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19/Out/2022

Brasil: crescimento do PIB de 2019 a 2022 é baixo

Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que o Brasil deve registrar no governo Jair Bolsonaro um crescimento médio do PIB de 1,14%, um resultado bem inferior ao que deve ser alcançado por um grupo de 24 países emergentes e entre 19 nações da América Latina e Caribe. Dos 24 países que são referência para o MSCI Emerging Markets Index, o desempenho do PIB do Brasil de 2019 a 2022 fica na 18ª posição. Em relação às 19 nações da América Latina e Caribe que apresentaram crescimento médio nestes 4 anos, o Brasil alcança o 12º lugar. Esta análise compara o desempenho da economia destes países em 4 anos e considera o impacto da pandemia para todos. Ela foi realizada com base em dados do Fundo Monetário Internacional. Os números relativos ao desempenho do produto interno bruto de todos os países em 2022 são as projeções do FMI, divulgadas na semana passada pelo relatório Perspectiva da Economia Global.

No caso dos 24 países que fazem parte do índice MSCI de emergentes, a China alcança a primeira posição, com um avanço médio do PIB de 4,84% entre 2019 e 2022. Ela é seguida pelo Egito, Turquia, Taiwan, Colômbia e Hungria. O Brasil apenas superou o desempenho do Kuwait, México, República Tcheca, Qatar, África do Sul e Tailândia. Taxa média de crescimento de países emergentes de 2019 a 2022 (%): China 4,84%; Egito 4,7%; Turquia 4,68%; Taiwan 4,06%, Colômbia 3,37%; Hungria 3,11%; Polônia 3,01%; Índia 2,99%; Indonésia 2,95%; Coréia do Sul 2,05%, Filipinas 1,95%; Chile 1,94%; Emirados Árabes Unidos 1,78%; Malásia 1,74%; Arábia Saudita 1,66%; Peru 1,51%; Grécia 1,36%; Brasil 1,14%; Kuwait 0,99%; México 0,99%; República Tcheca 0,65%; Qatar 0,48%; África do Sul 0,15%; Tailândia 0,016%. Em relação às nações da América Latina, a liderança ficou com a República Dominicana, com um crescimento médio de 3,73% no período. Por outro lado, o Brasil ficou atrás de 11 países, entre eles Colômbia, Guatemala, Costa Rica, Belize, Nicarágua e Chile.

A alta média de 1,14% do PIB nacional só ficou acima de Aruba, México, Dominica, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Argentina. Crescimento médio de países da América Latina e Caribe de 2019 a 2022 (%): República Dominicana 3,73%; Colômbia 3,37%; Guatemala 3,34%; Costa Rica 2,39%; Belize 2,1%; Nicarágua 2,06%; Chile 1,94%; Honduras 1,92%; El Salvador 1,57%; Peru 1,51% Panamá 1,17%; Brasil 1,14%; Aruba 0,99%; México 0,99%; Dominica 0,99%; Uruguai 0,87%; Paraguai 0,8%; Bolívia 0,67%; Argentina 0,34%. O Brasil cresceu 1,2% em 2019, mas o Produto Interno Bruto caiu 3,9% em 2020 devido à pandemia. No ano seguinte, ocorreu uma expansão de 4,6%. Para 2022, o FMI estima um avanço de 2,8% do PIB. Desta forma, a média atingiu 1,14%, com casas decimais arredondadas. Nos dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2022, o crescimento médio foi de 2,45%. Nos oito anos da administração de Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa foi de 4,0% entre 2003 e 2010.

Durante os seis anos incompletos da gestão de Dilma Rousseff, de 2011 até o fim de agosto de 2016, o indicador atingiu apenas 0,29%, dada a maior recessão da história registrada em 2015 e no ano seguinte. Nos dois anos inteiros do governo de Michel Temer como presidente (2017 e 2018), a média foi de 1,55%, acima do 1,14% dos anos Bolsonaro. Um dos principais fatores que podem explicar o crescimento tão baixo do Brasil de 2019 a 2022 foi a desarmonia entre as políticas fiscal e monetária a partir de 2021, marcado especialmente pelo abandono do teto de gastos. Neste ano, o atual governo também não cumpriu tal regra constitucional devido ao foco de elevar bem as despesas assistenciais durante a disputa eleitoral para a presidência da República. O rompimento do teto de gastos foi um erro, abalou a credibilidade na área fiscal, provocou fuga de capitais e depreciação cambial. Nesse contexto, o Banco Central precisou empregar uma política monetária bem mais restritiva para combater a inflação, o que impactou na expansão do PIB.

Se o teto de gastos tivesse sido mantido, o Brasil estaria crescendo 3%. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a ação do Banco Central para coibir a inflação bem antes do que muitos países no mundo, a partir de março de 2021, e que ganhou elogios internacionais, foi influenciada em boa medida pela mudança da política fiscal no ano passado. Mas, tal movimento que levou a Selic a 13,75% provocou, na prática, um overshooting de juros, sobretudo devido aos gastos excessivos do governo nos 2 últimos anos. Em março do ano passado, o Copom iniciou o maior ciclo de elevação da Selic desde o surgimento do sistema de metas de inflação em 1999. Foram realizadas 12 elevações sucessivas da taxa. Neste contexto, o juro ex-ante está perto de 8%, um dos campeões mundiais, o que inibe investimentos e colabora para que a taxa de desemprego ainda esteja bem elevada. A taxa média de pessoas sem ocupação profissional atingiu 12% em 2019, antes da pandemia.

O indicador avançou para 13,8% em 2020 com o surgimento da Covid-19 e passou a baixar com a recuperação parcial do nível de atividade. Em 2022, a taxa média deverá alcançar 9,3%. Especialistas internacionais apontam outros fatores que levam o Brasil a ter um crescimento médio bem pequeno de 2019 a 2022. Dois deles são a necessidade de reformas estruturais e os conflitos institucionais registrados constantemente em Brasília. Um terceiro elemento é a má política ambiental do atual governo, que permitiu o aumento expressivo do desmatamento no País. Segundo o Institute of International Finance, para ter um ritmo maior de crescimento da economia, o Brasil precisa de ambiciosas reformas estruturais, como a liberalização do comércio externo. Uma das razões que as reformas não ocorrem é o limitado consenso no Congresso, o que está relacionado com alguns elementos, entre eles a fragmentação política. O governo Bolsonaro conseguiu aprovar uma reforma da Previdência Social mais firme do que a proposta pela administração Temer.

Contudo, não avançou em outras mudanças estruturais, como a tributária e a administrativa, que são fundamentais para elevar o potencial de crescimento do País. Os conflitos institucionais promovidos pelo Poder Executivo, sobretudo com o Judiciário, também colaboraram para gerar incertezas em investidores nacionais e internacionais e não permitiram uma maior expansão da Formação Bruta de Capital Fixo do País. Apesar do avanço de concessões públicas e privatizações adotadas pela administração Bolsonaro, a aplicação de recursos em infraestrutura no Brasil, que era, como proporção do PIB, 1,93% em 2016, baixou nos anos seguintes, para 1,73% em 2021 e devendo ficar em 1,71% em 2022. O 1,7% do PIB de investimentos em infraestrutura, que envolvem logística, telecomunicações, setor elétrico e saneamento, mal cobre a depreciação do estoque de infraestrutura existente, que está hoje ao redor de 1,5% do PIB por ano. Para ter uma infraestrutura adequada, o Brasil deveria investir hoje cerca de 3,5% do PIB todos os anos nesse setor, pouco mais do que o dobro do que efetivamente ocorreu entre 2019 e 2022.

O novo marco do saneamento foi uma mudança favorável, pois permitiu que o Brasil registrasse a aplicação de R$ 90 bilhões no setor nos últimos dois anos. Contudo, o descaso do atual governo sobre meio ambiente gerou grande aversão de investidores internacionais, sobretudo europeus, para aplicar capitais no País. Os R$ 3,2 bilhões do Fundo Amazônia, que conta com a maior participação dos governos da Noruega e da Alemanha, foram congelados por causa das frágeis políticas da atual administração para evitar o desmatamento e queimadas em florestas. Esta situação colaborou muito para a União Europeia colocar na geladeira o acordo comercial com o Mercosul, embora também tal decisão tenha ocorrido devido à pressão de ações protecionistas da França. Segundo a S&P Global Ratings, políticas de proteção ambiental estão sendo adotadas em todo mundo para coibir o aquecimento global. Não seria positivo para o País ficar fora deste importante esforço internacional. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.