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02/Jun/2023

Os riscos da fragmentação do comércio global

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial de Comércio (OMC) advertem para um refluxo na interdependência e no comércio internacionais e para os custos potenciais dessa fragmentação. Em artigo firmado na Finance & Development Magazine, as autoridades afirmam que restrições ao comércio e subsídios têm crescido, na resposta à pandemia e diante da guerra da Rússia na Ucrânia. Países buscam garantir cadeias de oferta estratégica e recorrem a políticas que distorcem o comércio. Caso mantidos e aprofundados, esses passos podem abrir a porta para políticas orientadas para alianças, que reduzem a eficiência econômica e fragmentam o sistema de comércio global. Pode ainda haver efeito contrário ao esperado, com cadeias de produção mais limitadas sendo mais vulneráveis a choques localizados.

O investimento estrangeiro direto está cada vez mais concentrado em países com alinhamento geopolítico. Foi destacada a importância do comércio global, ao resultar em avanços na produtividade, apoiar o crescimento a partir das exportações e reforçar a segurança econômica, ao dar a empresas e famílias opções em caso de algum choque interno. Essas cadeias globais foram cruciais na pandemia, ao circular insumos médicos, inclusive vacinas. O FMI e a OMC dizem que a fragmentação seria custosa para a economia global. Um cenário com o comércio global dividido em dois blocos poderia levar a uma queda de 5% no PIB global. O FMI ainda aponta que a fragmentação no comércio retira de 0,2% a 0,7% do PIB global, e diz que o custo pode ser ainda maior em caso de desacoplamento tecnológico. O alerta é feito em meio a tensões e sanções de parte a parte, em tecnologia inclusive, entre Estados Unidos e China.

A recomendação é de que causas subjacentes de descontentamento sejam resolvidas, o que seria mais eficaz que as intervenções no comércio hoje vistas. Mesmo com tensões geopolíticas, a cooperação no comércio segue possível. Essa cooperação é crucial para avançar em temas atuais, entre eles as mudanças climáticas. O FMI argumenta que, no quadro atual de crescentes tensões globais, alianças regionais podem ser usadas não com a finalidade de integração, mas para discriminar rivais. Nas últimas três décadas, houve grande crescimento do número de acordos regionais firmados pelo mundo. Em momentos de maior tensão, porém, pode emergir um regionalismo discriminatório, no limite menos eficiente. Acordos regionais dos últimos anos tiveram papel de ganho de eficiência, ajudando a ampliar oportunidades de comércio e cortando custos no comércio.

Mas, a tendência de reforçar laços com aliados e excluir rivais pode levar a acordos regionais discriminatórios, contrários ao espírito das regras multilaterais. O regionalismo sem uma âncora de multilateralismo pode estar mais exposto a forças poderosas de desintegração. Não é o caso de escolher entre regionalismo e multilateralismo, mas entre "integração e desintegração". Nesse contexto, o FMI defende uma retomada do multilateralismo como complemento necessário aos acordos regionais em uma era de conflitos. A fragmentação geoeconômica atual pode provocar perdas para os padrões de vida globais tão severos quanto os da pandemia de Covid-19. Ressalta-se o contexto de invasão da Rússia na Ucrânia e as sanções subsequentes. Também pode-se mencionar a saída do Reino Unido da União Europeia e as tensões entre Estados Unidos e China.

Durante a pandemia, países decidiram restringir exportações de insumos médicos e alimentos, em determinados momentos. É feita uma avaliação do peso desses contextos apenas sobre o comércio, mas, se levadas em conta outras esferas, o impacto negativo da fragmentação tende a ser ainda pior. Neste contexto, foi mencionado que um eventual desacoplamento em microchips usados em produtos de alta tecnologia representaria uma perda permanente de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) global, o equivalente à produção anual da Noruega. Em caso de fragmentação mais dura, com divisão em blocos liderados por Estados Unidos e China, o custo poderia ser de 2,3% do PIB global. Os países de renda baixa estariam mais pressionados, com perdas de mais de 4% do PIB. Nesse contexto, o FMI defende o fortalecimento e a modernização do sistema de comércio global, a fim de superar esses desafios, preservando benefícios da integração econômica. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.