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18/Out/2022

Riscos de uma recessão global estão aumentando

Os formuladores de políticas em todo o mundo veem o aumento dos riscos de que a desaceleração econômica global possa se transformar em uma queda mais acentuada com a inflação alta, os custos elevados de energia e as taxas de juros crescentes. Na semana passada, a divulgação de mais um relatório ruim sobre a inflação dos Estados Unidos provavelmente fará com que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) mantenha o ritmo rápido da elevação das taxas de juros. Isso poderia impulsionar o dólar norte-americano, subindo ainda mais o custo das importações e o serviço da dívida para muitos países. Os produtores de energia básica têm reduzido a oferta, alimentando a pressão nos preços e desacelerando a atividade econômica, principalmente na Europa.

Novos dados da China mostraram queda acentuada dos gastos do consumidor, outro sinal de arrefecimento do crescimento econômico. "O pior ainda está por vir", disse a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, na semana passada, para autoridades financeiras que estavam em Washington para reuniões organizadas pelo FMI e pelo Banco Mundial. Os riscos de recessão estão aumentando em muitas economias. As economias que representam mais de um terço da produção global vão se contrair no ano que vem, enquanto as três maiores economias do mundo (Estados Unidos, União Europeia e China) ficarão praticamente paralisadas. Globalmente, o FMI projeta um crescimento de 2,7% em 2023, abaixo dos 3,2% deste ano. A situação é pior do que durante a pandemia de Covid-19.

Muitos dos formuladores de políticas veem a alta inflação nos Estados Unidos e a resposta do Fed como uma ameaça central às próprias perspectivas econômicas. O índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos aumentou 8,2% em setembro em relação ao ano passado, com os preços básicos (que excluem os preços voláteis de alimentos e energia) subindo 6,6%. Essa foi a taxa de aumento mais rápida em quatro décadas, um sinal de fortes pressões dos preços subjacentes. A leitura do núcleo do IPC provavelmente indica que o Fed se manterá a caminho de aumentar sua taxa básica de juros em 0,75% no próximo mês. O relatório ressalta o risco de as autoridades atrasarem uma desaceleração nos aumentos das taxas. Os rápidos aumentos das taxas do Fed este ano ajudaram a atrair investidores para os mercados dos Estados Unidos e elevaram o valor do dólar.

Um dólar mais forte aumenta os custos das importações denominadas em dólares e o serviço da dívida para muitos países. Também pressiona outros bancos centrais a aumentar as próprias taxas de juros para proteger suas moedas, possivelmente desacelerando ainda mais o crescimento. A economia dos Estados Unidos tem mostrado sinais de resiliência este ano. O mercado de trabalho está esfriando, mas continua saudável. Os gastos no varejo dos Estados Unidos permaneceram inalterados em setembro em relação a agosto e aumentaram 8,2% em relação ao ano anterior, informou o Departamento de Comércio. O FMI prevê que a economia dos Estados Unidos crescerá 1% no próximo ano, abaixo dos 1,6% deste ano. Economistas estimam em 63% a probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos nos próximos 12 meses, acima dos 49% da pesquisa de julho.

O momento da economia dos Estados Unidos preocupa outros países porque dá liberdade ao Fed para aumentar ainda mais as taxas de juros, afirmou a ministra das Finanças da Indonésia. Uma economia global enfraquecida, as altas taxas de juros e um dólar forte realmente podem prejudicar todos os países do mundo e uma recessão global é muito possível. A guerra da Rússia na Ucrânia pesa sobre a economia mundial. Ela prejudicou as exportações de alimentos essenciais e fertilizantes dos países, colocando em risco 345 milhões de pessoas. A Rússia reduziu o fornecimento de gás natural para a Europa, abalando a produção no continente e levando muitas economias à beira da recessão. A Europa enfrenta tensões particularmente sérias por causa do que está acontecendo com os preços de energia.

Muitos países de mercados emergentes enfrentam uma série de problemas significativos. Enquanto isso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) e seus aliados liderados pela Rússia anunciaram recentemente um grande corte na produção, o que elevou os preços do petróleo. A Agência Internacional de Energia alertou que a decisão pode ser um ponto de inflexão para a economia global entrar em recessão. Não existe uma definição oficial de recessão global, mas muitos economistas dizem que um elemento essencial é o crescimento econômico cair abaixo do crescimento populacional, ou seja, cerca de 1,1%. O Banco Mundial prevê um crescimento global de 1,9% no próximo ano e alerta que o mundo está perigosamente perto de uma recessão global.

Outro risco para a economia global é o perigo de que o rápido aumento das taxas de juros desencadeie uma desordem no sistema financeiro. Um plano de corte de impostos do Reino Unido, destinado a estimular o crescimento, desencadeou uma grande venda de títulos no mês passado que forçou o Banco da Inglaterra a intervir para estabilizar o sistema financeiro. Na sexta-feira (14/10), o governo do Reino Unido reverteu pontos importantes do plano, em parte devido à reação do mercado. Os formuladores de políticas econômicas em todo o mundo estão monitorando as tensões nos mercados financeiros, cientes de que a subida das taxas de juros pode causar ameaças à estabilidade financeira de fontes inesperadas. Os empréstimos da chamada janela de desconto do Fed para empréstimos de emergência aumentaram nas últimas semanas, para US$ 7,67 bilhões na quarta-feira (12/10), o nível mais alto desde junho de 2020.

O Fed também emprestou US$ 6,5 bilhões a dois bancos centrais estrangeiros na semana passada, parte de acordos permanentes para ofertar dólares e aliviar as pressões nos mercados financiados em dólares. Segundo a presidente do Fed de Kansas City, Esther George, é preciso lembrar que se trata de uma economia que está se reajustando a um choque extraordinário. Um movimento rápido demais pode desestabilizar os mercados financeiros e a economia de uma forma que pode acabar sendo autodestrutiva. A incerteza persistente nas perspectivas econômicas e financeiras pode em breve começar a pesar sobre como as empresas tomam decisões de contratação, afirmou o Goldman Sachs. As empresas poderiam considerar reduzir as contratações e talvez fazer algumas demissões.

Na China, as rígidas políticas de lockdown da Covid-19 restringiram o crescimento econômico, especialmente durante o segundo trimestre de 2022. O setor imobiliário superdesenvolvido da China está desacelerando rapidamente. Estima-se que o declínio do país aumente os percalços nas cadeias de suprimentos globais e reduza o comércio global. Estes riscos para o crescimento podem ser particularmente difíceis para os países de média e baixa renda. Aproximadamente 60% das nações mais pobres do mundo estão sob risco de estresse de dívida, incapazes de cumprir suas obrigações financeiras, e muitas estão lutando com custos mais altos de alimentos e energia importados. A sensação que se tem das reuniões é que a incerteza é tão grande que é difícil ver uma “luz no fim do túnel”. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.