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24/Nov/2022

Impactos do Bolsa Família na inadimplência e crédito

O setor financeiro ainda vê como incertos os impactos da provável fixação do valor de R$ 600,00 para o Bolsa Família a partir do ano que vem, negociada pela equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o Congresso. O histórico do auxílio emergencial pago durante a pandemia de Covid-19, no mesmo valor, aponta para uma queda da inadimplência. Entretanto, a piora de indicadores macroeconômicos desde então aponta para efeitos diversos. Desde o ano passado, a renda disponível das famílias tem sido comprimida pela alta da inflação. Mesmo com a deflação registrada no terceiro trimestre, os preços de itens básicos, como os de alimentação, continuam elevados. Além disso, a alta dos juros atinge em cheio às famílias que, com a retomada da economia, recorreram à linhas de crédito para manter o consumo. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), anteriormente, teve uma vantagem porque o auxílio foi junto com a renegociação que os bancos fizeram.

E a inflação não tinha corroído a renda especialmente das classes mais baixas. Agora, a situação é diferente porque, embora a inflação tenha parado de subir, os preços continuam altos. Durante a pandemia, a inadimplência entre pessoas físicas no País chegou a um piso de 2,85% em dezembro de 2020, de acordo com o Banco Central. Foi o menor índice da série histórica do regulador, iniciada em 2011. Ao longo do último ano, porém, tem subido e chegou a 3,74%, segundo os dados mais recentes. A continuidade do programa de transferência de renda com o valor de R$ 600,00 pode ajudar a conter uma piora mais acelerada do segmento em que a inadimplência mais tem aumentado: o de pessoas físicas de baixa renda. Considerando que a inflação é mais forte em segmentos de renda mais baixa, teria um impacto importante se continuasse, na inadimplência de amplo espectro, não só bancária. A injeção de recursos na economia não necessariamente estimularia a concessão de novas linhas de crédito.

Segundo a agência Moody's, quando o Brasil passou pelo pior da Covid-19, em 2020 e 2021, o governo também lançou medidas anticíclicas, mas grande parte daquele auxílio foi usado para pagar dívidas existentes. Ao longo deste ano, o desempenho acima do esperado da economia brasileira, a inflação e, no segundo semestre, a expansão fiscal promovida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro antes das eleições geraram um deslocamento das expectativas do setor financeiro. Em dezembro do ano passado, pesquisa da Febraban apontava que a expectativa dos bancos era de alta de 6,7% da carteira de crédito neste ano; em novembro deste ano, a projeção havia saltado para 14,1%. Ainda assim, o cenário nos últimos meses é de desaceleração. Os bancos tentam evitar uma piora mais ampla dos calotes e reduzem de forma gradual as concessões em linhas mais arriscadas, em geral ligadas ao consumo. Os juros bancários têm subido, o que freia a demanda por recursos do lado dos consumidores.

Para a Genial Investimentos, atualmente, o ciclo de crédito está normalizado. A injeção de recursos na economia através do Bolsa Família tende a ter, no curto prazo, efeito positivo sobre os indicadores de crédito. A questão é que além de uma inflação mais alta que na pandemia, as contas públicas do País estão em situação pior. Injeção de dinheiro obviamente tira estresse, mas a condição fiscal está pior e a inflação maior, além da Selic mais alta. A Febraban pontua que o maior risco é de que as alternativas de financiamento do programa social tragam efeitos sobre expectativas do mercado financeiro para o longo prazo. Se o número for visto como muito grande, certamente vai gerar um impacto negativo. Implica em abertura de juros e pressão no dólar, e acaba tendo, no gasto privado, um impacto de retração. A intenção da equipe de transição é tirar do teto de gastos a integralidade dos gastos previstos com o programa, de R$ 175 bilhões no ano que vem. A divergência diz respeito ao prazo em que essa exceção seria válida, se por quatro anos ou por tempo indeterminado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.