ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

06/Jun/2023

EUA busca retomar protagonismo na América Latina

Era 8 de março quando a general Laura Richardson, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos, compareceu ao lado de outros integrantes do Departamento de Defesa, em Washington, à comissão de Defesa da Câmara. Hoje, a China tem a capacidade e a intenção de burlar as normas internacionais, propagar sua marca autoritária e acumular poder e influência às custas das democracias. A general prosseguiu com seu alerta. “Esta é a década decisiva, e as nossas ações ou omissões em relação à República Popular da China vão ter consequências pelos próximos decênios.” E completou: “Enquanto a China permanece o nosso desafio atual, outros atores mal-intencionados erodem a segurança regional. A Rússia continua com sua extensa campanha de desinformação, apoiando regimes autoritários em Cuba, Nicarágua e Venezuela”. Após a Guerra Fria, os Estados Unidos e seus aliados acreditavam que a democracia ocuparia o lugar do autoritarismo no mundo.

Após 25 anos, o entorno norte-americano mudou. China e Rússia estariam exercendo “agressiva influência” sobre seus vizinhos democráticos. Os adversários usam abordagem multidomínio para combater a democracia. Ela tratou do que seria a abordagem correta contra a nova ameaça. Os aliados e parceiros dos Estados Unidos devem usar todo o peso da dissuasão integrada, alavancando o governo, indústria, setor privado e academia, a fim de responder de forma eficaz. Com propósito compartilhado e confiança mútua, devemos agir coletivamente com muito maior senso de urgência para garantir que o Hemisfério Norte continue sendo um reduto para a democracia. Por fim, analisou o terreno por meio do qual os chineses avançam na América do Sul: o comércio internacional e investimentos. Em 2002, o comércio da China com a América Latina e o Caribe foi de apenas US$ 18 bilhões; em 2022, aumentou para US$ 450 bilhões. Esse número deve aumentar para US$ 700 bilhões até 2035.

Por outro lado, o atual comércio dos Estados Unidos na região totaliza US$ 700 bilhões, o que sugere que a vantagem comercial comparativa dos Estados Unidos está erodindo. Um mês depois da declaração da general, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à China para ser recebido por Xi Jinping. Disse o líder chinês: “Estou disposto a trabalhar com o presidente Lula, de uma perspectiva estratégica e de longo prazo, para planejar e promover conjuntamente a um novo patamar a parceria estratégica abrangente entre a China e o Brasil, em benefício dos dois países.” A disputa entre China e Estados Unidos e a posição do Brasil ressurgiria mais tarde em um episódio aparentemente banal. Após ser informado pelo assessor especial Celso Amorim de que o Exército deixara de chamar a China para participar de um seminário sobre doutrina militar no Comando de Operações Terrestres (Coter), em Brasília, Lula determinou ao ministro da Defesa, José Múcio, que o convite fosse feito.

Ao lado do pedido de venda de 450 blindados Guarani para a Ucrânia, o seminário foi apontado como exemplo de como a diplomacia militar se chocava com a do governo. Ao todo, 34 países foram convidados pelo Coter. O general Marcelo Pereira de Lima de Carvalho, do Centro de Doutrina do Exército, enxergava no evento apenas o caráter de intercâmbio e de aprendizagem. Mas, o Itamaraty e deputados petistas viram conflito com a parceria estratégica com a China. Para os norte-americanos, a presença no seminário era o símbolo do que Richardson dissera aos congressistas sobre a América Latina: “Nessa região, um pequeno investimento, seja em tempo, recursos físicos, financiamento ou colaboração, vai longe. Os Estados Unidos não precisamos gastar mais do que a China para vencer a concorrência, mas devem estar presentes em campo e dar resposta veloz. Isso requer ter um orçamento oportuno, as soluções de continuidade são prejudiciais aos esforços dos EUA e das nações parceiras para se defender contra ameaças. Se não o fizermos, a China e a Rússia preencherão o vazio.”

Mesmo assim, a reação de Lula fez os militares temerem pelo futuro da colaboração com os norte-americanos e outros países da OTAN em meio à neutralidade do governo Lula na guerra da Ucrânia. Esse receio foi logo encoberto pelo desembarque em Brasília da general Richardson, do general William L. Thigpen, do Comando Sul do Exército norte-americano, e do embaixador Brian A. Nichols, secretário adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental. Richardson encontrou os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, além do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Também visitou o Comando de Defesa Cibernética e esteve com o ministro da Defesa, José Múcio, para, nas palavras da embaixadora, fortalecer a já próxima e duradoura cooperação na área de Defesa com o Brasil, descrita como uma das prioridades do governo dos Estado Unidos. Dias antes, em 21 de maio, a general Richardson estivera com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, para discutir parceria na Defesa e segurança regional.

Ou seja, ações contra os cartéis da droga e contra os grupos remanescentes das guerrilhas esquerdistas no país. O périplo foi completado pelos encontros mantidos pelo general Thigpen. Em Brasília, ele esteve com o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que deixou o Comando Militar do Planalto (CMP) após a intentona do dia 8 de janeiro, para assumir a 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército, que cuida das relações internacionais da Força. Foi dali que saíram os principais resultados da missão dos generais norte-americanos para barrar a influência chinesa no Brasil. Os exércitos norte-americano e brasileiro concluíram uma centena de acordos de ação, planejando 149 atividades durante as conversas no Brasil. Nos próximos anos, ambos os exércitos continuarão com intercâmbios bilaterais de pessoal, exercícios combinados e outras atividades militares profissionais, informou o Comando Sul do Exército dos Estados Unidos. À ofensiva militar, os Estados Unidos acrescentaram uma política.

Enquanto os generais encontravam os militares brasileiros, o secretário Nichols dizia que os acordos de infraestrutura que os países (sobretudo da América Latina) fizeram com a China muitas vezes se mostraram enganosos, nos termos financeiros que os países obtêm. A declaração provocou reação chinesa, que chamou as acusações norte-americanas de “infundadas e ridículas”. A preocupação dos Estados Unidos se dirige principalmente aos planos de empresas chinesas em áreas estratégicas, como o Canal do Panamá e a cidade portuária de Ushuaia, na Argentina, perto do Estreito de Magalhães. A disposição norte-americana de lutar para manter seu lugar na América Latina ficou evidente até nos acenos à ditadura venezuelana de Nicolás Maduro. Os Estados Unidos acreditam que não têm mais tempo a perder na região. Para sorte de Lula, apesar dos desencontros de sua política externa na Ucrânia e das disputas entre os embaixadores e os generais, os norte-americanos demonstram não querer briga. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.