30/Mai/2023
O recorde de mais de 70 milhões de brasileiros inadimplentes, 43,43% da população acima de 18 anos, já havia sido revelado pela Serasa nos dados coletados em março. Agora, um estudo da MGC Holding, empresa especializada na recuperação de créditos vencidos, mostra que esse imenso contingente é formado por "multidevedores", pessoas que acumulam, em média, débitos não pagos em 11 locais diferentes, um salto na média histórica de três calotes por devedor. São números que assustam, porque sugerem impossibilidade de colocar as contas em dia. Mais do que isso, reforçam a total inversão de prioridades do governo, que corre para tentar impor a volta do carro popular, medida polêmica e com grande potencial de elevar ainda mais o endividamento do consumidor, enquanto o Desenrola Brasil, lançado no primeiro mês da gestão Lula da Silva, continua parado.
O programa, uma promessa de campanha para aliviar o peso da inadimplência de pessoas físicas, especialmente na faixa de baixa renda, deveria estar rodando há três meses, conforme estimativas iniciais. É impressionante a miopia populista que faz o governo investir energia política no barateamento dos carros e do crédito para financiá-los a prestações a perder de vista (sem falar na briga para reduzir artificialmente os preços dos combustíveis), como se a ilusória condição de dono de carro mudasse a realidade de quem tem renda insuficiente para necessidades básicas e para honrar compromissos. O pacote do carro popular, que foi anunciado na no dia 25 de maio, não por acaso Dia da Indústria, parece fadado ao fracasso. O Brasil não vive um momento no qual seja possível vislumbrar uma solução no curto prazo para a crescente limitação de renda dos consumidores. Além disso, a aposta das montadoras tem recaído sobre modelos mais sofisticados, como os SUVs, líderes de venda de um mercado para poucos.
A medida provisória (MP) para a criação do Desenrola, que prevê a renegociação de R$ 50 bilhões em dívidas, nem sequer foi enviada ao Congresso. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a MP está pronta, mas o software para rodar o programa ainda não foi desenvolvido. Para isso não há qualquer data estipulada. O governo deveria programar melhor sua lista de urgências. A adequação das condições para a efetivação do consumo antecede o próprio consumo, como, aliás, era o que o governo deveria observar na administração das próprias contas públicas. Pesquisa que a Febraban acaba de concluir mostra que a expectativa de inadimplência para este ano segue em alta: aumentou de 4,7% no levantamento de março para 4,8% este mês. É urgente reverter essa tendência. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.