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15/Mai/2023

Entrevista: ministro da Fazenda Fernando Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera que haja o mínimo de alteração no texto do arcabouço fiscal despachado pela equipe econômica. Foi construída uma proposta calibrada. Tanto é verdade que os dois lados estão querendo estressar para seu lado. Haddad prevê inflação controlada no ano que vem, embora evite comentar sobre alterações no regime de metas. Segue a entrevista:

O senhor foi o primeiro ministro da Fazenda brasileiro a participar do G7. De que forma o contato com os países do grupo pode ajudar a economia brasileira e qual o saldo da viagem?

Fernando Haddad: É bastante claro que o fato de o Brasil assumir a presidência do G20 no ano que vem foi central para o convite, tanto para mim quanto para o presidente Lula. Há uma preocupação com o recrudescimento das tensões e dos problemas clássicos, como mudança climática, desigualdade, e a questão democrática. Mas, há questões novas que surgiram com o aumento dos juros no mundo inteiro em virtude da inflação e das cadeias de suprimento, que é a crise da dívida. Muitos países estão endividados. Eu tive uma bilateral com a Índia, que preside o G20 agora, buscando um roteiro para que não haja solução de continuidade. A primeira providência foi estar bastante próximo da Índia, para no segundo semestre fazermos uma transição robusta da presidência do G20.

O senhor falou muito sobre Argentina nos encontros bilaterais

Fernando Haddad: Eu falei em duas ocasiões sobre Argentina, com a Janet Yellen (secretária do Tesouro norte-americano e com a Kristalina Georgieva (diretora-gerente do FMI).

E qual foi a recepção da Kristalina, a mais interessada na questão da Argentina?

Fernando Haddad: Fiz chegar uma consideração do Brasil sobre a importância geopolítica da Argentina, não apenas para a América do Sul. Penso que a situação da Argentina inspira cuidado global, por isso a trouxe para o G7. A Kristalina, nos minutos em que estivemos juntos, relatou as negociações que vêm sendo feitas com a Argentina. Ela sabe da seca severa que a Argentina está enfrentando. A principal assessora dela, Gita Gopinath, está indo ao Brasil. Nós combinamos que ela (Gita) vai detalhar mais a situação da Argentina para nós e como o FMI está vendo a Argentina neste momento.

Falando de inflação, o senhor se reuniu aqui no Japão com a secretária Yellen. Os Estados Unidos, assim como o Brasil, enfrentam o remédio amargo do juro alto para conter a inflação. O senhor e Yellen chegaram a conversar sobre política monetária?

Fernando Haddad: Foi mais com Stiglitz sobre política monetária. Conversamos sobre vários assuntos, integração regional, papel do Brasil e sobre essa anomalia que é o juro brasileiro, o mais alto do mundo. E como a inflação projetada para o ano que vem [no Brasil] é bastante controlada.

Ainda sobre inflação, o senhor já disse que vê a meta de inflação contínua como um instrumento mais eficiente do que a meta-calendário. Uma alteração no tipo de meta ou no seu nível será discutida no Conselho Monetário Nacional (CMN) de junho?

Fernando Haddad: Tenho procurado ser muito rigoroso com o plano de voo que estabelecemos. Tínhamos as indicações de diretores do Banco Central, que foram feitas. Agora temos a aprovação do arcabouço fiscal. Só depois disso vou tratar de outro assunto. A ordem dos fatores altera o produto. Estamos com uma agenda forte de coibir sonegação, promover as reonerações, defender o ponto de vista da Receita e do Tesouro no Judiciário e no Congresso. Nós estamos sendo muito bem sucedidos nessa agenda, até aqui. Já há um reconhecimento internacional do trabalho que o governo Lula tem feito. E isso foi manifestado claramente pela Kristalina, que saudou os esforços.

O Congresso já sinalizou que deve promover mudanças no texto do arcabouço fiscal, cujo relatório final foi adiado devido à viagem do senhor. Os parlamentares do Centro estão cobrando um texto mais duro nas punições em caso de descumprimento da meta. Já no PT, querem um arcabouço light. O impasse está grande lá no Brasil. O que o senhor prevê que será alterado no texto final do arcabouço e em que direção?

Fernando Haddad: Nós construímos uma proposta calibrada. Tanto é verdade que os dois lados estão querendo estressar para seu lado. É só a demonstração de que está calibrado. Se não houvesse insatisfação dos dois lados, teria algo errado na calibragem. Nós procuramos linha fina entre equilíbrio fiscal e paz social, desde sempre o mote do discurso do presidente Lula. Relembrando o que ele próprio como presidente já fez, o equilíbrio entre fiscal e social, até porque são indissociáveis. Penso que a calibragem está bem feita e esperamos que haja o mínimo de alteração. Os parâmetros estão adequados para a situação política e social que o Brasil vive.

Desde a confirmação de Gabriel Galípolo como indicado do governo para uma diretoria do BC, há uma avaliação de que essa seria uma indicação casada - ou seja, com promessa de Galípolo assumir a presidência do BC em 2025, com a saída de Roberto Campos Neto. É fato?

Fernando Haddad: Não discuti com Galípolo a presidência do Banco Central. Até porque ele estabeleceu um diálogo profícuo com Roberto Campos Neto. Nós vimos uma oportunidade de estimular o debate técnico, uma vez que o próprio mercado está dividido em torno da oportunidade imediata de começar ciclo de baixa de juros.

Fonte: Broadcast Agro.