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25/Abr/2023

China: fatores limitantes para o crescimento do PIB

O crescimento de 4,5% da China no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2022 foi um bom começo de recuperação depois de ter sido bem afetada pela pandemia de Covid-19 nos últimos três anos. O país deve continuar em trajetória gradual nos próximos trimestres e pode registrar uma expansão do PIB entre 5,2% e 5,5% neste ano, acima da meta de 5,0% determinada pelo governo. No entanto, fatores internos e externos deverão conter um avanço maior do nível de atividade em 2023. Com a reabertura da economia no começo deste ano, os chineses estão retomando o acesso a restaurantes e bares, as compras de produtos não duráveis, como roupas, e o turismo interno, com expressiva elevação das reservas em hotéis e das viagens de avião e trem. Mas, economistas em Hong Kong não esperam expansão bem expressiva da aquisição de mercadorias e serviços pela população neste ano.

Um elemento relevante para isso é a reforma adotada pelo presidente Xi Jinping em 2022 para reduzir o excessivo endividamento de empresas de construção civil, a fim de coibir a especulação imobiliária no país. Embora seja uma medida necessária, reduziu muito o acesso a crédito de companhias do setor, provocando a interrupção de um grande número de obras, que aos poucos começam a ser retomadas com fontes mais seguras de funding. Segundo o banco ING, a contribuição do setor de construção ao PIB será de 0,5% em 2023, modesta para o crescimento do país, que ficará entre 5,3% e 5,5% neste ano. Uma retomada mais firme deste segmento produtivo só deve ocorrer em 2024. A recuperação da economia da China deve continuar no segundo trimestre, quando o PIB deve avançar entre 6,3% e 7% ante o mesmo período de 2022.

Tal expansão deve ser considerada com reserva, pois deve ocorrer sobretudo porque a base de comparação é baixa, dado que muitas cidades industriais, entre elas Xangai, estavam fechadas na mesma época do ano passado devido aos lockdowns. Não é esperado um boom de consumo na China neste ano porque os cidadãos ainda estão céticos com a perspectiva da economia do país no curto prazo, o que é sinalizado nos fracos índices de confiança e de inflação, além da poupança extraordinária da população, que atingiu perto de 5 trilhões de renminbis em 2022. Segundo o banco MUFG, as pessoas estão muito cautelosas para gastar depois de três anos de pandemia, inclusive porque questões estruturais não permitem aumento rápido da geração de postos de trabalho. O desemprego na China está em 5,3%, mas é particularmente bem acentuado para os jovens entre 16 e 24 anos, cuja taxa é de 19,6%. Apenas 35% dos estudantes das principais universidades nacionais, como as localizadas em Xangai, conseguem trabalho logo depois de se formarem.

A China tem uma força de trabalho e população em declínio, e para manter o mesmo crescimento do consumo é necessária expansão da renda, o que está ligado normalmente ao aumento da produtividade do trabalho. Para o banco Credit Suisse, é preciso reconhecer que a verdade para o crescimento do consumo chinês é que será permanentemente menor do que a tendência pré-pandemia. A razão é que não há progresso tecnológico suficiente para aumentar a produtividade do trabalho. Há um crescimento implícito da produtividade total de fatores (PTF) que as autoridades chinesas gostariam (em média de 3% ao ano nos próximos cinco anos). Mas, mesmo com certos avanços tecnológicos na produção de energias renováveis, a produtividade crescerá à média anual de 2,2% neste período. Um dos fatores determinantes desta defasagem tecnológica está relacionado ao fato de que a China não é capaz de fabricar microprocessadores de última geração, o que será agravado nos próximos anos por restrições ao país, de vendas de equipamentos no setor, adotadas por Estados Unidos, Japão e Holanda.

As exportações da China apresentaram desempenho surpreendentemente elevado em março, com expansão de 14,8% ante o mesmo mês de 2022. Além da Rússia, boa parte destas vendas externas ocorreu para países asiáticos, onde estão sendo instaladas novas fábricas de grandes empresas no contexto da reformulação das cadeias internacionais de valor. Mas, tal desempenho acima do esperado vai durar pouco tempo, uma vez que está em curso a desaceleração da demanda agregada nos Estados Unidos e Europa, motivada pela política monetária restritiva para conter a alta inflação. E tal redução do ritmo dessas economias também já está resultando em menor atividade na Ásia, com destaque para Índia, Coreia do Sul e Taiwan. Com as exportações em alta moderada, o setor de construção em lenta retomada e um cenário pouco promissor para as vendas de veículos, devido ao fim em 2022 de subsídios do governo à compra de carros elétricos, a produção industrial na China deve ter avanço não muito expressivo neste ano, em alta de 4%. O número é pouco maior do que a elevação de 3% registrada em 2022.

Como a recuperação da economia da China deve viabilizar um crescimento neste ano em harmonia com a meta estabelecida pelo governo de Xi Jinping, não são esperadas mudanças expressivas na condução da política monetária pelo banco central do país nos próximos trimestres. Inclusive porque, como o consumo não está muito forte, o país passa por processo de desinflação que deverá levar o índice de preços ao consumidor a uma marca média de 2,0% a 2,3% em 2023. Por outro lado, a política fiscal deve ser um pouco mais ativa do que a monetária. Segundo o banco Standard Chartered, os investimentos em infraestrutura devem crescer de 5% a 6% neste ano, depois de terem apresentado elevação de 9,4% em 2022. Os gastos do país devem subir 6% em 2023, mais do que os 3% de aumento apurado no ano passado. O déficit do orçamento como proporção do PIB pode aumentar de 5,9% em 2022 para 7,5% neste ano.

Contudo, se a economia apresentar nos próximos meses um desempenho muito acima do esperado, não se descarta que o governo reduzirá um pouco as despesas a fim de evitar sobreaquecimento do PIB. Para as autoridades do governo de Xi Jinping, seria melhor poupar agora os recursos públicos para utilizá-los em alguma eventual necessidade no futuro próximo. Um fator adicional poderá conter o apoio fiscal ao nível de atividade: os governos locais estão com graves restrições de verba, devido à limitada capacidade de arrecadação durante a pandemia. Além disso, apenas uma parte das receitas pode ser dedicada a investimentos em infraestrutura. Segundo o Pictet Wealth Management, muitas cidades, com 20, 30 milhões de habitantes, elevaram as despesas de forma extraordinária para conter a disseminação da Covid-19 nos últimos três anos, o que deixou seus caixas em situação orçamentária extremamente delicada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.