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24/Mar/2023

Dólar em alta na contramão do movimento externo

Receios em torno dos atritos entre o governo Lula e o Banco Central, após a autoridade monetária ter descartado cortes da Selic no curto prazo, se sobrepuseram a todos os demais fatores baixistas para o dólar, fazendo a moeda norte-americana fechar em alta firme ante o Real. Na quarta-feira (22/03), o Banco Central anunciou a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, o que era largamente esperado, mas publicou um comunicado duro em relação ao cenário para a inflação. Contrariando expectativas do governo e de parte do mercado, o Banco Central não deu indicações de quando começará o corte de juros. Com a Selic em patamares altos por mais tempo, o que torna o Brasil mais atrativo para os investidores estrangeiros, era natural esperar uma queda do dólar ante o Real. Mas, o receio de que a relação entre governo e Banco Central se deteriore ainda mais colocou a moeda norte-americana em trajetória de alta ante o Real.

O dólar fechou a R$ 5,28, em alta de 1,02%. O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) foi considerado duro por analistas do mercado, ao não sinalizar a proximidade de um corte de juros. No documento, o colegiado ressaltou a deterioração do ambiente externo, a desancoragem das expectativas de inflação e a incerteza quanto ao arcabouço fiscal do governo, entre outros fatores. Em função da expectativa de que a Selic fique em alta por mais tempo, o dólar tenderia a cair na sessão desta quinta-feira (23/03). No início da sessão, isso até ocorreu. O dólar marcou a mínima de R$ 5,20 (-0,64%), com os investidores dispostos a vender. Ainda durante a primeira hora de negócios, no entanto, a moeda norte-americana passou a subir, contrariando inclusive o exterior, onde o dólar recuava em relação a outras divisas de exportadores de commodities.

Segundo a FB Capital, era para o Brasil estar alinhado com o movimento externo, onde o dólar cai e a bolsa sobe, mas o País ficou descolado por fatores domésticos: inflação fora do controle, País com problemas para honrar suas contas e o presidente sem entender que temos um Banco Central autônomo e independente. O receio de que a relação entre governo e Banco Central possa piorar acabou se sobrepondo aos demais fatores baixistas. Para o Banco Ourinvest, o dólar subiu bastante, embora o Banco Central tenha mantido a Selic e tenha feito um discurso mais duro, sinalizando que poderá fazer algum ajuste residual se necessário. Isso em tese deveria ser positivo para o dólar, ainda mais em um cenário em que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tinha amenizado o discurso no dia anterior. Mas, não foi o que aconteceu. O desgaste entre governo e Banco Central foi o que causou essa pressão no dólar.

Ainda na noite de quarta-feira (22/03), a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, criticou Roberto Campos Neto nas redes sociais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerou o comunicado do Banco Central muito preocupante e disse que a autarquia poderá comprometer o resultado fiscal do País. Nesta quinta-feira (23/03), foi a vez de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disparar contra o Banco Central. “Eu digo todo dia: não tem explicação para nenhum ser humano do planeta Terra a taxa de juros do Brasil estar a 13,75%, não existe explicação", afirmou Lula. O resultado foi a alta firme do dólar, contrariando as expectativas pós-Copom. No exterior, o dólar operava mais próximo da estabilidade ante uma cesta de moedas. O índice do dólar, que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas, subia 0,09%, a 102,530. O Banco Central vendeu todos os 16 mil contratos de swap cambial tradicional, ofertados na rolagem dos vencimentos de maio. Fonte: Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.