local de fala, mas não para falar dos outros temas que abordava. Ao longo dos anos, passaram por um processo de sofisticação e entenderam que trabalho com outros temas, para além do fato de ser uma diretora mulher. Mas ainda é difícil levar as pautas de ações ambientais para o universo da publicidade.

Ainda existem marcas que fingem preocupação com essas pautas?

Juliana Curi: Sem citar nomes, ao longo destes anos, tive surpresas maravilhosas com algumas marcas, mas, por outro lado, tive surpresas horrorosas. Marcas que levantavam bandeiras importantes, da valorização das mulheres às questões ambientais, e que no fim censuraram projetos sobre esses temas. Ainda assim, pude trabalhar com projetos internacionais grandes que tinham uma preocupação em participar dessas pautas. Tive a sorte de conseguir mostrar a algumas marcas o que realmente faço.

Empresas do audiovisual e da publicidade costumam dizer que estão ficando mais diversas. É fato?

Juliana Curi: Vejo dois processos acontecendo: um em frente das câmeras e outro por trás. Hoje em dia, uma marca não se arrisca mais a colocar uma campanha no ar que não tenha diversidade no seu casting. Vimos um avanço. Mas agora, quando você olha quem está por trás das campanhas, continuamos com pouquíssima diversidade, são as mesmas pessoas de sempre realizando os trabalhos. Continuamos com as mesmas cabeças brancas nas agências.

O que pode mudar isso?

Juliana Curi: As políticas afirmativas, como o Eu tu Lab, programa de mentoria que criei para auxiliar jovens a entrar no universo do audiovisual e operar, em breve, em cargos de liderança. Acredito que as marcas podem ter um papel importante nessa mudança. Precisamos pensar o problema de maneira coletiva, é a filosofia da coletividade que o documentário Uyra traz.

Como trabalhar ações sociais e ambientais sem roubar o protagonismo de quem vive essas questões?

Juliana Curi: Precisamos usar os espaços de poder, como a publicidade e o audiovisual, para introduzir as pessoas, e não para promover alguns poucos. Para não ser como muitos documentários sobre o tema ambiental, em que os diretores do norte global vão às comunidades, filmam e partem sem deixar nenhum retorno para aquele grupo.

Fonte: Broadcast Agro.