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10/Mar/2023

Centro-Oeste desperta interesse do setor financeiro

De acordo com dados sobre o segmento private no Brasil, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a mentalidade do agropecuarista “das antigas”, segundo a qual comprar terras é a maneira mais segura de se investir o dinheiro ganho, aos poucos, vem mudando. A geração mais nova de produtores já vê com bons olhos as aplicações que asseguram liquidez ao patrimônio. Em 2022, enquanto a abertura de contas por clientes private, em nível nacional, cresceu 8% e o volume em recursos investidos, 7,3%, na Região Centro-Oeste, onde predomina a atividade agropecuária, a abertura de contas no segmento private avançou 18,7% sobre 2021 e o volume investido, 23,4%. O que está por trás destes números é a pujança da agropecuária. Nos últimos anos, ocorreu um aumento expressivo de riqueza na Região Centro-Oeste. Muitos produtores ascenderam à categoria de clientes privates. Gestoras de recursos de terceiros descobriram o eixo Centro-Oeste e sua riqueza, advinda da agropecuária.

Por sua vez, os agropecuaristas descobriram as vantagens de se investir nos segmentos clientes privates. Isso despertou o interesse de escritórios de investimentos independentes credenciados por grandes gestoras e corretoras, como da XP Investimentos, por exemplo. Segundo a Araújo Fontes, uma das principais butiques de investimentos independentes no Brasil, dos quatro Estados que mais contribuem para o desempenho do PIB Agropecuário no País, numa proporção de 67%, dois estão na Região Centro-Oeste. São eles: Mato Grosso, em 1º lugar, e Goiás, em 4º. Paraná e Rio Grande do Sul, dois Estados da Região Sul, respectivamente, aparecem em 2º e 3º lugares. A Região Centro-Oeste tem uma característica particular que faz com que as instituições financeiras se sintam mais atraídas em abrir representações e escritórios naquela região do que na Região Sul. No Paraná e no Rio Grande do Sul, as propriedades são muito pulverizadas, distribuídas entre pequenas famílias.

O valor da terra é muito alto. Essa é uma das explicações para o grande número de cooperativas nos Estados da Região Sul. A Região Centro-Oeste, por sua vez, mais especificamente em Mato Grosso e Goiás, tem por característica propriedades com grandes extensões. A região usa como medida agrária o alqueirão ou alqueire mineiro, que corresponde a 48.400 metros quadrados, o dobro do alqueire usado nas Regiões Sul e Sudeste, com 24.200 metros quadrados. Isso leva a uma concentração maior de clientes privates no Centro-Oeste. Está ocorrendo uma mudança de mentalidade entre os agropecuaristas da Região Centro-Oeste. Ao contrário dos antigos que investiam o dinheiro ganho para comprar terras, os agropecuaristas agora estão dando preferência a investimentos com maior liquidez. A filosofia agora é arrendar terras e não comprar. O novo agropecuarista não quer mais imobilizar seus recursos. Segundo a butique de investimentos Araújo Fontes, a pujança da agropecuária na Região Centro-Oeste do Brasil é tamanha que, em um Estado industrializado como Goiás, o setor desperta mais o interesse das instituições financeiras do que os segmentos fabril e de comércio.

No ano passado, as aberturas de contas no segmento private no Centro-Oeste avançou 18,7% em relação a 2021 e o volume de investimentos cresceu 23,4%. Fechou acima do crescimento de 8% na abertura de novas contas em nível nacional e de 7,3% no volume investido. Na comparação com os dois maiores eixos financeiros do País, o desempenho da Região Centro-Oeste também se mostra robusto. Em São Paulo as altas foram de 7,6% nas contas e de 4,6% no volume investido. No Rio de Janeiro, os aumentos foram de 3,8% e 7,8%, respectivamente. Goiás, por exemplo, é muito industrializado e tem muitas empresas. Esses segmentos também são atendidos pelos escritórios representativos das instituições financeiras, mas o que chama mesmo a atenção é o agro. O Distrito Agroindustrial (DAIA) de Anápolis é sede do polo farmacêutico de Anápolis, que só perde em tamanho para São Paulo. Mas, são os empresários do agro que mantém a liquidez do Estado. Os produtores agrícolas e pecuaristas da região estão mudando a cabeça e correndo atrás de investimentos mais líquidos do que aquisição de terras.

O interesse das instituições financeiras privadas pelo setor agropecuário bem como a busca dos investimentos pessoa física dos empresários deste segmento têm raiz no ano de 1996, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) renegociou e assumiu as dívidas do setor com o Banco do Brasil (BB), fazendo um aporte de R$ 8,5 bilhões para o banco público. Na esteira desta renegociação, FHC não só proibiu o Banco do Brasil de voltar a perdoar atrasos futuros de dívidas como determinou que as dívidas atrasadas fossem executadas. De 1996 para cá, o Banco do Brasil passou a executar as dívidas atrasadas e a disciplinar os produtores. Acabaram os perdões de dívidas e os produtores que usavam o dinheiro para comprar terras em vez de quitar suas dívidas, passaram a honrar seus compromissos e buscar outras linhas de financiamentos, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Cédula do Produtor Rural (CPR) e operações barter, que consiste no pagamento pelo insumo com entrega futura do grão no pós-colheita, sem intermediação monetária.

Ou seja, o produtor agropecuário tem buscado mais estas linhas de financiamento do que o crédito subsidiado. Essa nova mentalidade aliada ao fato de os produtores estarem capitalizados é que tem despertado o grande interesse das instituições financeiras para receber em investimentos o dinheiro destes empresários. Na verdade, “o agro é o setor público que deu certo”. Os produtores gostam de se gabar, principalmente em épocas de eleição, dizendo que o agro é o setor privado que deu certo no Brasil. mas, o agro só deu certo porque sempre recebeu crédito subsidiado do governo. Se aperfeiçoou com as pesquisas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Institutos Agrícolas estatuais que nunca cobraram nada dos produtores. Agora, a Região Centro-Oeste cresce a ritmo chinês e desperta o interesse do mercado financeiro. E vai continuar a crescer porque a previsão é de mais um recorde de colheita na safra 2022/2023. A tendência é continuar a crescer porque o agro é a vocação do Centro-Oeste. O que pode diminuir é o salto nas aberturas de contas privates, mas as carteiras vão continuar se expandindo com a riqueza dos empresários do agronegócio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.