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23/Ago/2022

Clima: secas abalam os países do Hemisfério Norte

Secas severas em todo o Hemisfério Norte, que se estendem das fazendas da Califórnia a hidrovias na Europa e na China, estão prejudicando ainda mais as cadeias de suprimentos, além de elevar os preços dos alimentos e da energia, pressionando um sistema de comércio global já estressado. Algumas regiões da China estão enfrentando sua mais longa onda de calor desde os primeiros registros em 1961, de acordo com o Centro Nacional do Clima da China, levando a paralisações de fábricas devido à falta de energia hidrelétrica. A seca que afeta Espanha, Portugal, França e Itália está a caminho de ser a pior em 500 anos, de acordo o Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia. No oeste dos Estados Unidos, uma seca que teve início há duas décadas parece ter atingido agora seu nível mais crítico em 1.200 anos, de acordo com um estudo liderado pela Universidade da Califórnia. Os pesquisadores comparam as secas pela medição do crescimento anual dos anéis de árvores, o que reflete a precipitação e a temperatura ano a ano em áreas específicas.

Cientistas do clima dizem que os períodos de seca deste ano se devem em parte ao La Niña, um padrão cíclico de água mais fria no leste do Oceano Pacífico que empurra as correntes de jato para o norte, escasseando as chuvas em partes da Europa, Estados Unidos e Ásia. As Nações Unidas afirmam que o número de secas em todo o mundo aumentou 29% desde 2000 por causa da degradação do solo e das mudanças climáticas. Para algumas das maiores economias do mundo, as secas deste verão estão afetando setores como geração de eletricidade, agricultura, manufatura e turismo. Isso está agravando as tensões atuais, como as interrupções na cadeia de suprimentos decorrentes da pandemia de Covid-19 e a pressão sobre os preços de energia e alimentos devido à guerra na Ucrânia. Nos Estados Unidos, analistas agrícolas preveem que os agricultores percam mais de 40% da safra de algodão, enquanto na Europa a colheita do azeite espanhol deve cair até um terço em meio a condições quentes e secas.

Na Europa, rios como o Reno e o Pó, na Itália, que servem como vias para o comércio, estão em seus níveis mínimos históricos, forçando os fabricantes a reduzir os embarques. A queda do nível dos rios também reduziu a geração de energia hidrelétrica em todo o continente, afetando uma fonte alternativa importante ao gás natural, que apresenta menor oferta à medida que a Rússia reduz seu fluxo. O calor forçou a França a reduzir a produção de vários reatores nucleares, pois a água do rio que os resfria está muito quente. E a Alemanha, o maior consumidor de gás russo da Europa, planeja queimar mais carvão em vez de gás para gerar eletricidade, porém o baixo nível do rio Reno está impedindo os embarques. A escassa queda de neve na nascente do rio dos Alpes Suíços e a redução das chuvas a jusante reduziram o fluxo de água no Delta do Reno, na Holanda. Isso permitiu que a água do mar entrasse no sistema de eclusas e barragens do país, retardando o tráfego fluvial e infiltrando-se em reservatórios usados para bebida e agricultura.

A seca está ressecando e enfraquecendo os diques de terra que protegem as áreas baixas da Holanda do Mar do Norte. Apenas 28 cm de chuva caíram em grande parte do país este ano, no início de agosto, em comparação com os 40 cm habituais, deixando o Reno tão baixo em alguns trechos que está prejudicando as exportações de fabricantes alemães agrupados rio acima. Um tema recorrente é o de que tudo isto está prejudicando a Alemanha mais do que qualquer outro lugar, segundo a Capital Economics. Nos Estados Unidos, camadas de neve menores nas montanhas de Sierra Nevada, na Califórnia, reduziram drasticamente o abastecimento de água na região, que abriga a maior indústria agrícola do país. Autoridades do Westlands Water District, no Central Valley, a região agrícola mais importante do estado, dizem que cerca de um terço dos 243.000 hectares de terras agrícolas estão sendo deixados sem plantio este ano por causa da escassez de água.

O Rio Colorado está tão seco que, em 16 de agosto, o Bureau of Reclamation dos Estados Unidos declarou a segunda escassez anual consecutiva, desencadeando um segundo ano subsequente de cortes mandatórios de água no Arizona, Nevada e México. No condado de Yuma, no Arizona, grande produtor de alface, verduras e outras hortaliças, os agricultores antecipam um impacto de até 10% em sua indústria de US$ 3,4 bilhões anuais. É um sinal de menor renda na região. Significa menos compras e vendas. No centro e no sudoeste da China, as autoridades declararam seca em seis jurisdições de nível provincial, que juntas responderam por um quarto da produção de grãos da China no ano passado. A província de Sichuan, no sudoeste do país, foi a mais atingida pela redução das chuvas, pois ela depende muito da energia hidrelétrica para a produção de eletricidade.

As altas temperaturas aumentaram a demanda por ar-condicionado, ameaçando sobrecarregar a rede elétrica. No domingo (21/08), as autoridades locais acionaram a maior resposta de emergência em meio à crise no fornecimento de energia, estendendo um pedido da semana passada a muitas fábricas para fechar ou reduzir a produção para deixar eletricidade para os moradores até quinta-feira (25/08), quando as temperaturas devem cair novamente. As restrições, embora limitadas, afetaram vários fabricantes globais, como a fabricante de dispositivos da Apple Inc. Foxconn Technology Co. Ltd., a Volkswagen AG e a Toyota Motor Corp., bem como fabricantes de sais de lítio, fertilizantes e equipamentos fotovoltaicos com unidades de produção em Sichuan. A Tesla Inc. pediu ao governo de Xangai para ajudar a garantir que seus fornecedores tenham fornecimento de eletricidade suficiente em meio a uma crise de energia, dizendo que 16 deles não conseguiram produzir com capacidade total, de acordo com uma carta ao governo e fontes familiarizadas com o assunto.

Os níveis de água ao longo de alguns trechos do Yangtze, o rio mais longo da China e uma fonte crucial de energia hidrelétrica, transporte e água para as plantações, caíram para seu menor nível desde o início das medições, de acordo com o Ministério de Recursos Hídricos da China. Em Hankou, cidade chinesa central de Wuhan, os níveis de água na quinta-feira (18/08) atingiram o equivalente a cerca de 5 metros, menos da metade da média histórica, de acordo com a Administração de Segurança Marítima do Yangtze. Cientistas climáticos norte-americanos e europeus dizem que o aquecimento global ampliou a gravidade do efeito do La Niña. Uma atmosfera mais quente retira mais umidade do solo, aumentando o risco de seca, segundo o Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas em Boulder, Colorado.

Os episódios do La Niña geralmente duram de 9 a 12 meses, mas o atual está em seu segundo ano e deve durar até pelo menos fevereiro de 2023, de acordo com um comunicado recente emitido pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. O impacto da seca prolongada e das ondas de calor em setores como turismo, manufatura e agricultura pode se tornar um obstáculo de longo prazo para as classificações de crédito dos governos do sul da Europa, segundo a Moody's Investors Service. O último relatório de ciência climática da ONU diz que o aquecimento global aumentou o risco de seca em toda a região do Mediterrâneo. Se se tornar uma regra que os meses de julho e agosto sejam insuportáveis em partes da Europa, então as empresas e as pessoas provavelmente reagirão. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.