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06/Dez/2022

Preços dos produtos agropecuários desacelerando

Os preços dos principais produtos agropecuários apontam para uma desaceleração ao longo do terceiro trimestre deste ano. É o que mostra a nota Preços e Mercados Agropecuários, divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no dia 2 de dezembro, realizada em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). A análise é fruto do acompanhamento dos preços domésticos e internacionais, além do balanço de oferta e demanda dos principais produtos agropecuários brasileiros referentes às safras 2021-2022 e 2022-2023. Alguns fatores estão contribuindo para a queda recente dos preços do setor, que estiveram em trajetória de alta desde 2020, intensificada com o conflito no Leste Europeu. Dentre eles, se destaca a expectativa de aumento da oferta de diversos produtos.

O Brasil, que é um importante ator no mercado internacional, contribuirá na próxima safra (2022/2023), particularmente, com a soja, com crescimento previsto de 22,3% na soja em grão, 5,3% no farelo e 5,3% no óleo frente à safra anterior, milho (12,0%), algodão (16,7%) e café (5,6%). O trigo, principal produto da pauta de importação do País, deve fechar a safra de inverno de 2022 com alta de 23,7% na produção frente à safra do ano passado. A maior disponibilidade dessas commodities tem contribuído também para a recomposição dos estoques de passagem, que vinham caindo desde o início das políticas de isolamento social estabelecidas devido à pandemia de Covid-19. No final do ano, o cenário de preços agropecuários mais elevados frente a 2021 vai se consolidando. Entre todos os produtos acompanhados, isso não se verificou apenas para o milho, o arroz e a carne suína. No entanto, entre o segundo e o terceiro trimestres do ano, em geral, as cotações dos produtos agrícolas caíram, enquanto os pecuários subiram.

As valorizações observadas na pecuária (com exceção do boi gordo) refletiram, em geral, o aumento da demanda característico para o período. Além da oferta dos produtos no mercado, as cotações internacionais impactam o preço doméstico porque o Brasil exporta boa parte dessas commodities. Como o País é competitivo e um dos principais players no mercado internacional para a maior parte das commodities agropecuárias, o aumento da demanda internacional implica na elevação dos embarques, vide a China. De fato, a China, que é o maior importador de commodities agropecuárias do mundo, além de ser o principal destino dos embarques brasileiros, tem sido uma das responsáveis pelo aumento do preço internacional do boi gordo. Essa commodity foi a única a registrar aumento contínuo até outubro deste ano e segue tendência de alta desde 2005, com oscilações cíclicas, mas sempre renovando as máximas históricas. Além da maior da demanda, a produção passou por um período de recomposição de rebanho nos principais países produtores, o que impactou a oferta.

Na comercialização dos grãos, um acordo estabelecido em julho deste ano para a criação de um corredor de trânsito de três portos ucranianos no Mar Negro aliviou a escassez de alimentos por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia, que são exportadores relevantes também de fertilizantes. O acordo, que é visto como uma solução ao comércio desses dois países com o mundo, foi prorrogado em 18 de novembro por mais 120 dias e isso contribuiu para aumentar a oferta mundial desses produtos. A crise energética também tem contribuído para a alta nos custos de produção em diferentes etapas da cadeia, uma vez que a energia é um dos itens do cálculo da inflação. A combinação do aumento dos custos com a inflação em geral ajudou na desaceleração do consumo mundial e pode impactar ainda mais o consumo por alimentos nos próximos meses. Na União Europeia, que é o segundo maior importador de commodities agropecuárias do Brasil, o fornecimento de energia foi ainda mais grave.

Até fevereiro deste ano, 37,5% do gás consumido na Europa vinha da Rússia e desde então o bloco tem buscado alternativas. Apesar das incertezas, para 2023, as perspectivas de produção são otimistas. Até o momento, para a soja, o principal grão produzido no Brasil, o crescimento de área previsto tem sido corroborado com as informações levantadas pela Conab e, não havendo problemas significativos de produtividade, o País deve caminhar para uma safra recorde e recuperação das exportações e dos estoques de passagem para o grão no ano que vem. O crescimento de área de soja pode ser um bom sinal também para o milho da 2ª safra, principalmente pela importância do milho brasileiro para o abastecimento do mercado nacional e internacional em um ambiente que ainda é de menores estoques do cereal no mundo. De toda forma, os preços dos principais produtos agropecuários comercializados no país caminham para encerrar o ano em patamares ainda elevados, mas a desaceleração observada no terceiro trimestre fez a escalada arrefecer, e a expectativa de crescimento das ofertas domésticas em 2023 pressiona os mercados.

Soja

No mercado de soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, o Indicador Cepea/Esalq Paraná encerrou o terceiro trimestre com valor médio 2,3% menor que em igual período de 2021, o que reduziu a alta acumulada nos dez primeiros meses do ano para 11,8%. Essa variação positiva é sustentada, em boa medida, pela quebra na safra 2021/2022 na Região Sul e em parte de Mato Grosso do Sul. Também colaboraram para essa alta até outubro a elevação das tarifas de exportação de farelo e óleo de soja na Argentina e a invasão da Ucrânia pela Rússia. A queda do petróleo e os riscos de recessão global, contudo, desidrataram os preços entre julho e outubro, num movimento fortalecido pela queda de demanda na China. O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo, e o país asiático lidera com folga as importações.

Milho

No mercado de milho, o indicador Esalq/BM&F caiu 5,1% no terceiro trimestre ante igual intervalo do ano passado, e com isso de janeiro a outubro a variação também passou a ser negativa (4,3%). A 2ª sara de 2022 recorde pesou sobre as cotações domésticas, mas as cotações ainda encontraram algum suporte nos reflexos negativos da guerra sobre as exportações ucranianas, que gerou cotações recorde do cereal no mercado internacional em maio.

Trigo

O Indicador Cepea/Esalq do trigo no Paraná, por sua vez, recuou 3,6% no terceiro trimestre, mas ainda encerrou os dez primeiros meses do ano com aumento de 22%. Entre os grãos, o trigo foi o que mais subiu por causa da guerra, tendo em vista o peso da Ucrânia no mercado, e problemas climáticos que afetaram as produções de Argentina e Estados Unidos também colaboraram para o salto das cotações. Mas, a boa colheita no Brasil, apesar das fortes chuvas no Paraná, tirou parte do suporte.

Proteínas animais

Entre as proteínas animais, o preço médio do boi gordo em São Paulo caiu 3,6% no terceiro trimestre, mas mesmo assim houve alta de 6,2% de janeiro a outubro. No caso da carcaça especial suína, houve alta de 9,4% no trimestre e queda de 8,9% até outubro, e no frango abatido (inteiro e resfriado) as variações do preço foram apenas positivas, 2,8% e 8,4%, respectivamente.

Fonte: Valor Online e Conab. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.