ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

22/Mar/2023

Críticas à elevada taxa de juros praticada no Brasil

Em palestra durante o seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI”, promovido pelo BNDES em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o economista norte-americano Jeffrey Sachs, professor da Universidade Columbia, afirmou que não há fundamentos econômicos, nem mesmo olhando para a situação fiscal, para explicar taxas de juros tão elevadas no Brasil. Os juros elevados são um impeditivo à elevação da taxa de investimento como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), com destaque para o investimento público. Para Sachs, o baixo nível da taxa de investimento é o principal responsável pelo problema fundamental do Brasil, um crescimento econômico cronicamente baixo.

A situação fiscal do Brasil é distorcida por taxas de juros extraordinariamente altas. As taxas reais são tão altas não por causa dos fundamentos fiscais, mas por outras razões. Não por causa do orçamento. Às vésperas da divulgação da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a Selic, nesta quarta-feira (22/03), há muitas críticas às elevadas taxas de juros no Brasil, por parte do vice-presidente Geraldo Alckmin e do economista norte-americano Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de economia em 2001. Sachs minimizou a situação fiscal do Brasil. O endividamento, em termos líquidos, não é tão mais elevado que o de outros países emergentes. Além disso, o perfil da dívida pública é basicamente interno, com baixo endividamento externo.

Por fim, o déficit primário nas contas públicas é relativamente pequeno, quando comparado ao de outras economias. O peculiar é que o déficit nominal total é enorme, porque as taxas de juros são elevadas. Por causa da taxa básica, o juro médio da dívida pública do Brasil está em torno de 11% ao ano, contra 2% ao ano na dívida pública dos Estados Unidos, que tem um endividamento maior. Com isso, o Brasil gasta 7% do PIB com juros, no Orçamento. Enquanto isso, os Estados Unidos gastam 1,5% do PIB com juros. Se a situação fiscal não justificaria taxas de juros elevadas, as pressões inflacionárias também não. A inflação é comparável com a dos Estados Unidos e da Europa. Segundo Sachs, o Banco Central poderia fixar a taxa básica de juros (Selic, hoje em 13,75% ao ano) em níveis mais elevados para "proteger" uma quantidade limitada de reservas cambiais, mas não é o caso do Brasil.

As reservas equivalem a 12 meses de importações, uma das relações mais elevadas do mundo. Por isso, para Sachs, a explicação para uma Selic tão elevada é uma "charada", explicada por outras razões, que não o desequilíbrio fiscal, a inflação elevada ou o baixo nível de reservas. Uma das razões é que a política do Banco Central coloca a Selic muito alta. Parece que é por causa da política monetária ou por causa de um medo geral com crises. O economista norte-americano aproveitou para criticar as agências internacionais de classificação de risco. Para Sachs, não há fundamentos para o Brasil ter notas de crédito abaixo do grau de investimento - em 2015, com a Standard & Poor's (S&P) à frente, as agências baixaram a nota soberana do Brasil, tirando o grau de investimento (nível a partir do qual a dívida pública de um país é considerada um investimento menos arriscado).

Sachs sugeriu que o governo brasileiro faça gestões junto a organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e às agências para melhorar suas notas. Em seguida, dado que o economista não considera o endividamento público elevado, especialmente o externo, Sachs recomendou que o governo recorresse a financiamentos de longo prazo com organismos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), para ampliar os investimentos públicos, em infraestrutura e capital humano, em vários pontos percentuais do PIB. A dívida aumentaria um pouco, mas o crescimento econômico também aumentaria. Se não, o Brasil ficará preso no baixo crescimento até aumentar as taxas de investimento significativamente. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.