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04/Mai/2023

Suíça incentivando o consumo de insetos na dieta

Na Suíça, famosa por queijos e chocolates, as crianças estão sendo educadas em prazeres mais sutis, como comer larvas de farinha, gafanhotos e grilos. Em uma manhã, alunos de uma escola de ensino fundamental nos arredores de Zurique se reuniram em volta de uma mesa cheia de lanches feitos de insetos. Sem hesitar, serviram-se de larvas de farinha temperadas, grilos polvilhados com páprica e biscoitos feitos com farinha de grilos moídos. Em 2017, a Suíça se tornou o primeiro país da Europa a permitir a venda de insetos como alimento para humanos, após um lobby de startups de insetos comestíveis. Essa foi a parte fácil. Agora, as empresas precisam enfrentar o que os entomologistas chamam de "fator nojo", a impressão entre clientes ocidentais de que insetos são sinais de sujeira e contaminação e que não devem ser colocados na boca. Para tanto, a indústria recruta consumidores cujo gosto ainda está no estado de larva. A Swiss Insects, associação de empresas que vendem insetos para consumo humano, organizou a degustação na escola.

Nos últimos quatro anos, escolas suíças vêm sendo visitadas para divulgar os benefícios de comer insetos. Os jovens são mais abertos à novidade e em algum momento, vão incluir insetos na dieta. Até recentemente, a civilização ocidental procurava manter insetos fora dos alimentos. Os reguladores os viam como uma ameaça à saúde humana. A Food and Drug Administration dos Estados Unidos classifica insetos que não sejam um ingrediente intencional do alimento como "sujeira". Agora, no entanto, mais autoridades governamentais, acadêmicos e empresas querem fazer dos insetos uma característica, não uma contaminação, da dieta ocidental. Insetos são uma fonte ecológica de proteínas e vitaminas e geram pouquíssimos gases de efeito estufa em comparação à criação de gado, suínos e outros animais. E, segundo cientistas, são seguros para serem consumidos, desde que criados em ambientes controlados. Pessoas na Ásia, África e América do Sul comem insetos, desde gafanhotos fritos na Tailândia até formigas assadas na Colômbia.

Em 2021, a União Europeia seguiu a Suíça e já autorizou quatro tipos de insetos para consumo humano: larvas amarelas, gafanhotos migratórios, grilos e outras larvas. O FDA é menos restritivo. Insetos não intencionais são considerados contaminantes, mas a agência não se opõe aos intencionais, desde que o produto siga as boas práticas de fabricação. Ainda assim, as empresas têm dificuldade para encontrar um público de massa para os produtos no ocidente, sendo o "fator nojo" um grande obstáculo. Segundo a Jimini's, com sede em Paris, que vende larvas de farinha com sabor de caramelo com sal, gafanhotos de curry amarelo e vários outros alimentos à base de insetos, não há problema em fazer as pessoas comerem insetos uma vez. O verdadeiro desafio é que não seja uma única vez, como quem diz 'já comi insetos' da mesma forma como diz 'já saltei de paraquedas'”. A pandemia não ajudou. Os consumidores não quiseram comer insetos enquanto estavam trancados em casa nos lockdowns.

Mais recentemente, políticos de direita em toda a Europa ficaram irritados quando a União Europeia autorizou, em janeiro, o uso de farinha de grilo como ingrediente alimentar. O movimento pelo consumo de insetos decolou no Ocidente há uma década, quando a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) publicou um relatório de 200 páginas divulgando seus benefícios. Desde então, bilhões de dólares foram investidos no negócio de criação de insetos para alimentar animais. Dezenas de empresas nos Estados Unidos e na Europa também surgiram para cortar o intermediário e vender insetos diretamente para as pessoas. Nos anos seguintes, porém, as startups do setor de insetos para consumo humano começaram a se reduzir. Um problema eram os órgãos reguladores europeus, que ainda não haviam aprovado insetos para consumo humano quando as empresas começaram a vender. A Green Kow, empresa belga que fabricava uma pasta feita com larvas de farinha, teve os produtos apreendidos pelas autoridades italianas em uma exposição de alimentos em Milão. A empresa faliu em 2019 por não conseguir arcar com os custos de buscar a aprovação da União Europeia.

Em 2014, Rabastens deu início a uma batalha jurídica de um ano com o governo francês, depois que a prefeitura de Paris apreendeu 209 caixas de insetos Jimini em uma feira de alimentos. A disputa chegou ao Tribunal de Justiça Europeu, que ficou do lado de Rabastens em 2020. Na Suíça, a Essento conseguiu que as duas maiores redes de supermercados do país vendessem seus produtos, uma conquista que as empresas de insetos comestíveis tentam reproduzir em outras partes da Europa. A empresa cria larvas de farinha próprias em uma pequena unidade nas montanhas ao norte de Zurique. O processo é simples. Ovos minúsculos são colocados em grãos orgânicos em pilhas de caixas plásticas, com a adição de pequena quantidade de água. Em questão de semanas, as larvas estão prontas para serem colhidas. As larvas são então fervidas em uma panela e morrem instantaneamente. O processo é uma resposta às preocupações crescentes na indústria de que os insetos sofrem ao morrer. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.