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26/Mai/2023

China: economia está dando sinais de desaceleração

Depois de um bom desempenho econômico no primeiro trimestre, a China apresentou em abril vários sinais de desaceleração do nível de atividade, entre eles retração da produção industrial e investimentos, fracas vendas de varejo, desemprego recorde entre jovens e inflação bem pequena. Mesmo que o país atinja a meta de crescimento de 5,0% neste ano, estabelecida pela administração Xi Jinping, aumenta a percepção no mercado internacional de que poderão ser necessários estímulos fiscais e talvez até monetários para reforçar a retomada da demanda agregada, que ainda é limitada devido à baixa confiança de consumidores e empresas. Em abril ante março, a produção industrial na China caiu 0,47% devido à demanda interna com pouca força e menor vigor das exportações, sobretudo para a Europa e Estados Unidos. Neste período, os investimentos baixaram 0,64%, com grande impacto da retração contínua do setor de construção, que ocorre por 13 meses seguidos.

A taxa de desemprego entre jovens de 16 e 24 anos atingiu alta histórica de 20,4%. As vendas de varejo subiram 0,49%, uma marca menor do que o aumento de 0,78% em março em comparação a fevereiro. Todo este quadro levou o índice de preços ao consumidor a uma elevação de apenas 0,1% em abril no acumulado em 12 meses, menor do que o 0,7% registrado em março na mesma base de comparação. A meta de inflação perseguida pelo banco central chinês (PBoC) é de 3,0%. Este quadro de expansão moderada na China é muito influenciado pela baixa confiança de consumidores e empresas nas perspectivas da demanda agregada do país no curto prazo. Um dos principais fatores que não incentiva famílias e companhias a gastar e investir mais é o elevado desemprego registrado pelos jovens, muitos deles recém-formados em universidades.

Segundo o Credit Suisse, se 20% dos jovens chineses não conseguem encontrar ocupações remuneradas tal fato provoca um impacto no seu consumo, de seus parentes, além de conter investimentos de empresas. Tudo isso aponta para problemas estruturais da economia. Como milhões de estudantes estão obtendo seus diplomas em poucos meses e vão buscar logo vagas no mercado de trabalho é possível que em julho chegará a 25% a taxa de desemprego deste segmento da população, acrescenta o banco MUFG. Um outro elemento importante que está afetando a retomada mais firme da China é a política dos Estados Unidos de friend-shoring, a tática de fazer comércio com países mais amigos, e tensões geopolíticas. Segundo o Société Générale, devido às incertezas relativas a questões envolvendo Taiwan, muitas empresas estão alterando suas cadeias de valor, especialmente instalando indústrias em outros países do Sudeste da Ásia.

Há temores de alguns empresários sobre uma eventual invasão militar da China naquele território, o que poderia inclusive provocar uma guerra com os Estados Unidos e fortes embargos comerciais e financeiros de muitos países Ocidentais à China. As atuais dúvidas sobre as relações entre a China e Taiwan nos próximos anos também afetam a confiança do consumidor na segunda economia do mundo, que já é baixa depois de três anos de impactos da Covid-19. Com a pandemia, foi acumulada uma poupança extra de 4 trilhões de renminbis pelas famílias. Mas, elas não estão gastando estes recursos devido a este conjunto de temores. A baixa confiança dos consumidores e empresários também não permite uma retomada mais intensa do setor da construção civil, que é um dos principais pilares do nível de atividade na China.

Há uma limitada compra de imóveis pelos cidadãos, influenciada pela reforma adotada em 2022 pelo governo central para conter a especulação no setor, que na prática reduziu as fontes de financiamentos. Dessa forma, o valor das propriedades deve subir entre 7% e 10% neste ano. Esse aumento seria distante para recuperar a queda de 27% registrada em 2022, quando o país estava fechado por causa da pandemia. A recuperação da China desde o início do ano ocorre basicamente por causa da expansão dos serviços, como viagens, despesas em hotéis, restaurantes e bares, além da aquisição de produtos com preços que não são elevados, como roupas e calçados. Para muitos economistas internacionais, o país deve registrar um gradual crescimento ao longo deste ano, que terá também obstáculos externos. O principal deles deverá ocorrer no segundo semestre, quando os Estados Unidos poderão ingressar em uma recessão e a Europa terá uma fraca velocidade do Produto Interno Bruto, motivadas pela política monetária restritiva adotada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e o Banco Central Europeu (BCE) para reduzir a inflação muito alta.

Nestas circunstâncias, as exportações de manufaturados deverão ser prejudicadas, o que terá impacto na atividade das fábricas. Segundo o Pictet Asset Management, a China deve ter uma expansão da produção industrial de 4,5% em 2023, que subiu 3,6% em 2022. Embora a China deva crescer por volta de 5,5% neste ano, o número não é tão elevado como aparenta, pois o Produto Interno Bruto subiu 3% em 2022, abaixo do potencial de 5,0%. Segundo o banco HSBC, ao longo de 2023, o país deve ter um ritmo moderado de expansão. O segundo trimestre deve crescer 1,6% frente aos três meses anteriores, com ajuste sazonal, deve avançar 1,4% no terceiro trimestre, na margem, e registrar uma alta de 1,2% entre outubro e dezembro, na comparação ao período entre julho e setembro. O processo de crescimento da China é desigual entre os setores, com os serviços voltando aos níveis pré-pandemia, mas ainda é preciso avançar em vários outros segmentos produtivos.

Em um quadro de consumo interno com dificuldades para aumentar com rapidez, ao mesmo tempo que a demanda externa deve reduzir o ritmo nos próximos meses, aumenta a avaliação de especialistas de que será necessário mais apoio da política fiscal para reforçar o nível de atividade. O governo poderia reduzir impostos para os cidadãos para a aquisição de móveis, o que também ajudaria a aquecer o setor de construção. O déficit geral do Poder Executivo deverá atingir 7,5% do PIB neste ano, muito próximo dos 7,4% apurados pelo indicador em 2022. Contudo, no ano passado boa parte dos recursos foram dirigidos a testes e exames de Covid-19 para milhões de pessoas, despesas que agora serão bem reduzidas, o que tornará bem maior o total de gastos públicos para estimular o consumo.

Como a inflação está muito baixa na China, há também a possibilidade de o PBoC reduzir os juros até o final do ano. Para o Credit Suisse, a taxa poderá cair da atual marca de 2,75% para 2,70% ou 2,65% até dezembro. O estímulo da política monetária será limitado, pois há boas chances de que a meta oficial de crescimento de 5,0% será atingida em 2023. A estimativa é de que o CPI subirá 1,3% em 2023. Além de uma redução dos preços de alimentos, sobretudo com uma produção muito elevada de carne suína, a inflação neste ano na China deve ficar baixa por causa das moderadas compras dos cidadãos em lojas em geral. Para o Mizuho Securities, as vendas de varejo devem crescer 5,0% neste ano, ante uma queda de 0,2% em 2022. Contudo, este avanço é inferior à expansão de 8% registrada em 2019, antes da pandemia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.