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08/Nov/2022

Crédito Rural: Brasil precisa de fontes alternativas

O Bradesco avalia que, com a demanda crescente do agronegócio por recursos para financiamento em meio ao crescimento ano a ano do setor, qualquer fonte de recurso adicional é importante para o setor, uma referência aos títulos agrícolas e instrumentos ofertados por agfintechs. Qualquer fonte de recurso é importante para um agro que cresce. A demanda por crédito, seja dos direcionados e regulados pelo Plano Safra ou outras, é importante para financiar essa cadeia produtiva que a cada ano cresce. Fontes alternativas de crédito, que venham por agtechs ou por instrumentos de títulos do agro mais estruturados como Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), são para recursos que vão para outros financiadores. São investidores que querem financiar o agro e procuram esses títulos para poder financiar e trazer um pouco mais de retorno para a carteira.

Os bancos, sejam privados, públicos ou cooperativas de crédito, têm por obrigatoriedade aplicar 25% dos depósitos à vista, que são os recursos direcionados, no crédito rural subsidiado. O Bradesco tem depósito à vista, em média, de R$ 50 bilhões por ano e é obrigado a aplicar 25% desses recursos para financiar pequenos médios e grandes produtores a taxas de juros controladas. Fora os recursos obrigatórios, os bancos destinam ainda recursos livres para o financiamento do setor. O grande volume de produção exige mais recursos do que a da parte direcionada e produtor vem procurando fonte complementar de crédito. Os bancos privados e públicos aplicam fontes própria de recursos, muitas vezes por meio da de captação da LCA, que gera fonte para atender demandas complementares dos nossos produtores. Os bancos ligados à Febraban possuem carteira de crédito rural de cerca de R$ 550 bilhões. O Bradesco contribui com o equivalente a 10% desse montante, em torno de R$ 50 bilhões anuais para o financiamento direto do produtor e da cadeia agro.

Há complementaridade na atuação de agfintechs e de grandes bancos no financiamento ao agronegócio. O que diferencia os bancos grandes das fintechs é o balanço robusto. Os bancos grandes carregam o crédito. As fintechs podem originar crédito e bancos carregá-lo. Os grandes bancos irão se conectar, mais adiante, com as fintechs e demais negócios que contribuem para o financiamento. O Bradesco lançará uma plataforma de interação com fintechs para originação de crédito. Os bancos irão além do financiamento puro, atuando também no auxílio ao produtor, e pretendem ser agfintech com CPR e ajuda complementar para crédito. A ideia de carregar crédito não é bem o que as fitnechs querem, pois elas querem originar crédito e fazer a jornada digital. Então, a originação do crédito pode vir das fintechs e o banco carregá-lo. A plataforma deve será lançada no primeiro trimestre de 2023.

A Nagro, fintech do setor de crédito rural, trabalha com complementaridade ao crédito rural, em parceria e sinergia com bancos e outras instituições de financiamento agrícola. A Nagro trabalha muito com originação de recursos, ou seja, captar o dinheiro entre os mais diversos tipos de investidores interessados em aplicar no agronegócio e, então, transformá-lo em títulos do agronegócio, como CRAs, FDICs e Fiagros. Foi criada uma capacidade, por meio de dados, de fazer operações em escala de captação de recursos e ceder essas operações a instituições financeiras interessadas. A Nagro pode trabalhar, por exemplo, em parceria com o Bradesco ou algum outro fundo parceiro. Como plataforma, a Nagro trabalha uma forma de complementar o crédito do produtor rural que não consegue tudo das linhas tradicionais de crédito. Originar recursos e trabalhar com parceiros faz a empresa crescer de uma forma muito mais rápida do que simplesmente fazer novas emissões de CRAs, por exemplo, a cada dois a três meses.

Assim, ao trazer um ambiente mais sinérgico, contando com outras estruturas, é possível trazer alternativas diferentes para o produtor. A Nagro já atua com essa sinergia para conectar players que tenham interesse em conectar operações no agronegócio. Segundo o Bradesco, o financiamento em dólar e com fontes externas de recursos ainda é uma realidade restrita aos grandes produtores. O mercado externo já fez um papel grande de financiar a aquisição de terras para produtor nacional. O financiamento em dólar é uma realidade ainda para grandes produtores, que já fazem hedge, que têm gestão do negócio e que atuam com exportação. É esse o mercado que vai desenvolver o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em dólar. É menor em quantidade, mas não em volume. A grande discussão é como financiar os pequenos e médios produtores em estruturas digitais que simplifiquem o aceso ao crédito. O desafio hoje é transformar a garantia real em processos digitais, como a tokenização, e viabilizar o crédito.

O desafio é levar estruturas digitais que facilitem trazer dinheiro mais de fora. Embora muito se fale de novas emissões de capital externo para o financiamento do agronegócio brasileiro, os bancos e fundos locais ainda serão dominantes no crédito rural. No momento, emissões recentes em dólar são pequenas para demanda do setor. Recentemente, houve uma emissão de US$ 11 milhões e se fala em novas operações, de até US$ 100 milhões. É bastante dinheiro, mas pouco perto dos muitos bilhões que o agro precisa. O discurso de que há capital externo disponível e interessado está mais alinhado com a realidade, mas os bancos locais ainda serão dominantes. Bancos e fundos locais têm aumentado o interesse no financiamento do agro que também atrai agentes externos, mas ainda há necessidade de aumentar a oferta de crédito rural para redução dos juros. O dinheiro externo tende a fluir mais para o Brasil sem barulhos externos sobre o agro e suas práticas ambientais, depois que for explicado como o produtor brasileiro atua.

O novo governo pode ajudar. Trazer mais oferta de crédito e dinheiro externo dinheiro ajuda na redução do custo do dinheiro. O Brasil precisa ter maior competição de crédito rural para o custo diminuir na ponta para o agricultor. Há necessidade de conciliação do mundo digital com a agenda regulatória já existente no País. É preciso conciliar mundo digital com parte regulatória para não financiar ninguém que tenha problema de desmatamento, trabalho análogo à escravidão ou práticas ambientais inadequadas. A inflação deste ano teve forte impacto nos custos dos insumos agropecuários. Com isso, a demanda por crédito agrícola explodiu. Hoje, de acordo com a Agrolend, a procura por crédito rural está muito maior do que a empresa é capaz de atender. Em um ano como este, com inflação brutal no custo dos insumos, a demanda é muito grande, maior do que no Plano Safra. O conselho aos produtores é para tomarem o máximo oferecido pelo Plano Safra e o excesso com a Agrolend.

A Agrolend atua para resolver o problema da escassez de crédito rural disponível no mercado brasileiro, ao mesmo tempo em que reduz a burocracia para a tomada do dinheiro. A empresa tem cerca de mil clientes produtores em todo o Brasil. Normalmente leva-se muito tempo para o produtor tomar o crédito. O sistema da Agrolend permite a tomada com muita rapidez e eficiência, pois faz toda a transação via whatsapp. A ideia é levar não apenas conveniência, mas também custo competitivo para praticamente todas as atividades agropecuárias, da produção de grãos, passando pelo café, cana-de-açúcar, trigo, amendoim e criação de gado de corte e de leite, além de granjas. A Agrolend realiza empréstimos a partir de R$ 20 mil até R$ 700 mil. O processo é todo digital e automático. O trabalho é feito em parceria com uma rede de cerca de cem lojas agropecuárias, que oferecem o crédito aos produtores credenciados. Depois de manifestado o interesse, o produtor fornece o CPF para avaliação.

Aprovado, o crédito é disponibilizado por meio da própria loja e o produtor só paga no fim da safra. Atualmente, a Agrolend está em processo de transformação junto ao Banco Central para se transformar em uma financeira, o que permitirá à empresa fazer emissão de letras de crédito no varejo. Com isso, será possível montar uma carteira acima de R$ 1 bilhão. Com a entrada dos consumidores, será oferecido ainda mais crédito aos produtores. Para a Gavea Marketplace, as plataformas transacionais digitais serão o futuro da comercialização de produtos no agronegócio. Esses modelos dão mais segurança para os negócios, ao mesmo tempo em que reduzem os custos das operações para os produtores. A Gavea é uma bolsa de comercialização de produtos que utiliza tecnologia blockchain na chamada tokenização de ativos físicos em digitais. Traduzindo para o universo rural, é uma maneira de pensar os produtos agrícolas, como soja e milho, por exemplo, como ativos negociados em uma plataforma transacional digital.

A empresa opera em duas frentes: o mercado aberto, sem custo nenhum para nenhuma das pontas da cadeia, e o mercado fechado, em que as empresas criam o próprio marketplace também em blockchain e onde podem negociar diretamente com produtores e consumidores. Ambos os modelos permitem a rastreabilidade total na origem dos produtos. Com a evolução da sociedade e da infraestrutura, a digitalização entra como forma de reduzir custo e melhorar a vida de todos. A Gavea realiza operações de soja e milho, além de insumos produtivos. As alterações nas legislações internacionais, como a europeia, vão demandar cada vez mais produtos rastreáveis. A Gavea aplica governança socioambiental no negócio, o que previne a origem ambiental e social do produto. O consumidor tem a possibilidade de saber exatamente em qual propriedade seu produto foi produzido.

Para acessar fontes de recursos maiores, com menor custo e até mesmo estrangeiras, pequenos e médios produtores terão desafio de atender à exigência dos investidores externos. Isso vai demandar não só dados, mas profissionalização do produtor rural. O pequeno produtor tem acesso restrito a outros instrumentos de crédito, como os títulos agrícolas, fora os convencionais de crédito subsidiado, porque há assimetria de informações quanto à produção sua produção, o que dificulta o acesso deles a diferentes fontes. O investidor da Faria Lima não quer receio quanto ao produtor se é de uma área embargada ou há desmatamento. Quando for possível assegurar informação, aumentará o acesso dos players nacionais a essas ferramentas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.