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21/Mar/2023

Agravamento das desigualdades sociais no Brasil

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Com a pandemia, ficou ainda mais. Não pelo distanciamento entre os extremos, mas pelo encolhimento da classe média. Segundo pesquisa da FGV Social (O Mapa da Riqueza), em 2020 a queda nos rendimentos dos 10% mais ricos foi de 1,2%. Entre os 40% mais pobres, houve até um ganho marginal de 0,2%. Para os ricos, o choque foi amortecido por seus ativos e patrimônio; para os pobres, por programas assistenciais. Sem riqueza privada nem proteção pública, a renda da classe média, já em corrosão desde a recessão de 2014, desabou 4,2%. Há outros cortes elucidativos. As localidades mais ricas estão associadas ao poder público federal ou à produção de commodities. O município de Nova Lima (MG), rico em minérios, tem a maior renda média: R$ 8.897,00 por mês. Entre os Estados, é o Distrito Federal que concentra os mais abastados. Mesmo nas zonas ricas, há brutais disparidades.

Os habitantes do Lago Sul de Brasília, por exemplo, têm renda média de R$ 23.241,00 (três vezes a de Nova Lima) e um patrimônio médio de R$ 1,4 milhão, nada menos que 1.000 vezes o dos moradores do bairro de Itapuã em Brasília. Ao acentuar problemas crônicos, a pandemia alerta para a necessidade de abandonar velhos remédios que, na melhor das hipóteses, aliviam momentaneamente sintomas, mas não atacam o mal pela raiz, e, na pior, são um veneno que o aprofunda. Não há soluções mágicas. Nem por isso há um enigma insolúvel. O Banco Mundial, por exemplo, sintetizou quatro focos para esforços de longo prazo: investimentos em capital humano, em infraestrutura e acesso a ativos produtivos (como terra e ferramentas digitais), em reformas modernizantes (como a administrativa ou a tributária) e em modelos estatísticos para avaliar e corrigir políticas públicas. São fins relativamente consensuais. A divergência está nos meios. No início dos anos 2000, o País deixou para trás uma sucessão de crises.

Engrenagens forjadas no governo FHC controlaram a inflação, liberalizaram o comércio, consolidaram marcos de governança, ampliaram o acesso à educação e aperfeiçoaram políticas sociais. Em seu primeiro mandato, o governo Lula adotou esse maquinário. Turbinado pelo superciclo das commodities, ele viabilizou a primeira queda sensível da desigualdade em décadas. Finda a bonança, lançou-se mão de uma série de políticas exasperadas e imediatistas que desencadearam um novo ciclo de retrocessos. Em 2022, o economista Marcos Mendes compilou uma coletânea de artigos em um livro cujo título diz tudo: “Para não esquecer - Políticas públicas que empobrecem o Brasil”. As evidências são abundantes: o crescimento sustentável é basicamente fruto do aumento de produtividade. Fazendo mais e melhor, uma economia gera mais valor e renda. Em outras palavras: trata-se de aumentar a capacidade da oferta. Mas, recorrentemente prevalece a opção artificial e demagógica do crescimento pela demanda.

Remédios emergenciais para choques excepcionais (como o de 2008), como gastos públicos para incentivar o consumo e capitalizar empresas, reduções forçadas de juros, subsídios ou barreiras protecionistas, tornam-se regra. Os benefícios restam concentrados em enclaves políticos e econômicos poderosos, mas diminutos, e os custos são dispersados para a população. A produtividade e a previsibilidade caem, e com elas o crescimento que se supunha estimulado. Há uma correlação entre igualdade, civilidade e prosperidade. Em geral, países mais igualitários são mais ricos e democráticos. A desigualdade persistente, por sua vez, corrói o tecido civil e corrompe as instituições públicas, em uma espiral de degradação. Como tudo na vida humana, a evolução social se faz por tentativas e erros. Mas, como diz a sabedoria popular, errar uma vez é humano; duas, é burrice. O PT inicia seu quinto mandato no Executivo em 20 anos. Se persistir nos mesmos erros, já será perversidade. Nem por isso a sociedade civil organizada, os governos regionais ou o Congresso precisam seguir pelo mesmo caminho. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.