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23/Set/2022

Brasil: impacto do juro alto na demanda por crédito

O cenário de juros mais altos no Brasil por um intervalo maior de tempo pode reduzir o apetite de grandes empresas do País para a realização de investimentos, e isso pode se traduzir em menor crescimento da demanda por crédito. A percepção é de que em setores mais expostos aos ciclos econômicos de curto prazo, este efeito deve ser maior. Há impactos diretos, como o aumento do custo de capital, e indiretos, como o encolhimento da demanda e o aumento da inadimplência do consumidor. As duas pontas se juntam em uma equação especialmente importante em setores mais expostos aos ciclos econômicos. Segundo a agência de classificação de risco Fitch, em uma ferrovia, por exemplo, não se faz investimento olhando um ou dois anos: os aportes de mais longo prazo devem continuar acontecendo. Em negócios mais voláteis e dependentes do curto prazo, se há um grau relevante de incerteza, as empresas fazem investimento menor ou simplesmente postergam.

Um exemplo são empresas de varejo, um setor mais sensível à disponibilidade de renda da população, afetada pelos juros altos. Em obras de ferrovias ou energia, por exemplo, essa é uma preocupação menor e os financiamentos, em geral, adotam taxas de juros de longo prazo. Os dados do Banco Central mostram que o crédito às empresas no País tem sido puxado por necessidades de curto prazo. Em junho, por exemplo, os descontos de duplicatas e outros recebíveis cresceram 9,1% em relação a maio, acima dos 2,3% na carteira de recursos livres para pessoas jurídicas, em que a linha é contabilizada. Para o Bradesco, o endurecimento do discurso do Banco Central quanto aos juros leva parte do mercado a acreditar que a retomada dos grandes volumes não deve ser tão célere. A retomada em 2023 é menos provável e o Banco Central foi bem contundente de que não tem convicção do controle da inflação, não só para 2023, mas em 2024.

Segundo o Citi, nas maiores empresas, as necessidades de longo prazo foram supridas antes, justamente para evitar um cenário mais difícil. O capex (recurso para investimentos) de 2022, e provavelmente o de 2023, estão assegurados nas grandes empresas. Uma maior certeza sobre o cenário para o ano que vem poderia fazer com que as companhias já estivessem, neste momento, debruçadas sobre as necessidades de investimento para 2024. Entretanto, o compasso de espera também pode indicar confiança na atuação da autoridade monetária. Como a expectativa é de juros para baixo, todo mundo espera um momento de juro menor para se financiar. Desta forma, o endurecimento do discurso do Banco Central nas últimas semanas seria uma lembrança de que a prioridade é combater a inflação, e continuará sendo. Tanto quanto os indicativos do Copom, porém, as companhias estão de olho em outros elementos que também sugerem para onde vai a política monetária. O mais importante é a definição sobre a política fiscal a ser adotada a partir do ano que vem.

Há discussões sobre a agenda fiscal do próximo governo, seja ele qual for. As empresas vão aguardar a conclusão do pleito para entender a agenda do próximo governo. Além disso, mesmo com a deflação no curto prazo, os preços devem seguir alta em 2023. O boletim Focus, que compila as expectativas do mercado, indica projeção de IPCA em 5,01% no ano que vem, acima da meta de 3,25% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2023. A projeção para 2024 também sinaliza expectativa de estouro da meta. Há um processo inflacionário que ainda pesa, e talvez seja esse o fator que o Banco Central esteja olhando, afirma a Fitch. Este vai ser um fator crucial para estimar se a curva será mais lenta ou mais rápida em relação ao decréscimo. É um fator-chave que vai definir demanda, crédito e inadimplência. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.