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23/Set/2022

Brasil: impactos dos juros altos sobre a economia

Após o Banco Central (BC) interromper, na quarta-feira (21/09), o ciclo de alta da Selic com a taxa básica no patamar mais alto em cinco anos e meio, em 13,75%, os consumidores e empresas do Brasil precisam estar preparados para conviver com juros em território restritivo por mais dois ou três anos. Esse é o tempo que, pelas previsões de mercado, a taxa deve levar até retornar ao ponto neutro, no qual os juros deixam de produzir efeitos contracionistas na economia. Por enquanto, ofuscados por indicadores de uma atividade ainda muito aquecida, os juros mais altos já provocam impactos silenciosos na atividade. Seus primeiros efeitos se deram em segmentos mais dependentes de crédito, como materiais de construção e varejo de veículos, que, como visto antes apenas no primeiro choque da pandemia, passaram a representar menos da metade das vendas das montadoras.

Já nos setores mais dependentes de renda, como supermercados, lojas de vestuário e mesmo serviços, onde a normalização de muitas atividades demorou mais tempo para acontecer, os impactos, por ora discretos, devem se tornar mais evidentes até o fim do ano. Isto é, não deve demorar muito para aparecer nos indicadores oficiais uma desaceleração que começa a ser capturada no monitoramento das transações em maquininhas de cartões de pagamentos. A tendência apontada por analistas é de a economia perder gradualmente ritmo até voltar ao terreno negativo entre o quarto trimestre deste ano e o primeiro de 2023. Com os efeitos acumulados e defasados do aperto monetário, o Produto Interno Bruto (PIB), no cenário considerado hoje mais provável, não deve conseguir segurar no início do próximo ano o ritmo de 2022. Antes mesmo disso, a taxa de desemprego deve começar a mostrar uma alta contida. A reação, se os prognósticos atuais estiverem corretos, será iniciada já no segundo trimestre, puxada pela perspectiva de estímulos ainda elevados.

Mesmo assim, os juros seguirão jogando contra a atividade por período prolongado, contribuindo para que o PIB cresça abaixo de seu potencial, entre 1,5% e 2%, nos dois primeiros anos do próximo governo. Todo esse cenário vai depender do que será sinalizado por quem vencer as eleições presidenciais de outubro a respeito da gestão das contas públicas. Enquanto um aumento dos gastos pelo próximo governo pode sustentar a atividade e exigir uma política monetária apertada por mais tempo para controlar a inflação, uma mensagem de compromisso com as reformas e estabilização da dívida pública ajudaria a derrubar os juros de longo prazo, aplicados nos financiamentos das empresas e no crédito imobiliário. Hoje, em termos nominais, economistas estimam a taxa neutra de juros em algo entre 7% e 8%. A avaliação é de que a Selic só voltará a esse patamar em 2024 ou 2025. A expectativa de início dos cortes da taxa vem sendo cada vez mais empurrada para o segundo semestre do ano que vem, dada a resistência, até aqui, da economia ao aperto monetário, além da perspectiva de os juros subirem mais nas economias desenvolvidas.

Os primeiros sinais de desaceleração da demanda já podem ser observados no varejo, refletindo o impacto da inflação sobre a renda e o encarecimento do custo de crédito. Segundo a Genial Investimentos, a partir do terceiro trimestre deste ano, os efeitos da política monetária contracionista começarão a ser capturados de maneira mais disseminada. As projeções apontam para desaceleração do PIB a partir do terceiro trimestre, com destaque para a desaceleração do consumo das famílias, que vem sendo um importante motor de crescimento pela ótica da demanda. Junto com bancos como o Bradesco, a Genial está entre as casas que preveem o fim das restrições monetárias apenas no segundo semestre de 2024. Economistas do Santander e do Banco Original trabalham com um horizonte ainda mais distante, com os juros se reencontrando com a taxa neutra apenas em 2025. Para o Banco Original, os serviços e o varejo restrito, como supermercados, vestuário, móveis e eletrodomésticos (ambos relativamente mais dependentes da renda), já sofrem alguma restrição dos juros.

Porém, a magnitude é menor se comparada a produtos mais vinculados a crédito, por conta da ampliação de programas sociais e da reabertura "atrasada" dos serviços presenciais. O efeito, por enquanto, fica entre metade e um terço do observado nos setores mais sensíveis ao crédito. O cenário do Original indica desaceleração do PIB a 0,3% no terceiro trimestre e uma queda de 0,5% da atividade já nos três últimos meses do ano. A economia deve permanecer praticamente estagnada na primeira metade de 2023, com crescimento trimestral de 0,1%, e começar a reagir apenas a partir do segundo semestre do ano que vem, com altas de 0,3% no terceiro trimestre e de 0,6% no quarto. Esse quadro é compatível com uma desaceleração do PIB a 0,2% no ano que vem, ante os 2,7% previstos para 2022, em um cenário que leva em conta juros de 13,75% no fim deste ano e de 11% no fim de 2023. Mas, a surpresa com a atividade no curto prazo ainda sugere uma assimetria para cima nas projeções. Não se observa um cenário desastroso para a atividade. É, inclusive, surpreendente.

Mesmo com os impactos da política monetária mais apertada, é esperado apenas um leve aumento do desemprego em 2023: de 8% no fim deste ano para a 8,5%. Apesar do freio monetário, o aumento dos gastos públicos defendido pelos dois líderes nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), também é um fator de assimetria para cima nas projeções de atividade. Segundo a Kínitro, com a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600,00 e das desonerações tributárias, trata-se de pelo menos 1% de piora do primário. E isso pode chegar até a 2,5% a depender das medidas adotadas, se houver aumento real de salário-mínimo ou reajuste de servidores. A previsão para o PIB é de 0,5% no ano que vem, mas, a depender do fiscal, pode ser 1% ou 1,5%. Esse quadro de atividade mais forte já incorpora uma política monetária contracionista por um período prolongado, uma vez que o cenário básico da gestora sugere juros de 13,75% no fim de 2022 e de 11,75% no fim de 2023.

À frente, a Kínitro espera relaxamento gradual da taxa Selic, a um nível próximo de 8% no fim de 2024, embora o cenário esteja sujeito às incertezas em torno da política fiscal. Uma política fiscal expansionista mantém a atividade mais forte, deixa o hiato do produto positivo (economia crescendo acima do potencial) e acaba afetando as decisões do Copom, que pode ter uma perspectiva de, ao menos, deixar o juro alto por mais tempo. O suporte fiscal à atividade também afasta a possibilidade de uma piora expressiva do mercado de trabalho, que atualmente já opera próximo da taxa de desemprego neutra. Se o hiato do emprego não fechou totalmente, está muito próximo de fechar, e dificilmente isso vai se reverter no ano que vem. A previsão para o desemprego é de 8,5% no fim de 2022 e entre 8,5% e 9,0% em 2023. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.