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23/Set/2022

Altas dos juros e impactos na atividade econômica

As decisões de política monetária tomadas pelo Banco Central (BC) e pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para combater a inflação devem ter impacto negativo sobre a atividade econômica no Brasil. O novo cenário coloca à prova as projeções do governo federal, mais otimistas em meio à campanha eleitoral. No mercado, os efeitos devem se concentrar mais no segmento de ações do que na renda fixa. O Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu o maior ciclo de elevação da taxa básica de juros em 23 anos, mantendo a Selic em 13,75% ao ano, mesmo patamar da reunião de julho, mas muito distante dos 2% ostentados em março de 2021. Mais do que isso, os cortes nos juros devem demorar a começar. O comitê de política monetária do Fed elevou a taxa de referência norte-americana em 0,75%, para o intervalo entre 3% e 3,25% ao ano.

A projeção mediana dos integrantes do colegiado indica que a taxa encerrará o ciclo de altas somente em 2023, em 4,625% ao ano. A decisão e o comunicado do Fed foram “bem hawk”, ou seja, inclinados ao aperto monetário. As projeções apresentadas pelos integrantes do colegiado fez os “juros curtos reagirem bem”. O Brasil aguentou bem e a moeda depreciou pouco após o anúncio. A Galapagos Capital afirma que a decisão e a mensagem passadas pelo Fed mantêm a tendência de um dólar forte, o que por sua vez traz pressão cambial para os emergentes, inclusive no caso do Real. Em termos de atividade, as elevações globais das taxas de juros significam que o mundo terá que desacelerar. A Galapagos calcula para os próximos 12 meses pouco mais de 50% de chance de recessão para os Estados Unidos e 80% para a Europa, o que afeta negativamente o crescimento da economia brasileira. Não tem muito como destoar desse movimento.

A projeção é de expansão de 0,9% do PIB no ano que vem e as estimativas para 2022 se aproximam de 3%. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirma que a tendência é que haja recessão nos Estados Unidos em 2023. Ao lado de uma provável contração fiscal no Brasil e da própria política monetária contracionista promovida pelo Banco Central, esse é um dos fatores que devem fazer com que a atividade econômica nacional desacelere no ano que vem. A projeção de crescimento é de 0% a 1%. Os ativos brasileiros estão com comportamento favorável em relação ao mundo emergente. Ressalta-se o estágio avançado do ciclo de altas de juros do Brasil, as contas externas em situação confortável e a pequena dívida em moeda estrangeira. O cenário traçado pelos economistas para a atividade em 2023 contrasta com a avaliação do Ministério da Economia, que projeta alta de 2,5%. Para a pasta, os modelos econômicos tradicionais têm subestimado o crescimento dos investimentos privados no Brasil. De toda forma, deve haver desaceleração da economia norte-americana no médio e longo prazos.

Mas, o ritmo robusto no Brasil surpreende, depois do intenso ciclo de alta de juros. As medidas de curto prazo do governo federal e o caixa dos Estados parecem ter impulsionado a atividade. Para o Banco Inter, o mercado de renda variável só deve voltar a se aquecer quando houver uma sinalização melhor da redução dos juros no Brasil, entre meados e o fim do primeiro semestre de 2023. Em sentido oposto, as emissões de renda fixa continuam crescendo. Os novos investimentos, impulsionados pelas concessões e marcos regulatórios, vêm elevando a oferta de papéis como debêntures e securitizações. As captações de renda fixa somaram R$ 285 bilhões até agosto, 27% a mais que no mesmo período de 2022. O comunicado do Copom afirmou que o ambiente externo se mantém adverso e volátil, com contínuas revisões negativas para o crescimento das principais economias.

Já o ambiente inflacionário segue pressionado, enquanto o processo de normalização da política monetária nos países avançados prossegue na direção de taxas restritivas. O Banco Central citou, entre os fatores que podem levar a inflação no Brasil para patamar mais elevado do que o projetado, uma maior persistência das pressões inflacionárias globais. Mas destacou, em sentido oposto, que uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada pode fazer com que a trajetória de preços fique abaixo do calculado. Após a decisão do Fed, Jerome Powell, afirmou que a autoridade monetária tem discutido regularmente com bancos centrais de outros países os impactos que o ciclo de alta de juros mundial pode ter sobre a economia global. Segundo ele, não é uma coordenação, mas o contato entre eles é constante. Powell citou inclusive a reunião de Basileia, na Suíça, realizada na semana passada. Ele afirmou que o Fed está ciente do que acontece em outras economias e tenta levar isso em conta. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.