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31/Jan/2023

Empresas apostam na retomada do consumo popular

Fogão por R$ 600,00, sapatilha de R$ 49,90, exame de sangue a R$ 6,50, detergente abaixo de R$ 2,00. Da indústria a prestadores de serviços, empresas começaram a desenhar produtos voltados para os brasileiros das classes C, D e E na expectativa do retorno do consumo popular. As companhias admitem que há obstáculos a serem superados para a modalidade deslanchar, como inflação e juros altos. No entanto, enxergam motores a favor desse movimento. O reajuste real do salário-mínimo e a manutenção de R$ 600,00 para o Bolsa Família devem injetar mais recursos na economia. O governo já indicou ainda que vai lançar o “Desenrola”, um programa para a renegociação da dívida das famílias, e que pode acabar com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos.

Esses itens estão próximos de esgotar um ciclo de vida útil, iniciado há 10 anos. Líder na fabricação de fogões populares, a Esmaltec lançou modelos de eletrodomésticos mais acessíveis ao consumidor. A companhia mantém os preços dos fogões e das geladeiras de entrada (as mais baratas) na faixa de R$ 600,00 a R$ 1.100,00, respectivamente. Parte dos produtos já está no mercado desde dezembro. A fabricante avalia ainda a possibilidade de produzir tanquinhos. Esse eletrodoméstico foi, no passado, um dos ícones da ascensão da classe C. Se o governo acabar com o IPI para a linha branca, vai ser um impulso muito grande à produção. Vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin já disse que pretende acabar com esse imposto com a reforma tributária.

Há 50 anos fabricando itens de limpeza para as classes de menor renda, a GTEX também traçou a sua rota para o novo ciclo de consumo popular. Dona das marcas Urca e Baby Soft, a empresa comprou no ano passado quatro fábricas em diferentes regiões do País. As novas unidades se somaram às cinco já existentes. A meta da companhia é faturar R$ 2 bilhões até 2024, com alta de 60% ante 2022. Esse crescimento está ancorado na expectativa da volta do consumo popular, principalmente regionalizado. No setor de calçados, a Beira Rio foca em sapatilhas da marca Moleca, cujo modelo de entrada custa R$ 49,90, e nas sandálias mais baixas. A empresa está preparando os produtos para atender a demanda desse mercado.

Até tradicionais prestadores de serviços já desenham produtos para a classe de menor renda. O Grupo Fleury, por exemplo, um dos gigantes do setor de saúde, inaugurou no ano passado laboratórios de análises clínicas voltados para essa faixa da população. O atendimento das classes C, D e E é prioridade na companhia. Desde a eleição presidencial, o humor dos mais pobres melhorou. A confiança no futuro da economia avançou entre as famílias com renda mensal de até R$ 2.100,00 e superou a da faixa mais rica da população (aquela que ganha mais de R$ 9.600,00l, de acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas - Ibre/FGV). Em janeiro, o índice de expectativas nas famílias de baixa renda, apurado dentro da confiança do consumidor, atingiu 108,4 pontos, enquanto entre as famílias de maior renda ficou abaixo de 100 pontos, permanecendo, portanto, no campo do pessimismo.

Tem um aumento das expectativas que foi influenciado nesse período pós-eleição. Há uma expectativa de que o novo governo faça alguma diferença para as famílias de mais baixa renda. Mas, é preciso ressaltar que há uma expectativa muito forte em relação ao emprego, e isso não parece ser uma realidade, considerando que a atividade econômica desacelerou. A sinalização de que o novo governo deve priorizar o consumo popular ficou evidente no discurso de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional. Mesmo em um cenário difícil, o potencial de consumo das classes C, D e E está longe de ser desprezível. A Tendências estima que a massa de renda disponível dessas classes deve somar R$ 665,5 bilhões em 2023.

Existem fatores positivos, mas também limitantes, como o efeito da política monetária, que acaba batendo no custo do crédito e na inadimplência. Na avaliação da Boa Vista, a inadimplência, o endividamento, os juros e a demanda por crédito neste momento ainda não estão em níveis propícios ao avanço do consumo popular no curto prazo. A inadimplência do consumidor encerrou o ano passado com avanço de quase 20%, segundo o indicador do birô de crédito, e segue com tendência de alta. Mas, há fatores exógenos que podem ter impacto no consumo, como o “Desenrola”. Se o programa de renegociação de débitos acontecer, poderá dar algum tipo de estímulo ao consumo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.