ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

26/Ago/2022

Transição energética global para fontes renováveis

Dentre os diversos dilemas que a guerra da Rússia contra a Ucrânia intensifica, a dependência das fontes fósseis de energia e a almejada transição energética para fontes renováveis merece extrema atenção. Em agosto de 2021 o barril de petróleo custava, em média, US$ 70,00 atingiu US$ 120,00 em março de 2022 e chega a US$ 94,00 em agosto de 2022. A escalada do preço da gasolina, diesel e combustível de aviação gera, além de inflação, movimentos políticos voltados para controlar o preço dos combustíveis, o que tende a ser ineficaz no longo prazo. Na Europa, o gás natural está oito vezes mais caro do que no último verão. Como mostra a matéria da revista The Economist de agosto, uma família no Reino Unido poderá pagar mais de US$ 4.200,00 por ano pela energia a partir de outubro de 2022, o que significa mais de três vezes o valor do ano anterior, o que aquece uma inflação que pode passar de 13% antes do final do ano, de acordo com o Bank of England.

A possibilidade de os países terem acesso a diferentes fontes de energia mostra que a agenda energética é uma pauta estratégica e de segurança nacional. Em linha com a segurança alimentar, a segurança energética se insere entre os temas prioritários para todos os países. O fato de que 2,4 bilhões de pessoas ainda dependem de lenha ou outras formas ineficientes e poluentes para cozinhar e que 733 milhões de pessoas não têm acesso à energia elétrica básica salta aos olhos. Isso mostra que a meta de garantir acesso confiável, sustentável, moderno e a preços acessíveis à energia para todos até 2030 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável - ODS 7) dificilmente será alcançada. O setor de energia (elétrica, transporte, indústria, outros setores) é o que mais contribui para o aquecimento global, representando 76% das emissões de gases de efeito estufa em 2019, de acordo com dados da Climate Watch.

No Acordo de Paris, todos os países consideram adotar ações para reduzir a dependência de energias fósseis, financiar a geração de renováveis e investir em eficiência energética. Os impactos da pandemia de Covid-19 motivaram a queda na demanda por energia em 2020, o que gerou uma redução de 5,1% nas emissões globais de CO². Em 2021, a retomada ainda tímida da economia fez com que as emissões globais de CO² da combustão de energia e processos industriais atingissem seu nível anual mais alto (36,3 gigas toneladas - Gt), 6% acima do registrado em 2020, de acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia. Os efeitos da guerra sobre a produção, o acesso e o preço das diferentes fontes de energia exigem refletir sobre estratégias para estimular investimentos que permitam construir uma transição energética sustentada, que priorizem a diversificação das fontes de energia e, preferencialmente, contribuam significativamente para reduzir emissões de GEEs.

O caso do Brasil ajuda a compreender a importância de estimular uma cesta de diferentes fontes de energia. A queda da oferta de energia hidráulica, associada à escassez hídrica e ao acionamento das usinas termelétricas, gerou uma redução da participação das renováveis na matriz energética entre 2012 e 2014. A partir de 2015, as fontes renováveis voltaram a crescer com a expansão das ofertas de derivados da cana-de-açúcar, eólica e biodiesel, atingindo 48,5% em 2020. Em 2021, a escassez hídrica derrubou a participação das renováveis para 44,7%. Comparado aos 11,5% de energias renováveis dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e 14% da média mundial, o Brasil ostenta uma posição de destaque quando se trata de fontes renováveis. Dentre as estratégias do Brasil no Acordo de Paris, espera-se alcançar entre 45% e 50% de fontes renováveis na matriz energética em 2030.

É fundamental para o desenvolvimento do País estimular o crescimento das fontes renováveis para geração de energia elétrica, para reduzir cada vez mais a dependência de fósseis na matriz de transporte e, dessa forma, permitir que os setores industriais, de serviços e agropecuária acessem energia limpa a preços competitivos. A movimentação em torno do hidrogênio verde (H2) como combustível renovável se torna uma realidade e abre espaço para potencializar as fontes renováveis necessárias para sua produção (eólica, solar, biomassa, biogás) e para gerar H2 para diversos usos. Exemplo típico de ganha-ganha, ainda mais se for possível considerar a geração de créditos de carbono associado a certos projetos. Carros e caminhões com célula a combustível tendo o etanol como base, produção de aço verde, substituição do gás de cozinha, navios e aviões, fertilizantes verdes, aquecimento de edifícios, dentre inúmeros outros usos podem se beneficiar do H2 verde.

Além disso, a exportação de H2 verde deverá ser um mercado crescente diante das metas de descarbonização, o que pode impulsionar projetos no Brasil. O crescimento da energia eólica e solar nos últimos anos também merece destaque na matriz brasileira, especialmente porque permite levar energia renovável a preços competitivos, gerar novos negócios e empregos. A Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) é outro trilho estratégico que permite fomentar investimentos em vários biocombustíveis tendo a precificação de carbono como diferencial. Além do etanol de cana-de-açúcar, o Brasil produz etanol de milho no Centro-Oeste, o que permite abastecer a Região Norte e Nordeste. O biodiesel de soja, sebo e outras fontes contribui para reduzir a dependência do diesel importado e contribui para reduzir emissões.

A produção de biogás e biometano com o tratamento de dejetos de vários setores também impulsiona a geração de energia renovável ao passo que dá destinação a resíduos, exemplo de economia circular. Financiar investimentos em fontes renováveis é custoso e requer, em certos casos, pesados subsídios públicos. A onda ASG (ambiental, social e governança) se mostra essencial no cenário da guerra, pois sem maciços investimentos para financiar a transição energética para diversas fontes renováveis não é factível esperar que os países mais dependentes das fontes fósseis consigam trilhar um caminho para diversificar suas fontes de energia. A guerra em curso tornou a dependência global de fontes de energia fósseis insustentável, não só sob a ótica ambiental, mas também socioeconômica e de segurança nacional. Acelerar o estímulo a fontes renováveis de energia tornou-se uma pré-condição para a segurança energética, além de contribuir para a mitigação da maior fonte global de emissões de GEEs. Fonte: Rodrigo C. A. Broadcast Agro.