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27/Set/2022

Brasil: riscos embutidos nas promessas eleitorais

Levar a inflação à meta de 3% poderá ficar mais difícil, nos próximos anos, se o controle das contas públicas for afrouxado. A advertência é especialmente importante, neste momento, porque os principais candidatos à Presidência prometem mexer no teto de gastos e nos padrões fiscais. Além de se comprometer com a austeridade, os candidatos deveriam levar em conta a expectativa de fortes pressões inflacionárias nas grandes economias. Quem ocupar o Palácio do Planalto a partir de janeiro de 2023 terá de se preocupar, ao mesmo tempo, com a gestão orçamentária, a taxa de juros, a expectativa dos investidores, a taxa de câmbio, os preços essenciais, o mercado global e as ações necessárias para um crescimento econômico duradouro. Um claro compromisso com a disciplina fiscal e com a contenção da dívida pública será um sinal muito positivo e muito favorável à movimentação do setor privado. Sinais de gastança e de menor cuidado com as contas federais transmitirão insegurança, resultarão em dólar mais caro e tornarão mais lenta a redução dos juros pelo Banco Central (BC).

Juros elevados aumentarão os custos do Tesouro e prejudicarão, ao mesmo tempo, o consumo familiar, o crédito às empresas pequenas e a aceleração dos negócios. A retomada econômica ensaiada neste ano poderá perder impulso, em pouco tempo, se a incerteza aumentar. Uma disposição firme e visível de prudência fiscal produzirá, além de confiança entre empresários e investidores, melhores condições para o financiamento do setor privado e maior flexibilidade para ações anticrise. Um governo prudente buscará produzir superávits primários (saldos fiscais positivos sem contar o custo da dívida pública). Concebida no final da administração tucana, essa política foi observada por vários anos na administração petista e abandonada, de forma desastrosa, na gestão da presidente Dilma Rousseff. Mantida quando as condições são favoráveis, a obtenção regular de excedentes primários garante segurança para a realização oportuna de ações expansionistas, necessárias quando a economia se enfraquece perigosamente ou afunda em recessão.

Além disso, a busca regular de superávits desse tipo facilita o controle do endividamento público, aumenta a previsibilidade, sustenta a confiança dos investidores e contribui para a estabilidade e a segurança da economia. Nenhum governo pode alardear seriedade fiscal, é importante lembrar, quando recorre a truques ou a espertezas para limitar os gastos anuais. Não se pode falar de política séria quando se adia o pagamento de precatórios, impondo perdas a credores defendidos por decisões judiciais. Da mesma forma, ninguém deve confundir com austeridade a negligência em relação a despesas fundamentais, como aquelas vinculadas à manutenção e ao fortalecimento das políticas de ensino. Uma das características mais notáveis da atual administração tem sido o corte de verbas destinadas ao setor educacional e à pesquisa. Nem a pesquisa agropecuária, essencial para o setor mais competitivo, fonte principal da receita obtida no comércio exterior, tem sido preservada pela administração bolsonarista.

Que o presidente Jair Bolsonaro ignore o peso econômico do agronegócio, assim como a relevância da pesquisa, pode parecer natural e nada surpreendente, quando se considera seu currículo. Deveria haver no Ministério da Economia alguém capaz de fazer soar um alerta. O ministro Paulo Guedes parece omitir-se dessa tarefa. Qualquer governo bem preparado tentará implantar, além da disciplina fiscal, maior produtividade na administração. Um ganho importante já será proporcionado pela expansão da eficiência no dia a dia. Isso será possível com novos padrões de trabalho e de organização, algo muito mais ambicioso que a reforma administrativa proposta pelo ministro da Economia, uma justificável, mas limitada reforma de RH. Falta verificar se a semente de algum governo bem preparado será plantada com a eleição de outubro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.