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19/Ago/2022

Recessão global poderá afetar o mercado de grãos

O Brasil é um dos maiores produtores de grãos do mundo, com suas safras crescendo ano a ano, por meio de ganhos de produtividade, além da incorporação de novas áreas. No caso da ampliação da área plantada, o País tem uma grande vantagem, por contar com porções de terra que podem ser convertidas para a agricultura sem a necessidade de avançar sobre vegetação nativa. A produção de milho 2021/2022 caminha para alcançar um recorde, 121,6 milhões de toneladas, conforme a mais recente estimativa da consultoria StoneX, refletindo a recuperação da 2ª safra de 2022, que também configura um recorde nesse ciclo, ficando em 93 milhões de toneladas. No caso da soja, houve quebra no ciclo 2021/2022, devido ao clima seco que predominou no Sul do Brasil. Contudo, o primeiro número da StoneX para a safra 2022/2023 indica que a produção da oleaginosa pode superar 150 milhões de toneladas. De qualquer forma, pelo lado da oferta, o clima desempenha um papel central, podendo frustrar as expectativas para uma safra ou contribuir para anos de produção excepcional.

Assim, por mais que a tendência seja de aumento da produção brasileira de soja e milho, há períodos em que essa trajetória é interrompida por questões climáticas que afetam as lavouras. A demanda, por sua vez, também apresenta perspectiva de crescimento, mas de uma forma mais "previsível", não sofrendo a influência direta de um fator exógeno como o clima. O avanço do consumo de grãos está relacionado, em grande medida, ao aumento da população e da renda. Os hábitos alimentares entre as pessoas de maior renda tendem a ser mais variados, incluindo uma maior proporção de proteína animal, o que afeta diretamente a procura por ração e, consequentemente, por grãos. Adicionalmente, o setor de biocombustíveis tem reforçado o consumo de soja e milho desde a década de 2000, com vários países adotando políticas de incentivo ao uso de substitutos aos carburantes fósseis. Essa situação pode ser observada no Brasil, com o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), além da mistura de etanol na gasolina e o uso direto do etanol hidratado nos carros flex.

Mais recentemente, tem crescido também a produção de álcool a partir do milho, bastante concentrada no estado de Mato Grosso, que costumava ver os preços do cereal derreterem na entrada da safrinha no mercado. Em vista desse comportamento mais "previsível" da demanda, a possibilidade de uma desaceleração do nível de atividade ou mesmo de uma recessão ao redor do mundo têm afetado negativamente os mercados. Os bancos centrais estão elevando as taxas de juros como forma de controlar a aceleração dos preços, situação que tende a frear também o crescimento econômico. Quanto aos impactos de um crescimento menor ou mesmo de uma recessão sobre os mercados de soja e milho, é importante destacar que o consumo dos grãos relacionado à alimentação apresenta uma resistência maior a quedas potenciais na renda das famílias, com momentos de crise levando as pessoas a buscarem proteínas mais baratas e não simplesmente a deixar de consumi-las. Por outro lado, o uso dessas commodities para a produção de biocombustíveis tende a sofrer impactos mais claros e imediatos.

Além disso, como o cenário atual permanece sendo de inflação dos preços, a demanda de grãos para a produção de biocombustíveis pode ser influenciada também por eventuais decisões governamentais que afetem os setores. Como exemplo, tem-se a redução da mistura de biodiesel no diesel para 10% neste ano, aqui no Brasil. Outro ponto que não podemos nos esquecer e que tende a afetar negativamente a agricultura em geral é que as medidas de aperto monetário ao redor do mundo afetam o preço do crédito, tornando o investimento nas lavouras mais custoso. Atualmente, com a Selic em 13,75% ao ano, o Brasil lidera o ranking global de juros reais. Assim, por mais que o Brasil deva continuar sendo um dos protagonistas do mercado de grãos, a possibilidade de uma estagflação (combinação de inflação elevada com baixo crescimento) deve trazer impactos negativos, principalmente para a demanda, mas que acaba repercutindo também sobre a oferta, uma vez que as duas "forças" tendem a se equilibrar por meio do mecanismo de preços. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.