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19/Abr/2023

G7 quer reduzir dependência econômica da China

Os Estados Unidos e seus aliados lutam para descobrir como restringir as relações econômicas com a China, tentando reduzir os laços em certos setores que consideram estratégicos, ao mesmo tempo em que preservam os fluxos comerciais e de investimentos mais amplos com a segunda maior economia do mundo. A invasão da Ucrânia pela Rússia mudou a forma como as potências Ocidentais consideravam sua estratégia em relação à China, outro rival geopolítico e parceiro próximo de governo russo. A Rússia restringiu as exportações de gás natural para a Europa durante a guerra, desestabilizando os mercados globais de energia. O Grupo das Sete democracias avançadas está cada vez mais preocupado com a possibilidade de a China, um fornecedor dominante de muitos bens e materiais, cortar exportações importantes no caso de um conflito ou outra pandemia, de acordo com as principais autoridades econômicas Ocidentais.

O grupo também teme que os investimentos e a expertise Ocidentais, sem nenhuma restrição, possam ajudar a desenvolver as forças armadas da China. Portanto, segundo o vice-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, a lição aprendida por todos é: esse trabalho duro precisa ser feito agora pela linha de frente. No entanto, as autoridades do G7 dizem que também estão tentando evitar medidas de empobrecimento do vizinho que possam minar o crescimento econômico global enquanto tentam entrar em acordo sobre as medidas políticas específicas para reduzir a dependência da China. O G7 é formado por Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Japão. A grande escolha estratégica que precisa ser feita agora é a busca pelo fortalecimento da resiliência na cadeia de suprimentos, mas sem levar o mundo de volta ao protecionismo, disse Jeremy Hunt, chanceler do Tesouro do Reino Unido. Ele disse que os aliados Ocidentais devem trabalhar juntos como democracias para melhorar essa resiliência.

Na semana passada, nos bastidores das reuniões semestrais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, autoridades do G7 concordaram com as novas iniciativas para fortalecer as cadeias de suprimento. A medida seguiu um compromisso recente entre os Estados Unidos e seus aliados de desenvolver novas ferramentas políticas para combater medidas econômicas hostis. O FMI divulgou um relatório na semana passada ecoando suas advertências anteriores contra a divisão da economia global em blocos geopolíticos concorrentes liderados pelos Estados Unidos e pela China. Tal divisão reduziria o comércio e o crescimento globais. A questão é: “conseguiremos aumentar a segurança do abastecimento sem chegar tão longe a ponto de levar o mundo a entrar em uma segunda Guerra Fria?" disse a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva. "Estou entre as pessoas que conhecem as consequências de uma Guerra Fria. Trata-se de uma perda de talento e colaboração para o mundo. Não quero ver isso de novo."

Dentre os membros do G7, os Estados Unidos, liderados pelo governo Biden, vem pressionando com mais urgência pela reorientação da economia global para longe da China. Novas leis promulgadas no ano passado oferecem grandes subsídios para atrair empresas-chave de energia limpa e tecnologia de semicondutores para os Estados Unidos. O governo restringiu a exportação de semicondutores avançados e equipamentos relacionados para a China. E ainda prepara novas restrições a investimentos no país. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, pediu repetidamente para que os Estados Unidos se voltem mais para o friendshore, contando mais com aliados comerciais próximos. Na semana passada, ela disse que as projeções do FMI sobre as consequências negativas do friendshoring, ou seja, o direcionamento da cadeia produtiva para países neutros ou amigáveis, eram exageradas. O comércio dos Estados Unidos com a China atingiu um nível recorde no ano passado.

As vantagens do comércio aberto, que incluem a alocação mais eficiente de recursos globais, são mantidos com o friendshoring. O argumento de que ele causará uma enorme fragmentação e perda dos benefícios do comércio pode não ser válido, disse Yellen. Alguns aliados amplamente alinhados com os objetivos dos Estados Unidos levantaram preocupações sobre a abordagem do governo Biden quanto à restrição dos laços com a China. Os subsídios dos Estados Unidos para a tecnologia de energia limpa, destinados principalmente a desenvolver a indústria fora da China, enfureceram as autoridades europeias que argumentaram que os requisitos de fornecimento dos novos subsídios colocam suas empresas em desvantagem. As autoridades dos Estados Unidos estão tentando amenizar essas queixas, reunindo uma série de acordos comerciais de cooperação na aquisição de minerais essenciais por meio de um clube de compradores.

Os norte-americanos também estão iniciando um fórum sobre incentivos à energia limpa com a União Europeia para tentar evitar uma guerra de subsídios. Pairando sobre o esforço dos Estados Unidos para criar mais independência da China está a possibilidade de um conflito militar sobre Taiwan, uma ilha autônoma que o governo chinês considera parte da China e cujo controle pretende assumir, e outro possível ponto de conflito com os aliados dos Estados Unidos. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que aceitar as sugestões dos Estados Unidos sobre as tensões entre Taiwan e China seria "a pior coisa" para a Europa. Desde então, as autoridades francesas tentam acalmar o alvoroço em torno desses comentários. O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, disse na semana passada que a França compartilhava as preocupações dos Estados Unidos sobre a dependência da China.

Entretanto, mesmo a elaboração da política dos Estados Unidos em relação à China pode ser algo desafiador e demorado, de acordo com fontes familiarizadas com as deliberações do governo Biden. As autoridades dos Estados Unidos têm ponderado, por exemplo, sobre restringir o investimento norte-americanos na China, visando apenas setores que possam ajudar a aumentar as capacidades militares do governo chinês. As regras são definidas para proibir investimentos de private equity e capital de risco dos Estados Unidos em computação quântica e semicondutores avançados, ao mesmo tempo em que exigem que as empresas divulguem esses investimentos em semicondutores menos avançados. Espera-se que as regras sejam implementadas em um período de regulamentação de um ano. Funcionários do governo norte-americano vêm se esforçando para lidar com a inteligência artificial, enquanto tentam traçar limites entre formas de IA que podem ser usadas para fins militares e outras amplamente usadas na tecnologia civil.

Autoridades dos Estados Unidos esperam reunir o apoio do restante do G7 para a proposta de restringir os investimentos na China. O presidente Biden e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se comprometeram a tomar medidas para impedir que o capital e o conhecimento alimentem as forças armadas de seus rivais estratégicos, durante uma reunião em Washington no mês passado. No comércio, algumas autoridades Ocidentais já estão vendo a China envolvida em atos hostis. A China impôs embargos comerciais informais à Austrália devido a seus pedidos de investigação sobre as origens da Covid-19; e à Lituânia, por permitir que Taiwan abrisse um posto diplomático avançado sob o nome de Taiwan. O país também está considerando restringir as exportações da principal tecnologia de fabricação de energia solar.

O órgão executivo da União Europeia, bem como seus governos membros e o parlamento concordaram, no mês passado, com um projeto de "instrumento de coerção econômica" que estabeleceria etapas para consulta e retaliação contra um país considerado como envolvido em coerção econômica. Espera-se que o assunto esteja na agenda da cúpula dos líderes do G7 em Hiroshima, no Japão, no próximo mês, e uma dupla bipartidária de senadores dos Estados Unidos já elaborou uma legislação sobre o assunto. O secretário de estado parlamentar da Alemanha para a cooperação econômica e o desenvolvimento, Niels Annen, afirmou que não se pode repetir os erros de cálculo ou equívocos cometidos no passado em relação à Rússia com outros grandes países, referindo-se à dependência da Europa das exportações de energia russas antes da invasão. Porém, o bloco não quer impor uma política ou estratégia de dissociação.

A Europa está cada vez com mais dificuldade de evitar tomar um posicionamento claro sobre a questão de Taiwan. A declaração do presidente francês, Emmanuel Macron, durante visita recente à China, de que a União Europeia (UE) não deverá seguir o posicionamento dos Estados Unidos sobre o assunto provocou uma agitação nos Estados Unidos e em partes da Europa. O incidente também expôs o grau em que a Europa evitou discussões para adotar uma abordagem comum da União Europeia para uma possível crise, com a escalada das hostilidades entre Estados Unidos e China no Estreito de Taiwan. Segundo o diplomata alemão Wolfgang Ischinger, que presidiu a Conferência de Segurança de Munique até 2022, as tensões EUA-China sobre Taiwan não estavam no radar de muitos países europeus menores até recentemente.

As capitais europeias preferiram contornar um problema tão grande e complicado. A posição formal da União Europeia é que não deve haver mudança unilateral do status quo por parte de das lideranças de Taiwan ou China. Ou seja, oposição a qualquer uso da força por parte da China para tomar Taiwan e nenhum apoio à independência da ilha. Mas, na prática, cada Estado-membro aborda a questão de maneira diferente, dependendo da força de seus laços com a China. Enquanto alguns países do bloco, como a Lituânia, aprofundaram os laços econômicos e políticos com Taiwan, defendendo-a por valores democráticos compartilhados, outras capitais são mais cautelosas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.