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14/Set/2022

Insegurança alimentar e desperdício de alimentos

Em tempos de crescente fome e insegurança alimentar no Brasil e no mundo, é perturbadora a estimativa de que um terço dos alimentos anualmente produzidos no planeta se perde ou é desperdiçado. O dado foi divulgado pelo Boston Consulting Group, consultoria internacional que prevê o agravamento do problema nos próximos anos. A projeção é que o mundo chegará a 2030 deixando de aproveitar 2,1 bilhões de toneladas de alimentos por ano, o que significa dizer que tamanha quantidade de carnes e vegetais de todo tipo vai simplesmente apodrecer ou ser jogada fora, em vez de alimentar a população global. Impossível não pensar em outra estimativa, tão ou mais assustadora, recentemente divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU): até 828 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial, enfrentaram privação alimentar no ano passado, ou seja, passaram fome. A situação agravou-se em decorrência da pandemia de Covid-19 e, atualmente, sofre também os efeitos da guerra na Ucrânia.

Vale lembrar que outros 2,3 bilhões de pessoas (29,3% da população global), conforme a ONU, viviam a chamada insegurança alimentar, isto é, tinham que lidar com incertezas a respeito de sua capacidade de obter comida, o que é sinônimo de redução da quantidade e da qualidade dos alimentos ingeridos. É nesse cenário que as projeções do Boston Consulting Group se tornam ainda mais aterradoras. Para ter ideia do que representam 2,1 bilhões de toneladas de alimentos (a quantidade que deverá ser perdida em 2030 no mundo), basta dizer que toda a produção de grãos no Brasil, na atual safra, deve chegar a 271 milhões de toneladas ou 13% disso. A consultoria estima também que o prejuízo financeiro atingirá US$ 1,5 trilhão em 2030. De novo, a título de comparação, vale registrar que tal cifra corresponde a quase todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Não resta dúvida de que a diminuição das perdas e do desperdício de alimentos envolve uma questão humanitária.

É assombroso, para dizer o mínimo, pensar que milhões de pessoas estão passando fome neste exato instante, enquanto toneladas de comida se perdem pelo caminho ou vão parar no lixo. Há também uma série de questões econômicas, logísticas, ambientais e de hábitos de consumo sobre as quais o Boston Consulting Group se debruçou, e para as quais há soluções ou recomendações que vale a pena conhecer. A consultoria faz uma clara distinção entre perdas de alimentos e desperdício, e estima que aproximadamente metade da comida descartada é de frutas e legumes. A cadeia produtiva da maçã é citada como exemplo: para cada 10 milhões de maçãs, 13% se perdem no próprio processo de produção; 6%, no armazenamento, manuseio e transporte; 1%, no processamento e embalagem; 6%, na distribuição e no varejo; e 8% delas são desperdiçadas pelos consumidores finais, totalizando 34% de perdas. Em resumo, de cada 10 milhões de maçãs, 3,4 milhões ficam pelo caminho ou são jogadas no lixo.

O estudo destaca que é possível reduzir esses índices, a ponto de cortar o prejuízo financeiro quase pela metade, o que permitiria economizar US$ 700 bilhões ao ano. A mobilização nesse sentido precisa envolver governos, produtores rurais, empresas, consumidores e a sociedade em geral. Há muito a ser feito, seja do ponto de vista macro ou micro. Na Amazônia, por exemplo, o relatório estima que 3% dos peixes acabam sendo descartados por causa de deficiências no transporte. Colheitas prematuras também geram perdas, assim como o estímulo para que clientes em bufês se sirvam de porções maiores do que realmente vão comer. Uma das recomendações é justamente aumentar a conscientização dos consumidores, assim como criar mecanismos regulatórios ou fiscais para desencorajar perdas e desperdícios. Enfim, a lista é longa, e é preciso agir com rapidez. É inaceitável que o mundo abra mão dos alimentos que produz em meio a tanta gente que não tem o que comer. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.