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04/Out/2022

Amazônia: medição de estragos da crise climática

Saber como a Amazônia vai responder futuramente às mudanças climáticas provocadas pelo aumento de dióxido de carbono é uma das maiores questões que estudiosos do tema buscam resolver nas últimas décadas. Recentemente, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) deram um importante passo para a execução de um experimento que pretende preencher essa lacuna científica. Em 26 de agosto, um primeiro modelo da principal estrutura de um novo experimento foi apresentado. Trata-se de uma torre de alumínio de 35 metros, projetada para a pesquisa, e que ficará encarregada de liberar o CO2 em áreas específicas da floresta, perto da cidade de Manaus (AM).

As primeiras unidades dessas torres (serão mais de 90) devem ser instaladas na Amazônia nos próximos meses. O experimento se chama AmazonFACE, um programa de pesquisa inédito que vai submeter essas áreas de Floresta Amazônica a uma concentração atmosférica elevada de dióxido de carbono nos próximos dez anos. A ideia é projetar um quadro climático semelhante ao que deverá ser encontrado entre 2050 e 2070, quando, em teoria, haverá mais CO2 liberado na atmosfera e a Terra estará mais quente. As projeções são do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas (ONU). O gás carbônico é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa e pelo aumento da temperatura na Terra desde a Revolução Industrial, no século 19.

Ao mesmo tempo, é também a principal matéria-prima para as plantas realizarem a fotossíntese. Daí a hipótese levantada de que a floresta pode reagir positivamente a essas emissões. “Essas hipóteses que a gente chama de fertilização por CO2 vêm questionar o que vai acontecer com a trajetória da Amazônia no futuro. A gente sabe que é inevitável, por um lado, que o aumento de dióxido de carbono na atmosfera aqueça o planeta e mude regimes de chuvas. Mas a questão é: será que esse mesmo CO2 não vai fertilizar plantas e tornar a vida delas mais fácil? indaga o Inpa. Assim como o aumento de dióxido de carbono atmosférico no futuro pode levar a Amazônia a um processo de savanização (com temperaturas mais altas, regime de secas mais prolongados e regime pluviométrico semelhante ao do Cerrado), o mesmo gás pode também estimular a região a se proteger contra os efeitos deletérios deste aquecimento, a partir de obtenção de nutrientes e desenvolvimento da capacidade de armazenar água e resistir aos períodos sem chuva.

O processo de fertilizar a floresta por meio de dióxido de carbono se chama Free-Air CO2 Enrichment (Enriquecimento por CO2 ao Ar Livre), que dá origem à sigla “FACE”. Países como Estados Unidos e Inglaterra já aplicaram o método em campo para estudar a reação de outras florestas, mas é a primeira vez que o experimento será aplicado na maior floresta tropical do mundo. O Centro de Pesquisas Meteorológicas Aplicadas à Agricultura da Unicamp quer saber qual é o efeito do CO2 elevado sobre a Amazônia. Se esse efeito de fertilização de fato existe, o quão forte ele é e quanto tempo dura em uma floresta tropical. A Amazônia regula o clima no planeta, e é responsável por 25% da água doce que entra nos oceanos.

Se o aumento de gás carbônico mudar o regime de chuvas, muda-se até a corrente de temperaturas. Uma mudança drástica de vegetação pode desequilibrar o planeta inteiro. Além disso, uma eventual transformação da Amazônia poderia causar impactos socioeconômicos, e não apenas mudanças na ordem da biologia e fisiologia da floresta. Com uma possível savanização vai ter migração para a cidade, aumento de doenças por causa do aumento de vetores, crise hídrica na geração de energia, aumento do consumo por causa das subidas de temperatura, e pode afetar a precipitação de chuvas importantes para o agronegócio da Região Sul do País. Esse experimento, sem precedentes, tem uma importância muito grande.

Isso porque ele vai resolver a maior dúvida climática atual, que é sobre o futuro da Floresta Amazônica. Para conseguir ser colocado em prática, o projeto conta com equipe multidisciplinar de mais de 150 pesquisadores e com um investimento robusto. O programa tem o apoio financeiro dos governos brasileiro e britânico. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações vai injetar R$ 32 milhões nos próximos meses e o governo britânico, por meio do MetOffice, o Serviço Nacional de Meteorologia do Reino Unido, já repassou 2,25 milhões de libras (cerca de R$ 12,93 milhões) para viabilizar o experimento. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.