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31/Out/2022

China: mercado preocupado com rumo da economia

A inédita concentração de poder do presidente da China, Xi Jinping, assustou investidores e deflagrou uma semana de estresse nos mercados locais. Após a conclusão do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista, no dia 23 de outubro, a Bolsa de Hong Kong despencou mais de 8% nos cinco pregões seguintes e o yuan caiu aos menores níveis desde a crise financeira de 2008. Não foi apenas a já esperada confirmação do terceiro mandato de Xi que ativou o ciclo de vendas de ativos de risco. Nas mesas de operações, a avaliação é de que os sinais enviados pela nova cúpula do governo chinês põem em xeque as políticas reformistas que turbinou o crescimento do país asiático nas últimas quatro décadas. A conferência marcou a saída do primeiro-ministro Li Keqiang do Comitê Permanente do Politburo, grupo que reúne as sete mais poderosas autoridades do país.

O premiê é visto como um dos principais proponentes de medidas mais pró-mercado no alto escalão do gabinete. Em seu lugar, entraram apenas figuras aliadas a Xi. Sem freios à atuação do presidente, a política econômica será ditada quase que exclusivamente pelas posições atualmente em vigor. Houve poucos indícios de mudança na estratégia de tolerância zero à Covid-19 e apoio à crise de liquidez no setor imobiliário, os dois principais fatores por trás da recente desaceleração da segunda maior economia do planeta. Para a High Frequency Economics (HFE), isso torna a China um lugar inóspito para empresas estrangeiras operarem. O crescente controle do governo sobre as empresas de tecnologia nacionais retirou poder dos empreendedores e acionistas, em benefício dos trabalhadores. Segundo a análise, os esforços chineses de dominação tecnológica global indicam um futuro de uma cadeia produtiva doméstica cada vez mais nacionalizada.

Assim, a primeira reação do mercado à aquisição de Xi foi um êxodo de investidores estrangeiros. O impacto imediato, no entanto, também se estendeu aos chineses que mais se beneficiaram do modelo econômico conhecido como socialismo de mercado. No dia 24 de outubro, após o Congresso, os 13 homens mais ricos da China perderam quase US$ 13 bilhões com o tombo dos negócios, de acordo com o índice de bilionários da Bloomberg. O Danske Bank atribui o nervosismo de investidores e empresários à percepção de que os chineses não retomarão o ritmo robusto de crescimento econômico. A economia está em uma tempestade perfeita e a confiança estrangeira na capacidade dos líderes chineses de colocar a China de volta nos trilhos diminuiu rapidamente este ano. O cenário suscita paralelos com a situação do Japão no início da década de 1990. Na época, a nação insular vinha de uma sequência de muitos anos de atividade em rápida expansão.

Quando os avanços começaram a arrefecer, parte do mercado financeiro manteve a confiança de que o momento seria apenas um susto e que, por isso, os ativos de risco descontados estavam atraentes. O Japão, no entanto, entrou em um duradouro contexto de estagflação e os negócios pioraram. A China não enfrenta exatamente o mesmo problema, porque a maior parte dos seus desafios é de caráter cíclico, não estrutural. Ainda assim, o antagonismo permanente com os Estados Unidos traz o risco de sanções e dificulta a recuperação de ativos. O prêmio de risco está permanentemente mais alto na China, então provavelmente não voltará aos mesmos níveis de antes dos últimos dois anos. O pessimismo reflete principalmente a avaliação de que o comando mais rígido de Xi pressupõe perspectivas incertas para reformas estruturantes. De acordo com a Capital Economics, o presidente chinês promoveu uma campanha estatal em favor autossuficiência e segurança econômica, em detrimento dos esforços de abertura do mercado. Com essa guinada, tende a reduzir a produtividade.

O governo chinês deveria corrigi-la se tiver interesse em retomar o crescimento forte. Mas, o ambiente político que Xi criou dificultará essa mudança. No entendimento do Nordea, os eventos do Congresso do Partido Comunista apenas corroboraram a tendência de continuidade dos pilares da gestão atual. Nos últimos anos, o presidente escolheu lidar com os problemas chineses por meio do arcabouço regulatório e maior atuação estatal, no lugar de reformas. Isso prejudicará as perspectivas de crescimento de longo prazo da China e a nova previsão de crescimento do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a China nos próximos cinco anos em 4,4% a 4,6% é otimista demais. Para além de questões políticas, as perspectivas para os mercados chineses dependem ainda mais do futuro do coronavírus. Ao contrário do restante do mundo, a China optou por uma campanha de vacinação relativamente lenta e preferiu continuar com as restrições à mobilidade sempre que detectar casos da doença.

Apesar da pressão de autoridades de saúde internacionais por uma mudança nessa postura, o Congresso do Partido Comunista não deu sinais de que a política de tolerância zero será flexibilizada em breve. Diante desse cenário, já é consenso entre economistas de que a meta do governo de assegurar crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 5,5% este ano é inviável. No ano até setembro, a atividade econômica acumulou crescimento de 3,0%, conforme informou o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS) do país na semana passada. Segundo a Oxford Economics, a fraqueza econômica recente pode ser atribuída a problemas imobiliários e políticas relacionadas à Covid-19. No entanto, há questões claramente mais profundas também: a China está lutando para encontrar um motor de crescimento. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.