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03/Mai/2023

Dólar pode cair ao fim do ciclo de juros altos do Fed

A economia dos Estados Unidos não parece mais tão forte. E isso é uma má notícia para o dólar. A moeda norte-americana caiu cerca de 8,3% em relação ao pico de setembro, segundo o WSJ Dollar Index, e passa por seu pior início de ano desde 2018. Investidores apostam que a moeda dos Estados Unidos deve cair ainda mais à medida que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) se aproxima da conclusão da campanha mais agressiva de alta das taxas de juros desde a década de 1980. Também pesam sobre o dólar preocupações com o sistema bancário, o possível calote da dívida dos Estados Unidos e expectativas, compartilhadas por diversos economistas, de que o país entre em uma recessão nos próximos meses. O aperto promovido pelo Fed estimulou uma recuperação histórica do dólar no ano passado, levando-o a atingir máximas em décadas em relação a moedas como o euro e o iene.

O dólar começou a perder força no outono, manteve-se firme no início do ano, com a inflação se mostrando mais teimosa do que o esperado, e retomou a queda nos últimos dois meses. Esta semana, a expectativa é que o Fed confirme o último aumento de juros de 0,25% antes de fazer uma pausa no aperto da política monetária. A medida colocaria o Fed em descompasso com outros grandes bancos centrais, inclusive na zona do euro e no Reino Unido, que reabriram a economia após os lockdowns da pandemia mais tarde que os Estados Unidos e enfrentam agora uma inflação mais duradoura. Os Estados Unidos estão saindo de um período de desempenho extraordinário. Outros países começam agora a recuperar o atraso, afirmou o J.P. Morgan Asset Management.

Um dólar mais fraco costuma ser uma boa notícia para a economia global. Reduz o custo do serviço ou do pagamento da dívida em dólar para empresas e governos estrangeiros, aumenta o valor dos ganhos no exterior das multinacionais dos Estados Unidos e pode fortalecer o comércio global, já que os produtos cotados em dólares se tornam mais acessíveis aos compradores internacionais. É uma válvula de escape para o crescimento global, pois 60% das dívidas globais são denominadas em dólares; muitas delas estão em mercados emergentes, que são responsáveis por cerca de dois terços do crescimento global na última década. Os investidores apostam que o Fed reduza os custos de empréstimos em pelo menos 0,25% até o fim do ano, como mostram dados do CME Group.

Enquanto isso, os preços de mercado sugerem que os investidores esperam que o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra aumentem as taxas em mais de 0,5% até o final do ano. Essa divergência deve ajudar moedas como o euro e a libra a continuar ganhando em relação ao dólar. Os diferenciais de taxa são um fator crucial dos mercados de câmbio, uma vez que juros mais altos atraem investidores em busca de rendimento. Um complicador é o fato de que o dólar continua sendo um ativo privilegiado em tempos de crise. Se uma recessão global vier a se tornar um risco real se, por exemplo, as tensões bancárias globais piorarem acentuadamente, o dólar provavelmente se recuperaria, como já aconteceu no início de 2020. Enquanto isso, o momento econômico passa por uma transição. O crescimento europeu se mantém bem, de forma inesperada, uma vez que a crise energética da região diminuiu, enquanto a atividade dos Estados Unidos se desacelera.

A economia da China surpreendeu ao crescer 4,5% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior. O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a expansão do PIB dos Estados Unidos desacelere para 1,1% no próximo ano e o PIB da zona do euro suba 1,4%, enquanto prevê crescimento de 4,5% para a China. A trajetória de desempenho excepcional do dólar perdeu força não apenas do ponto de vista das taxas, já que os juros e a inflação podem ter atingido o pico bem antes da zona do euro e do resto do mundo, mas também do ponto de vista do crescimento, segundo o Amundi Institute. O aumento das taxas de juros europeias é uma mudança de regime para o mercado de câmbio que pode levar a uma queda do dólar por vários anos. Os investidores vinham evitando títulos europeus desde que o BCE introduziu taxas negativas em 2014. Agora, estão voltando.

Isso é só o começo, pois muito do capital da zona do euro terá que ser repatriado. Cerca de 300 bilhões de euros, o equivalente a cerca de US$ 331 bilhões, retornaram à Europa desde junho do ano passado, principalmente em ações europeias, e os fluxos podem totalizar cerca de 2 trilhões de euros. O Amundi Institute prevê uma alta adicional de 7% no euro este ano, de US$ 1,10 para US$ 1,18. Os gestores de fundos de hedge aumentaram as apostas contra o dólar, para cerca de US$ 12,2 bilhões em 25 de abril, de acordo com análise feita pelo Scotiabank com os dados da Commodity Futures Trading Commission. As tendências no câmbio tendem a durar pelo menos dois ou três anos. Acredita-se que uma corrida de quase uma década deixou o dólar muito supervalorizado.

Analistas do Goldman Sachs Group estimam que a moeda esteja entre 5% e 15% acima de seu valor justo, enquanto outras moedas como o iene, o rand da África do Sul e a coroa da Noruega estão muito desvalorizadas. A história sugere que a fraqueza do dólar pode ter vida curta. Nos últimos quatro ciclos de taxa do Fed, o dólar tradicionalmente enfraqueceu ou ficou estável por três a quatro meses após o aumento final da taxa, antes de finalmente recuperar força, concluem os estrategistas do JPMorgan Chase. Quando se olha as tendências de longo prazo, continuam relativamente favoráveis ao dólar, segundo a Jefferies. No geral, os Institute ainda têm um ambiente dinâmico que atrai fluxos de capital. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.