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04/Nov/2022

Amazônia: desmatamento eleva emissões do Brasil

Segundo levantamento do Observatório do Clima divulgado no dia 1º de novembro, o Brasil registrou a maior alta nas emissões de gases de efeito estufa em 19 anos. A elevação de 12,2% ocorreu em 2021, em relação ao ano anterior, e tem como principal causa o desmatamento. O País tem sido alvo de pressão internacional para conter a recente escalada de destruição da Amazônia, maior floresta tropical do mundo. Em 2021, o Brasil despejou na atmosfera 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO² equivalente, uma forma de mensurar todos os gases estufa em uma mesma medida. O último aumento dessa monta foi em 2003, quando os dados de desmate bateram o recorde histórico. As emissões de gases de efeito estufa subiram 20% naquele ano, conforme o Observatório, que reúne mais de 50 organizações da sociedade civil. Há um ano, em Glasgow, durante a última Cúpula do Clima, a COP-26, o governo federal se comprometeu a cortar 50% das emissões até 2030, mas avançou pouco no cumprimento dessa meta.

A próxima conferência das Nações Unidas sobre o tema será realizada a partir da próxima semana em Sharm el-Sheikh, no Egito. Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), esse aumento tem sido consistente nos últimos anos e está muito ligado às mudanças no uso da terra, e grande parte disso ligado ao desmatamento na Amazônia. É fruto também de um processo de desvalorização das políticas de meio ambiente nos últimos anos, colocando a perder a queda no desmatamento do início dos anos 2000. No mandato de Jair Bolsonaro (PL), o Brasil se isolou nas discussões sobre aquecimento global, ao negar a dimensão do problema na Amazônia e fragilizar órgãos de combate a crimes ambientais, como o Ibama e o ICMBio. Agora, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a comunidade internacional aguarda a retomada de uma agenda alinhada aos esforços de frear a devastação do bioma. Nem a retomada da economia após o controle da pandemia de Covid-19 pode explicar o aumento.

Em 2020, na contramão do planeta, que diminuiu em cerca de 7% as emissões, o Brasil viu seus dados crescerem 9,5%. A alta no desmatamento foi a causa desse resultado. No ano passado, as emissões decorrentes das mudanças no uso do solo e das florestas novamente protagonizaram avanço, com alta de 18,5% ante 2020, na esteira de mais um ano de aumento nas taxas de desmate da Amazônia e de outros biomas, como o Cerrado. Do total de 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente, o desmatamento foi responsável por 1,19 bilhão de toneladas. Para se ter uma ideia do que isso representa é um valor maior do que todas as emissões do Japão. A boa notícia é que o País tem espaço para reduzir as emissões. Fala-se muito das emissões difíceis e das fáceis de reduzir. Felizmente as do Brasil são mais fáceis porque estão ligadas ao desmatamento. Se o País parar de permitir que isso aconteça, elas caem. Na agropecuária, setor que costuma ter flutuações pequenas nos resultados de emissões brasileiras, o aumento foi de 3,8%.

Um dos motores da economia nacional, o segmento teve as maiores emissões da série histórica: 601 milhões de toneladas, ante 579 milhões em 2020. Se fosse um país, o setor do agro brasileiro seria o 16º maior emissor da Terra, à frente, por exemplo, da África do Sul. A pecuária puxa essa fila com as emissões de metano. Essa é a principal fonte do setor, com 79,4% das emissões, processo reforçado pelo aumento expressivo do rebanho bovino em 2021, de 3,1% (seis vezes mais que a média dos últimos 18 anos). A alta nas emissões de metano foi um dos destaques dos alertas feitos pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a piora do aquecimento global. Na agricultura, pesaram ainda a alta no consumo de fertilizantes nitrogenados (13,8%) e o volume de calcário nas lavouras, que subiu 20%. Outro setor que teve sensível aumento de emissões no Brasil foi o de energia. Em 2021, o País emitiu 435 milhões de toneladas de CO² equivalente, ante 387 milhões em 2020.

Esse resultado, a maior alta de emissões em quase 50 anos, vem na esteira do acionamento das termoelétricas com a crise hídrica de 2021, a pior em 90 anos na região Centro-Sul do País. Também resultado da crise hídrica, a safra de cana caiu, o que gerou menor participação de biocombustível nos transportes. Não dá para colocar esse aumento no setor de energia na conta apenas de uma recuperação econômica após a crise gerada pela pandemia. Ano passado foi, na média, um ano em que a participação das fontes renováveis foi menor na geração de energia, com acionamento de termoelétricas e menor consumo de etanol. Há uma política de incremento das termoelétricas, como no processo de privatização da Eletrobrás em que foram inseridos ‘jabutis’ para o uso delas. Ou seja, o País está contratando emissões para o futuro.

No setor de processos industriais e uso de produtos, o avanço foi de 8,2%; e de 12,2% no setor de energia, a maior alta desde a época que ficou conhecida como "milagre econômico" durante o regime militar, nos anos 1970. O setor de resíduos foi o único com emissões estáveis. O Observatório do Clima, lembra que o relatório é o último sob o governo Bolsonaro, mas não o último a retratar a governança ambiental de sua gestão, uma vez que o de 2023 trará os dados relativos a 2022. A alternância na Presidência da República, confirmada como a eleição de Lula, representou para o SEEG a confirmação de que o trabalho da plataforma deverá continuar, uma vez que havia incertezas sobre o futuro da publicação, que não tem seus dados reconhecidos pelo governo federal. O Ministério do Meio Ambiente afirma que trabalha com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e não comenta dados não oficiais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.