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05/Out/2022

UE: medidas de enfrentamento à crise energética

As medidas propostas até agora pela União Europeia (UE) para combater a crise energética que enfrenta o continente são eficazes apenas no curto prazo, sendo que o bloco deve focar na diversificação energética e na independência do gás russo para mudanças estruturais no longo prazo, de forma a alavancar a transição energética. No dia 30 de setembro, a UE aprovou um pacote fiscal de 140 bilhões de euros com o objetivo de reduzir a demanda de eletricidade e recolher lucros excedentes de empresas do setor energético nos 27 países-membros a fim de mitigar os efeitos dos altos preços do varejo. Dessa forma, a meta é uma queda voluntária de 10% no consumo de eletricidade e uma diminuição obrigatória de 5% nos horários de pico, que valerá entre 1 de dezembro e 31 de março. Além disso, uma contribuição temporária obrigatória sobre os lucros das empresas será aplicada.

A medida veio na semana em que vazamentos foram detectados no oleoduto Nord Stream, fazendo com que os preços de energia disparassem. Autoridades do Ocidente falam em "atos de sabotagem" e acusam a Rússia. Líderes europeus ainda estão avaliando ações adicionais, como um possível teto no preço do gás russo. As intervenções da UE são a arma que a Europa tem para poder evitar uma quebra financeira de cidadãos e dos próprios mercados, pois as contas estão aumentando muito ao usuário final e às empresas, que estão tendo que depositar margens elevadas, o que pode levar a uma potencial quebra de algumas delas. Este é o caso da Uniper, na Alemanha. O país teve que fechar um acordo para nacionalizar a gigante do setor de energia. Essas medidas são necessárias, mas são remédios amargos, porque tocam no mercado, que é o menos responsável pela crise. O continente tem muito pouco o que fazer do lado da oferta, ou seja, precisa fazer ações pela demanda, o que traz para a mesa a redução de consumo.

Na redução forçada, é onde tudo começa a ficar bem mais complicado, pois a Europa é um continente com muitos países, então, a coordenação é mais difícil. A Rystad Energy destaca que existem grandes diferenças em como os países europeus são impactados, dependendo da matriz energética e, especialmente, da dependência de combustíveis fósseis, carvão e gás da Rússia. A Alemanha é um dos que mais enfrentam dificuldades, já que recebe a maior parte do gás da Rússia. A França deveria ter ficado relativamente isolada da crise atual, pois possui uma grande frota nuclear, reduzindo a dependência do gás russo, porém, desde o final de 2021 até agora, houve uma parcela muito alta de unidades nucleares indisponíveis. Por outro lado, a Espanha e o Reino Unido podem ser considerados um pouco melhores do que os outros cinco grandes, pois podem obter seu gás de outras fontes e possuem a segunda e terceira maior frota eólica da Europa, o que ajudará no inverno.

A Eurasia defende que o novo projeto traz mais uniformidade e maior ambição, em vez da atual colcha de retalhos de iniciativas nacionais. Já a Rystad Energy ressalta que a maior intervenção da UE nos seus mercados de energia desde a sua criação é sensata e, em geral, uma abordagem equilibrada. Ainda há muitas dúvidas sobre como isso será feito, se os 140 bilhões de euros são um valor realista, e assim por diante. Há sentimentos contraditórios sobre a proposta, pois sem dúvida causará alguns efeitos negativos no mercado. O mais negativo será, evidentemente, que os 140 milhões de euros que as empresas teriam ganho em lucro, poderiam ter sido investidos diretamente em mais energia, que é exatamente o que a Europa precisa. Todo esse dinheiro para uma medida paliativa é uma conta pesada. Além disso, as medidas não estão resolvendo nenhum problema de longo prazo, na melhor das hipóteses é um `alívio da dor' de curto prazo para garantir que as famílias, empresas e indústrias europeias passem pelo inverno.

A aplicação das medidas de demanda será um verdadeiro teste da determinação da Europa, pois, até agora, apesar dos altos custos de energia, a demanda global de energia europeia caiu apenas 2% e no mês de maior preço, agosto, a demanda foi apenas 1% menor do que o ano anterior. A escala da redução proposta de 5% a 10% não deve, portanto, ser subestimada, pois será uma tarefa monumental para a economia em geral conseguir atingir, mas, em última análise, a recompensa seria um efeito perceptível nos preços da energia, uma vez que a pressão geral sobre a oferta será aliviada. Com relação ao possível teto ao gás russo, interromperia fundamentalmente o equilíbrio entre oferta e demanda e não resolveria o déficit de oferta de gás no mercado. Pelo contrário, poderia piorar a situação, pois não forneceria nenhum incentivo para economizar gás ou energia. A Capital Economics afirma que as medidas introduzidas até agora talvez sejam insuficientes para evitar uma recessão ou compensar totalmente a pressão ascendente sobre os déficits orçamentários da crise. Apesar disso, elas reduziriam o choque econômico.

Uma vez que a redução das contas de energia será financiada pelo que equivale a um imposto extraordinário sobre os produtores de energia, os déficits orçamentários na zona do euro não aumentarão, ao contrário do que é esperado para o Reino Unido. Para a Oxford Economics, quanto mais forte for o apoio à renda real, menor será a escala da necessária destruição da demanda. Embora esses freios de preços reduzam a inflação, o Banco Central Europeu (BCE) pode analisar esse efeito e pode até estar preocupado com o fato de a força da resposta fiscal sustentar as pressões inflacionárias subjacentes. É um equilíbrio difícil, mas, dada a extrema fraqueza nas pesquisas de consumidores e empresas, é necessário mais apoio fiscal e, pelo menos teoricamente, o design do pacote parece sensato. O aumento explosivo dos preços do gás e da eletricidade está ditando as perspectivas econômicas da zona do euro.

A redução voluntária do consumo de energia, juntamente com a destruição da procura provocada pelo enorme aumento dos preços, deverá conduzir a zona euro a entrar em recessão nos próximos trimestres. O BCE afirmou que, por causa da guerra e dos altos preços da energia, há muitos indicadores de que a economia vai desacelerar. Este ano, serão gastos cerca de 5% do rendimento da área do euro em importações líquidas de energia. Anteriormente, esse número era de cerca de 1%. Será necessário arcar com esse fardo coletivamente, e os governos devem apoiar a renda e o consumo das famílias e empresas que mais sofrem. Em comunicado divulgado na segunda-feira (03/10), o grupo de ministros de Finanças da zona do euro (Eurogrupo) também destacou que as políticas fiscais devem visar a preservação da sustentabilidade da dívida, bem como o aumento do potencial de crescimento de forma sustentável, facilitando assim a tarefa do BCE.

Dessa forma, a Europa deve fugir de políticas que aumentariam as pressões inflacionárias. Podem ser necessárias políticas específicas e temporárias que não distorçam o mercado para ajudar as empresas expostas a preços elevados da energia a transitarem para exposições reduzidas. Acelerar a redução do consumo de energia é fundamental para estabilizar os preços da energia e reduzir a dependência europeia de combustíveis fósseis russos. Ressalta-se a importância dos investimentos na eficiência energética e na interconectividade das redes energéticas, na diversificação das fontes de energia, no desenvolvimento da produção de energia com baixo teor de carbono e no bom funcionamento dos mercados energéticos. Isso é fundamental para aumentar a resiliência, proteger as economias de futuros aumentos nos preços dos combustíveis fósseis e construir as bases para um crescimento sustentável de longo prazo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.