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28/Nov/2022

China: lockdowns ameaçam cadeia de suprimentos

Lockdowns generalizados na China, na tentativa conter o maior surto de Covid-19 do país, ameaçam voltar a gerar incertezas nas cadeias de suprimentos globais e diminuir as perspectivas de crescimento econômico mundial. A luta do governo chinês para conter o vírus, que inclui fortes restrições à vida cotidiana e ao comércio em cidades desde o maior centro portuário de Tianjin, no norte, até Guangzhou, no sul, ocorre no momento em que as economias de outros países desaceleram à medida que os bancos centrais elevam as taxas de juros para conter inflação. As medidas pesadas e adotadas de forma generalizada emitem um forte sinal de que o país e seus líderes não estão prontos para uma reabertura sustentada, quase três anos após o início da pandemia e muito depois de outras grandes economias terem desmontado quase todos os controles relacionados à Covid-19.

A abordagem contínua de tolerância zero em relação à Covid-19 indica que o mundo não pode confiar na China como uma locomotiva do crescimento no momento em que as economias dos Estados Unidos e da Europa desaceleram. Muitos economistas esperam que os Estados Unidos entrem em recessão em algum momento nos próximos 12 meses. Havia a expectativa de que, à medida que o mundo desacelerasse, a China se recuperaria. Agora, parece improvável que isso aconteça no primeiro semestre do ano que vem. Um possível ponto positivo é que o fraco crescimento da China no próximo ano pode significar menor demanda por energia e outras commodities e menos pressão de alta sobre a inflação global, o que pode trazer um alívio necessário para bancos centrais, consumidores e empresas. No entanto, uma repetição da drástica interrupção nas cadeias de suprimentos globais que coincidiu com os lockdowns de dois meses em Xangai na primavera do Hemisfério Norte, por si só, pode trazer pressões de preços.

O sucesso do líder chinês Xi Jinping em garantir um terceiro mandato elevou as expectativas entre investidores de que o país poderia estar próximo de abandonar a abordagem de tolerância zero. Em novembro, o governo publicou um plano de 20 pontos para aperfeiçoar alguns controles do vírus, como reduzir o período de quarentena e diminuir as restrições a contatos próximos de casos confirmados, aumentando a esperança de uma recuperação na economia chinesa. Uma flexibilização sustentada dos controles da Covid-19 é improvável até que o governo da China consiga aumentar as taxas de vacinação, especialmente entre o grande número de cidadãos idosos relativamente menos imunizados e mais vulneráveis, e expandir a capacidade hospitalar.

O potencial de consequências econômicas pode ser observado na maior fábrica de montagem de iPhones do mundo, um amplo complexo industrial administrado pela Foxconn Technology Group na cidade de Zhengzhou, região central da China, onde trabalhadores entraram em confronto com a polícia na semana passada durante protestos após semanas de controles rígidos da Covid-19. Milhares de trabalhadores haviam fugido da fábrica quando a quarentena em massa de funcionários esgotou a capacidade das linhas de montagem e a Apple havia alertado que a entrega de iPhones de última geração seria menor do que o esperado devido a essas interrupções. Economistas e especialistas em cadeia de suprimentos dizem estar cautelosamente otimistas de que uma interrupção na escala vista durante o longo lockdown de Xangai no início do ano é improvável, tendo em vista a grande retração na demanda do Ocidente por mercadorias, à medida que os consumidores enxugam os gastos.

Por outro lado, podem surgir problemas, especialmente se os lockdowns afetarem os principais portos ou aeroportos ou se as restrições persistirem até o próximo ano. Pode não ser tão ruim quanto foi antes. No entanto, se os surtos piorarem nas cidades com grandes portos, isso pode ser uma grande preocupação. A China divulgou quase 30 mil novos casos de infecção por Covid-19 transmitidas localmente no dia 23 de novembro, a mais alta já registrada, com surtos em todas as regiões do país. Novas restrições ao dia a dia da população e à atividade econômica foram impostas em cidades como Pequim, Guangzhou e Tianjin. Shijiazhuang, cidade de 11 milhões de habitantes ao sudoeste da capital, tentou aliviar algumas medidas de controle, mas reverteu o curso dias depois que o número de casos aumentou. Xangai reforçou as restrições aos visitantes, embora as autoridades da capital comercial e potência exportadora da China tenham até agora conseguido conter o surto mais recente, com 68 novos casos locais relatados.

Mais de 80 cidades enfrentam altos níveis de infecção, em comparação com 50 durante o lockdown de Xangai, de acordo com um relatório divulgado no dia 23 de novembro pela empresa de consultoria Capital Economics. Essas 80 cidades geram metade do PIB anual da China e são responsáveis pela remessa de cerca de 90% das exportações. Os sinais econômicos já apontavam para uma desaceleração do crescimento antes da última rodada de restrições. Os indicadores oficiais das atividades industriais, da construção e de serviços na China indicam contração em outubro, enquanto as exportações caíram em relação ao ano anterior. O impacto das restrições, à medida que as autoridades apertam os controles, pode ser observado na queda do número de passageiros no metrô e de viagens de carro. Os lockdowns anteriores fecharam restaurantes, prejudicaram o turismo doméstico e reduziram a produção industrial ao obstruir o transporte rodoviário.

Alguns economistas reduziram suas previsões de crescimento em consequência ao surto recente. A economia da China pode encolher 0,3% no quarto trimestre em comparação com o terceiro. O Conselho de Estado, que atua como gabinete da China, prometeu um novo apoio à economia, diante da piora do surto. O conselho afirmou que a quantidade de reservas que os bancos são obrigados a manter em relação aos depósitos deve ser reduzida em breve pelo banco central, liberando-os para emprestar mais. Economistas afirmam que a força de uma recuperação no próximo ano dependerá de a China encontrar uma saída viável de sua estratégia de tolerância zero à Covid-19. Outros países passaram por "ondas de saída" de infecções às vezes acentuadas ou repetidas ao retirar os controles sobre a Covid-19, que podem ser prejudiciais para a atividade econômica, já que a doença esgota a força de trabalho e as pessoas limitam o contato social.

A maioria dos economistas duvida de uma mudança rápida na China e aposta que as autoridades irão optar por uma abordagem lenta e gradual para o relaxamento da estratégia. Lu e outros economistas afirmam ser improvável que o processo comece até o segundo trimestre do ano que vem, devendo ser marcado por reversões frequentes à medida que repetidos surtos surjam. A economia do país também enfrenta uma queda no setor imobiliário e novos ventos contrários, diante da decisão dos Estados Unidos de proibir exportações de tecnologia e chips semicondutores avançados para a China por motivos de segurança nacional. Alguns dos sinais mais recentes da economia global sugerem uma piora na atual desaceleração, mas indicam que, no geral, ela pode ser mais branda do que os economistas esperavam. Pesquisas apontaram para quedas na produção nos Estados Unidos e nas maiores economias da Europa em novembro.

Mas, as perspectivas são mistas, com algumas partes das economias continuando a mostrar resiliência, apesar da inflação alta e do aumento das taxas de juros. A Europa está demonstrando menos problemas com a decisão da Rússia de limitar o fornecimento de energia do que os analistas temiam anteriormente. Se a economia global vai contornar a recessão ou sofrer uma forte queda, em grande parte depende das ações dos bancos centrais. Aumentar as taxas de forma agressiva pode criar crateras no crescimento ao domar a inflação; agir timidamente pode levar à volta da escalada da inflação. Na reunião deste mês, a maioria das autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sinalizou que deve desacelerar o ritmo dos aumentos das taxas de juros, após quatro altas consecutivas de 0,75%, um sinal de que alguns formuladores de políticas estão ansiosos com a possibilidade de endurecer demais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.