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16/Set/2022

Crédito acessível para pequenos negócios agrícolas

Em julho deste ano, a pequena marca Ju Arléo Chocolates, do sul da Bahia, ficou em segundo lugar no concurso internacional da Academy of Chocolate com uma barra 70% cacau e mel de uruçu - abelha nativa da região. Por trás desse feito está uma família de cacauicultores que teve acesso facilitado a crédito para melhorar a produção sustentável e um grupo de investidores conscientes do impacto socioambiental desse dinheiro. A ligação entre essas pontas se deu por meio do primeiro Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) sustentável do País, lançado em 2021 pela ONG Tabôa. Esse instrumento financeiro é um título de investimento, de renda fixa, que nesse caso foi criado especificamente para atender a cadeia do cacau naquela parte do Estado. Desenhada em parceria com o Grupo Gaia e os institutos Arapyaú e Humanize, a operação somou em torno de R$ 1,37 milhão e beneficiou 184 agricultores. Eles pegaram, em média, R$ 7 mil e, depois de um ano, obtiveram uma melhora de 38,9% na renda média. Lucas Arléo, terceira geração de produtores de cacau na Fazenda Santa Rita, em Ilhéus, foi um dos beneficiados.

A filha dele, Julia, hoje com 10 anos de idade, foi quem idealizou a marca destacada na premiação. O agricultor investiu o valor na compra de uma estufa para aprimorar a etapa de secagem das amêndoas, principalmente as especiais, que têm qualidade superior e são vendidas a preço mais alto. Arléo vinha aprimorando a qualidade das amêndoas com o apoio do Centro de Inovação do Cacau e do Sebrae, mas alguns desafios faziam com que elas fossem perdidas. Tradicionalmente, a secagem é feita a céu aberto. Nos horários de pico do sol, a estrutura deve ser coberta para evitar queimar as amêndoas. Por outro lado, em períodos chuvosos, o processo pode ser comprometido e elas podem mofar. A estufa era uma demanda importante que foi atendida pelo crédito. Com o equipamento, o volume de cacau especial aumentou e a rentabilidade cresceu 30%. Isso permitiu novos investimentos na fazenda, como na renovação do plantio e melhora na condição de vida dos colaboradores (reformando as casas deles). Todo esse trabalho é realizado no ecossistema sustentável da cabruca, em que os cacaueiros são plantados sob a copa de árvores da Mata Atlântica, o que preserva a flora nativa.

Pesquisa realizada em abril de 2021 pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural mostrou que 38% dos 4,3 mil produtores rurais entrevistados nunca contrataram crédito rural. Lidar com os bancos tradicionais é um desafio: excesso de burocracia, demora na liberação de crédito e garantias exigidas são algumas das dificuldades que eles enfrentam. Na busca por um cenário mais sustentável, o Grupo Gaia atua com negócios de impacto socioambiental. Por meio de parcerias, a empresa cria instrumentos de captação de investimento com taxa de juros diferenciada (próxima ou abaixo da taxa Selic). O dinheiro vem de investidores que são convencidos a investir e ganhar menos, mas fazendo grande impacto. Observa-se, cada vez mais, uma demanda por investimentos com propósito. Entre uma empresa que gera mais resultados financeiros, mas não se preocupa com questões ambientais, sociais e de governança (ESG), o investidor consciente aposta numa rentabilidade menor que fomenta ações sustentáveis.

Nessa toada, o Programa de Financiamento Popular da Agricultura Familiar para Produção de Alimentos Saudáveis (Finapop) nasce para unir pessoas interessadas em investimentos de impacto e cooperativas de produção agrícola sem incentivos financeiros. O primeiro passo é identificar quais cooperativas têm condições de executar os projetos. Plano de negócio, tipo de mercado e forma de organização são pontos analisados. É preciso fazer um acompanhamento próximo desses recursos para não inviabilizar a cooperativa, não ter inadimplência nem endividamento. Um dos títulos sustentáveis formulados com o Grupo Gaia teve como destino cooperativas e agricultores familiares. O instrumento recebeu investimento de 1,5 mil pessoas físicas, que podiam começar com R$ 100,00, sendo que o valor total da operação ficou em R$ 17,5 milhões. O desafio é montar boas operações e criar caminhos para o negócio começar a ganhar escala. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.