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25/Jan/2023

Moeda Brasil-Argentina: mercado vê com ceticismo

Os graves desequilíbrios macroeconômicos da Argentina inviabilizam o plano de criação de uma moeda comum com o Brasil, anunciado na segunda-feira (23/01). Mesmo que o objetivo do instrumento não seja substituir as moedas fiduciárias dos países, economistas consideram o projeto desnecessário, impraticável e guiado por motivações ideológicas. A divisa comum foi apresentada como uma solução para fomentar o comércio bilateral. O desenho final da proposta ainda depende do resultado dos estudos mais aprofundados, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já antecipou que o recurso será restrito a transações comerciais e financeiras. Para ele, a importação da Argentina está fraca e o problema é a divisa. Apesar das promessas de preservação da exclusividade do peso argentino e do Real brasileiros em cada um dos territórios, especialistas no exterior receberam a proposta com ceticismo. Em análises de consultorias internacionais, adjetivos como "insensato", "inviável" e "ruim" foram usados para definir o projeto.

Alguns especialistas enxergam, inclusive, motivações puramente populistas dos dois governos. É o caso da Oxford Economics para a América Latina que entende haver um desejo dos governos Lula e do presidente argentino, Alberto Fernández, de agradar suas bases eleitorais. O projeto oferece mais uma evidência que é a ideologia, e não o pragmatismo, que está orientando as políticas na América do Sul, o que nunca é uma boa notícia para as empresas. No entanto, para além das questões políticas, prevalece o consenso de que Brasil e Argentina apresentam perfis econômicos significativamente distintos. Para começar, com uma inflação que se aproxima de 100% na base anual em apenas um mês, os argentinos enfrentam em um mês alta de preços mais acelerada do que os brasileiros veem em um ano. Essa disparidade exige posturas de política monetária e fiscal muito diferentes cada uma e quase garante que o valor do sur (nome do projeto) esteja fadado a despencar com o tempo.

É questionada a efetividade e a necessidade de uma ferramenta desse tipo. O comércio entre os dois países representa apenas 6% do Produto Interno Bruto (PIB), o que torna a ideia não apenas irrelevante, como inviável. Para que seja possível avançar com a integração, os governos da Argentina e do Brasil precisariam criar e capitalizar um Banco de Compensações. O problema é que, embora o Brasil disponha de vastas reservas internacionais, o cenário é outro na Argentina. O país já está no meio de uma grave crise de balanço de pagamentos e não tem dólares para pagar os detentores de títulos e financiar suas próprias importações, muito menos financiar um novo banco internacional. A Pantheon Macroeconomics ressalta que a Argentina tem problemas estruturais muito grandes, que deveriam ser solucionados antes de qualquer ideia de integração. Os custos de incorrer em um projeto como este superaria em muito os possíveis benefícios de uma união, devido às condições iniciais desses países, em particular a Argentina.

A Eurasia classifica como improvável a efetivação da divisa comum. Além dos desafios econômicos enormes, principalmente na Argentina, o quadro político é incerto, antes das eleições presidenciais marcadas para outubro no país vizinho. O anúncio, portanto, é impulsionado principalmente pelo desejo de ambos os presidentes de sinalizar um compromisso com a integração regional. Se entre economistas a reação ao anúncio foi de descrença, entre empresários argentinos houve melhor receptividade. A Associação de Empresários e Empresas Nacionais para o Desenvolvimento Argentino (ENAC) afirmou que a moeda comum dispensaria o dólar para transações bilaterais, o que traria maior dinamismo para exportações e importações. Hoje, os bancos brasileiros relutam em financiar operações normais de comércio exterior com a Argentina, equiparando o país à Rússia, o que é gravíssimo. A Confederação Empresarial da República Argentina afirmou que espera que o projeto ajude a aumentar as exportações argentinas para o Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.