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25/Mai/2023

Europa enfrentando alta nos preços dos alimentos

Recém-saídos de uma crise de energia, os europeus enfrentam uma explosão no preço dos alimentos que começa a mudar dietas e força os consumidores da região a apertar o cinto, literalmente. Isso acontece apesar da queda da inflação como um todo, graças a preços mais baixos da energia, e apresenta um novo desafio para os governos que destinaram bilhões em auxílios no ano passado, durante a pior crise energética em décadas. Dados divulgados nesta quarta-feira (24/05) mostram que a inflação no Reino Unido caiu significativamente em abril, com o recuo dos preços da energia, seguindo padrão semelhante na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, os alimentos subiram 19,3% em relação ao ano anterior. O aumento contínuo dos preços dos alimentos pegou os bancos centrais de surpresa e pressiona os governos, que ainda se recuperam do custo dos pacotes de emergência do ano passado, a prestar novo socorro.

Também pressiona as contas das famílias, que já vinham sofrendo com o aumento dos custos dos empréstimos. Na França, as famílias reduziram a compra de alimentos em mais de 10% desde a invasão da Ucrânia, enquanto o consumo de energia caiu 4,8%. Na Alemanha, a venda de alimentos caiu 1,1% em março em relação ao mês anterior e 10,3% em relação ao ano anterior, a maior queda desde o início dos registros, em 1994. Segundo o Federal Information Center for Agriculture, o consumo de carne foi menor em 2022 do que em qualquer outro período desde que os registros começaram a ser feitos, em 1989, embora isso também possa refletir uma mudança contínua para dietas à base de alimentos vegetais. Os varejistas de alimentos viram suas margens de lucro encolherem, já que não conseguem repassar integralmente o aumento dos preços dos fornecedores para os consumidores. A rede de supermercados Edeka deixou de encomendar produtos de alguns grandes fornecedores devido à disparada dos preços.

Pesquisa realizada pela agência de estatísticas do Reino Unido no início deste mês revelou que quase três quintos dos 20% mais pobres da população reduziram a compra de alimentos. Segundo a seguradora Allianz, é um problema de acesso, pois a produção total de alimentos não despencou. É uma crise de condições. Os alimentos representam uma parcela muito maior dos gastos do consumidor do que a energia, portanto, um aumento menor nos preços tem um impacto maior nos orçamentos. A Resolution Foundation, do Reino Unido, estima que, até o verão do Hemisfério Norte, o aumento acumulado nos gastos com alimentos desde 2020 será de 28 bilhões de libras, o equivalente a US$ 34,76 bilhões, superando o aumento das contas de energia, estimadas em 25 bilhões de libras. A crise do custo de vida não está acabando, está apenas entrando em uma nova fase. Os alimentos não são o único motor da inflação.

No Reino Unido, o núcleo do índice de inflação, que exclui alimentos e energia, subiu para 6,8% em abril, de 6,2% em março, nível mais alto desde 1992. O núcleo da inflação ficou próximo do recorde para a zona do euro durante o mesmo mês. Ainda assim, o Banco da Inglaterra (BOE) disse a legisladores, na terça-feira (23/05), que os preços dos alimentos agora representam o quarto choque inflacionário, seguindo-se aos gargalos que interromperam as cadeias de suprimentos durante a pandemia de Covid-19, o aumento dos preços da energia que acompanhou a invasão russa da Ucrânia, e os mercados de trabalho superaquecidos. Os governos europeus gastaram pesadamente com auxílios financeiros, em meio à disparada dos preços de energia. Agora, têm menos espaço para tomar empréstimos, devido ao aumento da dívida desde o início da pandemia, em 2020. Alguns países, como Itália, Espanha e Portugal, reduziram os impostos sobre a venda de produtos alimentícios para aliviar a carga sobre os consumidores.

Outros contam com os varejistas para manter os preços sob controle. Em março, o governo francês negociou um acordo com as principais redes de supermercados para evitar aumentos de preços. Os varejistas também estão sob fiscalização na Irlanda, entre outros países europeus. No Reino Unido, os parlamentares abriram uma investigação sobre toda a cadeia de abastecimento de alimentos "do campo para o prato", e a Competition and Markets Authority (CMA), órgão governamental pela concorrência, afirmou que iria acompanhar mais de perto os varejistas, tendo em vista as preocupações com a alta de preços, para garantir a concorrência. Economistas esperam que essa fiscalização adicional produza resultados concretos, com a ideia de que os varejistas contem com fornecedores para segurar preços, evitando prejudicar sua imagem. Com os supermercados sob os holofotes, é mais provável que o ímpeto dos preços na cesta de alimentos desacelere, disse o Deutsche Bank. Não está totalmente claro porque os preços dos alimentos subiram tanto, por tanto tempo.

Nos mercados mundiais de commodities, que definem os preços aos agricultores, os alimentos estão em queda desde abril de 2022. No entanto, os custos das commodities são apenas parte do preço final. Os consumidores também pagam pelo processamento, embalagem, transporte e distribuição, e o espaço entre o campo e a mesa é enorme. Para o BOE, uma razão para ter avaliado mal o comportamento dos preços dos alimentos é o fato de que os produtores firmaram contratos de longo prazo, mas relativamente caros, com fornecedores de fertilizantes, energia, entre outros, na ocasião da invasão russa à Ucrânia, na tentativa de garantir o fornecimento, em um momento de incertezas. Mas, como sugerem as pressões sobre os varejistas, formuladores de políticas suspeitam que pode ter havido aumento nas margens de lucro. É uma história sobre a recomposição de margens que foram espremidas no início do ano passado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.